“Gostava de comemorar o 50.º aniversário com a dignidade que o Clube merece”

O Rotary Club de Cascais-Estoril prepara-se para assinalar 50 anos de existência. Criado em 1971, o Clube tem vindo a desenvolver inúmeras iniciativas junto das populações de forma a promover a Educação, a Saúde, o Desenvolvimento Económico Comunitário, a Defesa do Ambiente e a Paz. Num ano em que os festejos têm sido fortemente condicionados pela pandemia COVID-19, não será possível comemorar a data com a intensidade desejada. Contudo, mantém-se a esperança em dias melhores e a resiliência necessária para levar em frente a aposta no futuro, sem desistir de lutar pela implementação dos projectos mantidos em carteira. Aqui ficam as palavras do Presidente do Rotary Club de Cascais-Estoril, Henrique Gomes de Almeida, sobre estes e outros temas da actualidade:

Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – O Rotary Club de Cascais-Estoril (RCCE) vai assinalar, no próximo dia 5 de Maio, meio século de existência. O que está planeado para essa data?

Henrique Gomes de Almeida (HGA) – De início estava planeado um conjunto de iniciativas, tais como uma Exposição de Arte e fotos antigas, um recital de piano e um Jantar de Gala, a reunir Rotários, Personalidades do Concelho, Representantes das instituições apoiadas pelo Clube e convidados especiais. Infelizmente, as circunstâncias actuais decorrentes da pandemia impedem totalmente esta programação. Vamos então, simplesmente, ter uma Reunião via ZOOM, que é como nos reunimos actualmente, e fazer um brinde virtual com espumante real, cada Companheira e Companheiro em sua casa. E na Conferência do Distrito, que será realizada em Cascais no dia 15 de Maio, na Casa das Histórias Paula Rego, o Governador Roberto Carvalho, que é membro do nosso Clube, fará uma homenagem especial ao RCCE.

CL – A sua presidência ficará ligada a esta importante comemoração. Que significado tem isso para si?

HGA – Tem um significado muitíssimo especial, quer do ponto de vista Rotário quer pessoal. Servi como Presidente em 1995-1996, quando o RCCE fez 25 anos. Preparámos uma grande festa. Com a minha equipa, preparei tudo ao pormenor. No dia 5 de Maio de 1996, tive que estar no Brasil, pois o meu pai, que me honrou com a sua presença e da minha mãe na minha posse, adoeceu gravemente e veio a falecer. Este ano, planeámos novamente tudo e veio a COVID-19, para fazer ‘tábua rasa’ de tudo. É mesmo assim: O homem põe, mas Deus dispõe…

CL – Quais os aspectos mais marcantes desta sua segunda Presidência à frente do Rotary Club de Cascais-Estoril?

HGA – O grande desafio foi manter o Clube unido e motivado através da via digital. A seguir, foi fortalecer os laços de cooperação com a Câmara Municipal de Cascais, a Junta de Freguesia Cascais Estoril, a Santa Casa da Misericórdia de Cascais e a Paróquia de Cascais. Depois foi dar continuidade aos projectos históricos do Clube, como o Presépio de Natal em Cascais, as bolsas de estudo para estudantes carenciados, a Erradicação da Pólio no Mundo e o apoio às instituições sociais do Concelho. Elegemos como Profissional do Ano a Dra. Ana Paula Sousa Uva, Autoridade de Saúde de Cascais, em cerimónia simbólica, com o Presidente da Autarquia, Carlos Carreiras. 

Apesar das circunstâncias, conseguimos aumentar o nosso quadro social, com a admissão de cinco novos Companheiros representativos e dois sócios honorários, entre estes o Dr. Carlos Carreiras. E organizámos palestras sobre os mais variados temas com a participação de ilustres oradores, Rotários e não-Rotários. Sempre via ZOOM.

CL – O que ainda falta fazer? Que iniciativas estão previstas para o que resta da sua actual Presidência?

HGA – Ainda em Maio, estamos a preparar a organização da 75ª Conferência Distrital, que é o mais importante evento do Ano Rotário 2020-2021 no Distrito 1960. Será a 15 de Maio, como referi antes. Pretendemos também aumentar o alcance dos projectos com as instituições sociais do Concelho, aumentar ainda mais o quadro social do Clube e teremos ainda mais palestras programadas, uma das quais, a 25 de Maio, com o Dr. Carlos Costa, ex-Governador do Banco de Portugal, que falará sobre ‘O Futuro da Economia Portuguesa’. Em Junho, logo veremos…

CL – Numa fase extremamente influenciada pela crise sanitária que atravessamos, quais foram as principais dificuldades que a sua Presidência enfrentou/tem enfrentado?

