“Foi no Linda-a-Velha que aprendi o que era futebol distrital”

Bernardo Ribolhos – ou Benny como é mais conhecido – nasceu a 3 de Fevereiro de 1993 e foi em Carnaxide que deu os primeiros toques numa bola de Futebol. Das poucas memórias que tem da infância é de ver em casa, com o pai, a final do Mundial de 1998. Aos 7 anos ingressou no Clube de Futebol os Belenenses, onde fez toda a sua formação. Na altura, olhava com admiração para jogadores como Alessandro Nesta, Steven Gerrard e Paulo Sousa. Aos 18 anos, abandonou o clube para se iniciar no futebol sénior tendo representado clubes como o Real Sport Club ou o Sporting Clube de Linda- a-Velha – clube da sua actual área de residência. Pelo caminho foi também surgindo o gosto pela formação. Em 2017, regressou à ‘casa’ que o formou, o Belenenses, onde actualmente joga e treina a equipa de Sub-13.

Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – Em 2012 iniciou a carreira enquanto jogador sénior ao serviço do Real Sport Clube, de Queluz. Como foi este arranque? 

Bernardo Ribolhos (BR) – Uma das passagens mais difíceis no Futebol é a transição da formação para o futebol sénior. Deixamos de competir com pessoas da nossa idade e passamos a competir com pessoas que têm praticamente idade para ser nossos pais. Felizmente correu tudo bem e consegui adaptar-me mas muitos jogadores não o conseguem fazer e acabam por abandonar o desporto nesta altura. Uma das pessoas que mais me ajudou nesta transição foi um dos capitães de equipa da altura, o David Rosa, que actualmente joga na Segunda Liga pelo Casa Pia. Durante a temporada tive uma lesão grave que me impossibilitou de jogar e alterou algumas dinâmicas do meu dia-a-dia, como a capacidade de conduzir. Durante esse período ele foi buscar-me a casa todos os dias para me levar aos tratamentos. Isso marcou-me.

CL – Teve uma passagem pelo futebol norueguês. Como foi essa experiência?

BR– Depois de uma passagem pelo Marítimo, na Madeira, assinei em 2015 o meu primeiro contrato profissional pelo Kongsvinger IL, um clube que estava, então, na Segunda Divisão Norueguesa de Futebol. Ao início foi um choque porque em Portugal há sol durante grande parte do dia, e na Noruega às 16h00 já é de noite. A nível desportivo, individualmente, as coisas não me correram muito bem, pois estive algum tempo lesionado, o que me impossibilitou de contribuir em alguns jogos. Porém, enquanto colectivo, conseguimos a subida de divisão, que era o nosso objetivo. 

CL – Esteve três anos ao serviço do Sporting Clube de Linda-a-Velha (entre 2015 e 2018)…

BR– Quando voltei da Noruega, surgiu a hipótese de jogar no campeonato de Portugal (Terceira Divisão nacional) no Elétrico de Ponte de Sor, no Alentejo. Esta experiência não correu como esperava, pelo que voltei para ‘casa’ depois de quase dois anos fora. Mas a vontade de jogar manteve-se. Na altura vivia em Carnaxide e conhecia bem o treinador do Linda-a-velha, pelo que optei por jogar junto da minha área de residência. Na altura, o clube alcançou o quinto lugar na Pro Nacional, a melhor classificação de sempre. Até então, só conhecia a realidade do Futebol a nível nacional, portanto foi no Linda-a-Velha que aprendi o que era o Futebol distrital. Além disso, éramos um grupo muito unido. Levo dali amizades para a vida.

CL – Em 2018 regressou ao Belenenses, onde assumiu desde logo a responsabilidade de ser capitão de equipa… 

BR– Em 2018, devido às divergências entre o clube e a SAD, o clube viu-se obrigado a criar uma equipa para começar na última divisão distrital. Então, os dirigentes procuraram formar uma equipa com jogadores que tivessem alguma ligação ao clube e eu contava com 12 anos de Belenenses.

