Joana Baptista: “A nossa afirmação é feita com trabalho”

Joana Baptista nasceu em Abril de 1980 na Maternidade de Oeiras e cresceu em Porto Salvo, onde os seus pais têm residência, até aos 26 anos. Um Porto Salvo que, refere, era muito diferente do que se conhece hoje, já que junto da quinta onde vivia só havia campos de cultivo de trigo e centeio, vendo-se ao fundo, no lado poente, a Ribeira da Lage.

A vereadora da Câmara Municipal de Oeiras (CMO), responsável pelos pelouros das Obras Municipais, Ambiente e Serviços Urbanos, Divisão Administrativa e de Contraordenações e pelo Departamento de Polícia Municipal e Protecção Civil, sente falta da vivência no campo e pretende retornar a Porto Salvo para suprir essa falta, já que nesta zona é possível sentir a ruralidade, apesar de estarmos muito perto da cidade.

Joana Baptista frequentou a Escola Primária de Porto Salvo, “onde foi muito feliz” e tem as melhores recordações dos colegas e dos professores. “Ficava muito triste quando por qualquer razão não havia aulas”, recorda. Transitou depois para a Escola Preparatória de São Julião da Barra e frequentou o ensino secundário na Escola Aquilino Ribeiro, em Talaíde, antes de se formar em Direito.

No âmbito das entrevistas que temos vindo a realizar com pessoas que se destacam pela sua forma de estar na vida ou no desempenho das suas funções, o jornal ‘O Correio da Linha’ falou com a vereadora da CMO.

Correio da Linha – Vivendo numa quinta onde havia animais como era a sua relação com isso?

Joana Baptista – Na quinta havia cães, gatos, galinhas, ganços, porcos, vacas e cavalos. Porto Salvo era conhecido pela criação de gado bovino e os meus avós eram fornecedores de leite e queijo fresco, que hoje já não se encontra. É muito agradável para mim recordar esta vivência. Os animais sempre fizeram parte da vida da minha família e as reuniões de família ainda hoje passam pelos cavalos. O meu pai tenta que os meus filhos, apesar de ainda serem pequenos, sejam uns apaixonados pelos cavalos e da Atrelagem de Tradição, que é algo que existe muito na Europa, em Espanha tem uma grande tradição. Oeiras em 2008 acolheu um Concurso de Atrelagem de Tradição, que muito enalteceu o centro histórico e o Palácio Marquês de Pombal e que ficou na memória de espanhóis e franceses, de tal forma que na última prova em que estivemos presentes perguntaram “quando é que o Marquês de Pombal nos recebe novamente”.

CL – Formou-se em Direito, que não parece ter a ver com o ambiente em que foi criada. Nunca pensou, por exemplo, seguir Veterinária ou algo ligado ao Ambiente?

JB – Gosto muito de animais. Neste momento estou a construir uma casa e assim que estiver pronta quero ter animais. Sabe que em Porto Salvo fizeram-se durante muitos anos, integradas nas festas de Nossa Senhora de Porto Salvo, as Cavalhadas? Eu participava sempre nestas festividades e frequentei o Centro Hípico de Leião, que já não existe, mas seguir um percurso profissional ligado aos animais nunca esteve na minha mente. Curiosamente, a área profissional que sempre me atraiu foi a aviação comercial, mas na transição do nono para o décimo ano, eu ganhei simpatia pela área das Humanidades e entendi que o curso de Direito dava um leque de opções que permitiam decidir o que fazer.

CL – Tem alguma explicação para ter feito essa opção?

JB – Há coisas que não têm explicação, mas o meu percurso sempre passou pela Câmara Municipal de Oeiras, isto porque o meu pai é funcionário da autarquia e eu, desde criança, frequentei os corredores da Câmara. Basta dizer que com apenas dois meses estive no almoço do 7 de Junho e desde criança que participei nos tempos livres da Câmara, talvez isso tenha causado influência.

Quando acabei o curso esta ligação continuou, o meu primeiro trabalho foi na Câmara, em 2004, por via dos estágios de aperfeiçoamento profissional, que acolhiam dezenas de recém-licenciados e que resultaram num contributo decisivo para mim, como profissional, foi um ano de muito trabalho, muita disciplina, um enorme desafio no âmbito do relacionamento interpessoal que tive que criar, porque quando saímos da universidade saltamos para um abismo, que é o mercado de trabalho, e ninguém nos prepara para essa vivência. Fui colocada nos serviços de finanças de Paço de Arcos e consegui conciliar esse estágio com o da Ordem dos Advogados.