HGA – O alimento vital do Rotary é o Companheirismo, o que implica proximidade, demonstrações de afectividade, seja em reuniões na sede do nosso Clube, seja em jantares e outros eventos com forte componente de proximidade entre as pessoas. Fazer Rotary pela via digital foi o grande desafio, como referi. E também o grande teste à capacidade de mudança e evolução da nossa Organização, que tem 116 anos, sempre baseadas no Companheirismo e no serviço voluntário!

AJUDAR A COMBATER OS EFEITOS DA PANDEMIA

CL – Foi desenvolvido algum programa especial mais dedicado a ajudar a combater os efeitos da pandemia e/ou ajudar as pessoas mais afectadas por ela? O Clube tem recebido pedidos de ajuda específicos relacionados com a crise sanitária e suas consequências?

HGA – Desenvolvemos um grande projecto de distribuição de EPIs (Equipamentos de Protecção Individual), que se iniciou em 2020, ainda na gestão da Companheira Maria de Fátima Geada, Presidente 2019-2020, e que teve continuidade este ano. A Associação dos Amigos da Paz, em Bicesse, e o Lar da Bafureira estão entre as instituições beneficiadas. E assegurámos apoio directo às famílias carenciadas, através da Junta de Freguesia da União das Freguesias de Cascais e Estoril, no Espaço Sénior de Cascais. 

CL – O que gostaria de ter feito sob a sua Presidência, que não tenha sido possível implementar?

HGA – A comemoração do 50º Aniversário do Clube com a dignidade e a pompa que o Clube merecia pela sua história de realizações.

CL – Nesta fase complicada que atravessamos, dominada pela pandemia COVID-19, tem sido possível angariar os fundos necessários para a promoção das iniciativas implementadas pelo Rotary Club de Cascais-Estoril? Foi possível realizar todas as iniciativas previstas?

HGA – Apesar de todas as dificuldades, felizmente o RCCE contribuiu mais este ano para a Erradicação da Pólio no Mundo e para Projectos de Subsídios Globais e Distritais do que nos anos anteriores.

CL – Tendo desempenhado a função de Governador do Distrito 1960 (Centro e Sul do País), entre outros cargos dentro da estrutura Rotary em Portugal, quais têm sido os principais focos da Acção Rotária no País?

HGA – As principais áreas de enfoque do Rotary são a Educação, a Saúde, o Desenvolvimento Económico Comunitário, o Ambiente e a Paz. Em Portugal, a Educação e a Saúde têm sido os principais focos dos projectos dos Clubes e dos dois Distritos. Mas, mais recentemente, a pandemia e as alterações climáticas têm levado muitos Clubes a dedicarem projectos ao apoio ao Desenvolvimento Económico da Comunidade e às acções de Protecção Ambiental (fogos florestais, protecção de vegetação nativa, etc.).

CL – O Mundo em que vivemos está mais necessitado dos valores promovidos pela Organização Rotary?

HGA – Mais do que nunca, o Rotary tem um papel a desempenhar no Mundo em que vivemos. Os valores morais que cultivamos, a Ética, a disponibilidade em servir aos mais necessitados, a ‘expertise’ na resolução de conflitos e capacidade financeira para financiar projectos ligados às já referidas áreas de enfoque, fazem do Rotary um poderoso instrumento de construção da Paz social que todos ambicionamos. 

CL – Na sua opinião, qual o papel mais importante da acção dos Clubes Rotários?

HGA – O factor mais característico dos Clubes Rotários é a diversidade de profissões dos seus membros, colocada ao serviço da comunidade de forma voluntária. O papel mais importante da acção são os projectos elaborados com o conhecimento da realidade social da comunidade onde o Clube está inserido. Neste caso, a proximidade é um elemento de grande importância na avaliação das necessidade da comunidade, sendo a base para a elaboração dos projectos do Clube. 

“É DO LIMÃO MAIS AZEDO QUE SE FAZ A MELHOR LIMONADA”

CL – No seu entender, quais serão os principais desafios a enfrentar no futuro pelos Clubes Rotários no trabalho desenvolvido junto das comunidades?

HGA – Penso que a pandemia deixará sequelas socias e psicológicas que poderão ser óbices a uma maior aproximação dos Rotários às comunidades mais carentes. Mas este é o desafio que se coloca. Vamos enfrentá-lo! E vamos conseguir superar esta barreira. Depois será muito mais fácil do que hoje é. É do limão mais azedo que se faz a melhor limonada!

CL – Qual o político/líder mundial que mais o influenciou? Que pode elogiar no que respeita ao trabalho desenvolvido em benefício da comunidade?