Enquanto equipa assumimos a responsabilidade de levar o clube de volta à Primeira Liga, patamar onde merece estar. Ser capitão desta equipa, para além de ser uma honra e uma enorme responsabilidade, é também a forma que tenho de agradecer ao clube por me ter formado enquanto atleta e por me ter transmitido valores humanos. O Belenenses foi o meu primeiro clube e será o meu último.

CL – Como é que se define enquanto jogador?

BR– Gosto de ler e interpretar o jogo. A posição onde jogo (médio centro defensivo) permite-me perceber e identificar aquilo que se passa no jogo em todos os momentos e isso é fascinante.

CL – Há quatro anos que também dá formação no Belenenses. O que procura transmitir nos treinos?

BR – Enquanto treinador da formação procuro transmitir os valores e princípios que o clube me transmitiu quando era mais novo e que tanto me fizeram crescer enquanto atleta e homem. Valores de entrega, união e trabalho de equipa. Mas, acima de tudo, procuro passar a paixão que tenho pelo jogo. 

CL – A formação está nos planos?

BR– Sim, está. A curto/médio prazo vou seguir a carreira de treinador de futebol. Neste momento consigo fazer as duas coisas, mas em breve quero apostar somente em ser treinador.

CL – Paralelamente ao Futebol foi mantendo os estudos?

BR – Quando fui para o Marítimo tive de fazer uma pausa nos estudos. Na altura estava a terminar o primeiro ano do curso de Ciência do Desporto, na Faculdade de Motricidade Humana. Depois de regressar do Alentejo voltei aos estudos, mas ainda não consegui terminá-los.

CL – Como reagiram os seus pais?

BR – Os meus pais sempre me deixaram à-vontade relativamente às minhas opções. Na altura em que fiz a pausa fizeram-me prometer que iria acabar o curso mais tarde. Tenciono cumprir essa promessa. No próximo ano vou voltar aos estudos.

CL – Para apoiar no combate à Covid-19 os jogadores da equipa de futebol do Belenenses tomaram a decisão de doar parte do seu ordenado. Como surgiu esta ideia?

BR – A ideia surgiu dentro do grupo de trabalho. Os capitães falaram com o Director Desportivo e surgiu essa vontade de ajudar quem mais precisava. De seguida passámos a ideia ao restante plantel, que depressa alinhou e conseguimos doar 1/3 do nosso ordenado ao clube para que este ajudasse quem estava na linha da frente. No total foram doados 5.000 euros.

CL – Destaque um momento na carreira enquanto jogador.

BR – Nos últimos anos tivemos alguns momentos fantásticos nesta caminhada do Belenenses. São vários os momentos que ficarão guardados para sempre na minha memória, mas a ter que escolher um escolheria o jogo na Amadora contra o Estrela a 6 de Janeiro de 2019, em que estiveram na bancada cerca de 7 mil pessoas, num estádio José Gomes completamente cheio, fazendo lembrar jogos da Primeira Liga.

CL – Onde se vê daqui a cinco anos?

BR – Há cinco anos, quando estava na Noruega, nunca imaginei que hoje estivesse a representar o Clube Futebol ‘Os Belenenses’ na sua equipa sénior, algo que sonhava desde criança. Daqui a cinco anos, espero que todos os restantes sonhos se realizem, vamos ter que esperar ate lá!

CL – Um conselho para quem quer seguir a carreira de jogador de Futebol?

BR– O Futebol não são só as coisas boas que lemos ou vemos na Televisão. É um mundo de trabalho em que temos que estar preparados para tudo. Costuma dizer-se que é necessário uma ponta de sorte para conseguirmos chegar ao patamar que queremos, mas eu acredito que essa sorte dá muito trabalho. Portanto, a todas as crianças e adolescentes que querem seguir a carreira de jogador, o meu conselho é: trabalhar sempre ao máximo todos os dias, porque no dia em que a vossa oportunidade chegar vão estar preparados.

Autor: Raquel Luís

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