CL – Depois do estágio foi fácil conseguir colocação?

JB – Em 2006, entrei para o Gabinete Jurídico da Câmara, onde gostei muito de estar, foi uma aprendizagem fantástica, já que o gabinete dá apoio a todos os serviços da Câmara, em áreas tão diversas como o Desporto, a Cultura ou o Ambiente. Em 2008, tive um grande convite do Presidente da autarquia, Isaltino Morais, para coordenar a área administrativa na Polícia Municipal. Foi mergulhar num mundo muito diferente, porque, ainda que seja um serviço municipal, é muito distinto, direi verdadeiramente atípico do ponto de vista da cultura organizacional, não só porque está deslocalizado, mas também pela natureza das funções. O ambiente que se vive naquele serviço é diferente dos demais serviços camarários, estamos a falar de uma autoridade administrativa.

Foi mais uma grande aprendizagem, até porque o meu superior hierárquico era um oficial da Polícia. Estive 10 anos a trabalhar com uma grande equipa, da qual muito me orgulho, fizemos um trabalho diferenciador. É possível, através daquele serviço de fiscalização, criar dinâmicas no território, e não dinâmicas repressivas, pelo contrário, é fazer uma acção pedagógica junto do cidadão munícipe para que nas mais diversas áreas, adira a boas práticas.

CL – Qual a sua percepção ao longo desses 10 anos, é a de que os cidadãos prevaricam muito, ou são cumpridores?

JB – A área mais complicada é a do Ambiente, as pessoas de Oeiras são exigentes e devem sê-lo, são reivindicativos, mas nem sempre têm o melhor exemplo de cidadania. Ainda é preciso continuar com o trabalho de sensibilização ambiental, já que, por exemplo, muitas vezes ao passarmos nas ilhas ecológicas vemos lixo fora dos contentores e somos levados a pensar que o percurso da recolha foi deficiente, mas depois verificamos que os contentores estão praticamente vazios… Eu pergunto se este é o melhor exemplo para o nosso território, porque quando nós queremos um território qualificado e de excelência também temos que ter um comportamento de excelência.

Se pensarmos, por exemplo, que temos no concelho zonas de restauração de qualidade e se da parte da Câmara há a preocupação de manter imaculadas essas zonas, vamos ter que esperar a mesma preocupação por parte dos munícipes e dos agentes económicos, que são até os que mais lucram com a qualidade ambiental da zona onde estão inseridos.

CL – Depois da Polícia Municipal foi convidada para seguir uma carreira política. Como é que se faz essa transição, foi fácil decidir?

JB – Não, não foi algo que eu tenha aceite de forma leviana, até porque estamos a falar de algo com um tremendo impacto na minha vida, do ponto de vista familiar. Tenho crianças pequenas e, portando, conciliar o crescimento, a evolução dessas crianças, com uma carreira que não tem dias, não tem horas, nem domingos ou feriados e tem, no meu caso, áreas com um enorme impacto, nomeadamente as Obras, o Ambiente ou a Protecção Civil. Tudo mudou na minha vida em 2017, pelo facto de ter aceite o convite, não está a ser fácil, mas também acho que não o podia ser, é um percurso difícil, solitário, de uma enorme reflexão interior, de muito estudo.

CL – Não tem medo de tomar más decisões?

JB – Tenho, é por isso que todas as decisões implicam muito estudo, muita reflexão, muito sentido crítico. É preciso dizer que não tomo decisões dentro do gabinete. É claro que o despacho final é no gabinete, mas para que haja esse despacho há um enorme caminho e percurso na rua, onde muitas vezes, com o Presidente da Câmara, tomamos decisões.

Só para ter uma ideia, hoje comecei de manhã muito elegante para ir a uma reunião e acabo, como muitas vezes, de ténis, mas também pode ser de botas de trabalho, porque tive que ver obras para fazer o ponto da situação, e esse ponto da situação é necessário ser feito no local para garantir o sucesso na execução dos trabalhos. Faço, sempre que preciso, contactos com os meus dirigentes, a qualquer hora, porque considero que assumir um cargo na Administração Pública é uma missão, e se a decisão pode ser solitária, o trabalho é um trabalho de conjunto. Esta equipa para trabalhar comigo tem que estar totalmente disponível, não admito que haja pessoas que não atendam chamadas, não reajam a mensagens ou que eu solicite a sua presença no terreno e não estejam comigo.