HGA – Sir Winston Churchill. Fez tudo certo para construir a Paz, depois de ser um dos artífices da vitória na guerra. Trabalhou para a comunidade mundial como ninguém! E a seguir, perdeu as eleições, a maior demonstração de ingratidão que já vi na Política.

CL – Com base na sua formação académica, de que forma a Engenharia Civil e o Urbanismo podem melhorar a vida das pessoas?

HGA – Directamente na melhoria das condições de habitação da população mais desfavorecida, na melhoria das condições de circulação viária, na qualificação dos espaços públicos, na formação de quadros técnicos e de pessoal não-qualificado para exercer actividades nas obras. Mas aprendi com um velho mestre que Engenharia é Física + Bom senso. A primeira aprende-se na Universidade, a segunda aprende-se na vida. A partir daí…

CL – O que recorda com mais prazer dos locais onde viveu e estudou, nomeadamente do Rio de Janeiro, Paris e Lisboa?

HGA – No Rio de Janeiro destaco a família, os amigos, a praia, o Iate Clube do Rio de Janeiro e o ambiente social que se vivia no Rio até o início dos anos 80 do século XX. Da minha passagem por Paris recordo um período muito difícil da minha vida, pois a bolsa que recebia não dava para o meu sustento. Tinha que tocar piano nos restaurantes para ter um bom jantar e ganhar mais alguns trocados para os livros e diversão. Mas aprendi muito! Quanto a Cascais, é o melhor sítio do Mundo para se viver. O clima, as pessoas, os amigos, os restaurantes, o peixe, a descontracção… o paraíso na Terra.

CL – É um apreciador de Música Clássica. Qual o seu músico/intérprete preferido? Que música escolheria para o período que atravessamos?

HGA – Músico: Fredéric Chopin. Intérprete clássico: Arthur Rubinstein, o maior pianista de todos os tempos. Intérprete popular: Frank Sinatra, imbatível! Música clássica: ‘Polonaise’ (Polaca), heroica. Música popular: ‘My Way’.

“A MINHA VIDA TRANSFORMOU-SE DESDE QUE ENTREI PARA O ROTARY”

CL – O que significou/significa para si ser Rotário? De que modo essa opção transformou a sua vida? Como tem vivido essa experiência?

HGA – A minha vida transformou-se depois que entrei para o Rotary em 2 de Agosto de 1990. Vivia em Portugal desde 1986. Em 1990, um amigo convidou-me para frequentar o RCCE. Adorei o convívio com as pessoas e com o ambiente do Clube. Mudei-me para Cascais. Hoje, a esposa deste meu amigo (Ivo Teruszkin), a Elizabeth, é minha afilhada no RCCE. Mundo pequeno…

Hoje, posso dizer que vivo em função do Rotary, pois passo mais de quatro horas dos meus dias em contactos Rotários, para assuntos de toda a ordem, seja do Clube, onde sou Presidente, seja do Distrito, onde sou Presidente da Rotary Foundation, seja da área internacional, onde sou membro do Grupo WASH – Water, Sanitation and Hygiene, da Rotary Foundation, em Evanston, Illinois, EUA.

CL – Que mensagem transmitiria aos jovens que estão agora a dar os primeiros passos como companheiros rotários?

HGA – Vivam intensamente o Rotary, conheçam os seus programas, dediquem algum tempo do seu dia para fazer os cursos on-line do Rotary e visitem muitos Clubes para gostarem ainda mais daquele em que estão.

CL – Um desejo para os próximos 50 anos do Rotary Club de Cascais-Estoril.

HGA – Refiro dois desejos: que consigamos erradicar a Pólio do Mundo para termos sempre crianças sem pólio, e que consigamos construir a Paz e a Compreensão mundial através de acções nas comunidades de todo o Mundo.

BREVE CURRÍCULO

Henrique Gomes de Almeida nasceu no Rio de Janeiro, no Brasil. Vive em Portugal desde 1986, com a mulher, Márcia, e o filho do casal, Pedro. Possui formação profissional em Engenharia Civil (Universidade do Brasil) e Economia (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que acumula com duas pós-graduações em Urbanismo (Universidade de Paris) e Engenharia de Avaliações Imobiliárias (Universidade Católica Portuguesa).

Entrou para o RCCE, Distrito 1960, em Agosto de 1990, assumindo a presidência do Clube em 1995-1996 e 2020-2021. Dos inúmeros cargos desempenhados dentro da organização Rotary, nacional e internacionalmente, destacam-se: Governador do Distrito 1960 (2002-2003), Presidente da Comissão Distrital da Rotary Foundation (2003-2006), Coordenador Nacional da Comissão Inter Países (2005-2008) e Coordenador Regional da Rotary Foundation (Portugal, Espanha, Itália, Malta e San Marino).

Autor: Luís Curado

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