CL – Na sua vida o que é que até hoje a fez mais feliz?

JB – Sinto-me muito feliz como mãe, onde eu sinto reconhecimento, e qualquer ser humano precisa de ser reconhecido para ter sucesso e felicidade. Sei que sou boa mãe, faço todos os esforços para conciliar as inúmeras vertentes da minha vida. Profissionalmente, também me sinto muito satisfeita, porque não obstante este percurso significar um enorme sacrifício a todos os níveis, aquilo que mais me faz feliz é ver as decisões desta administração serem materializadas no território, contribuindo para a sua transformação.

CL – A mulher tem sido, ao longo dos séculos, na nossa sociedade, preterida em relação ao homem, situação que ainda hoje se verifica. Que pensa disto?

JB – Tenho a consciência dessa situação, mas faço o meu percurso sem pensar nesse pormenor , mas esse é por vezes um grande pormenor na vida de uma mulher. Quando eu fui convidada para a Polícia Municipal (PM), que é um mundo de homens, era uma miúda com 28 anos… Como é que eu me iria afirmar? Com trabalho! A PM trabalha durante quatro turnos e eu passei a trabalhar três e eles viam-me constantemente lá, a trabalhar. É a única forma de conseguirmos fazer contraditório, mesmo como vereadora tendo pelouros como as Obras ou o Ambiente, a afirmação só pode ser feita com trabalho, com sacrifício e, sobretudo, com bom senso.

CL – Uma consequências da luta das mulheres foi a instituição do Dia da Mulher. Concorda com a existência deste dia?

JB – Não sou muito apologista da comemoração do Dia da Mulher, acho que é enaltecer uma suposta fragilidade e essa fragilidade só existe se estiver na nossa cabeça. Eu não me sinto mais fragilizada por ser mulher. É assim: eu sou um ser com uma grande força e portanto não gosto de estar colada a um género, masculino ou feminino, para ser enaltecida e ser comemorada num dia específico. As pessoas devem ser seres com força, brio, disciplina, focados e concentrados no seu percurso de vida, pois isso é sinónimo de conseguirem atingir as suas metas.

CL – Esta incursão na política é para ficar, ou tem outras opções para o futuro?

JB – Não é possível prever o futuro, mas o que lhe posso dizer é
que esta administração tem em curso inúmeros projectos nas mais diferentes áreas, muitos deles são projectos estruturantes que se estendem para além deste mandato. As obras só surgem depois de se olhar para o território, ver o que é estratégico e há depois uma tramitação muito demorada que passa pela execução dos projectos, concursos e execução da obra. Eu gosto de fazer o que estou a fazer neste momento, personifico verdadeiramente aquela pessoa que gosta de fazer aquilo que faz, adoro ver o trabalho materializado no território, e com projectos a realizar ao longo de muitos anos. Eu sinto-me a desempenhar estas funções ao longo de muitos anos.

CL – Como natural de Porto Salvo, puxa pela sua terra?

JB – Eu puxo por todo o Concelho. Diz o meu Presidente, que eu, como vereadora, tenho que ter a “bota” em todo o território para ser uma boa vereadora e é isso que faço todos os dias.

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Autor: Alexandre Gonçalves

4 comentários em “Joana Baptista: “A nossa afirmação é feita com trabalho”

  1. Parabéns Dra. Joana Baptista!
    Admiro a sua força e dedicação ao trabalho que tem desenvolvido, com sabedoria e empenho.
    É sem dúvida uma Super Vereadora que alia a eficiência á simpatia, sempre com um sorriso lindo.
    Uma mãe exemplar!
    Um grande abraço amigo com votos de muitos êxitos, que sei irá conseguir.
    Vitalina Basso

  2. O que posso realçar sobre a Vereadora Dra. Joana Batista.
    Simples…
    A SATISFAÇÃO ESTÁ NO ESFORÇO E NÃO APENAS NA REALIZAÇÃO FINAL.
    A VERDADEIRA MOTIVAÇÃO VEM DA REALIZAÇÃO,DESENVOLVIMENTO PESSOAL,SATISFAÇÃO NO
    TRABALHO E RECONHECIMENTO.

    ESTAS SÃO AS FORÇAS DE UMA SUPER-VEREADORA.
    PARABÉNS Dra. JOANA

  3. Muitos parabéns Joana. A força e o trabalho também são de berço. Familias de muito trabalho e bom desempenho. Boa continuação um beijinho e votos de muito sucesso.

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