O progresso é incontornável e desejável, mas tem de ser compatível com o Meio Ambiente. Não pode, não deve, implicar uma intervenção que possa resultar em algo que podemos designar facilmente por atentado ambiental. Se assim for, o progresso é apenas um acto selvagem com consequências nefastas para a Natureza. E isso é tanto criticável quanto merecedor de punição. Os responsáveis por estes actos devem ser chamados à responsabilidade e remediar, tanto quanto possível, a situação que criaram.
Vem isto a propósito das obras que têm vindo a ser realizadas na ribeira de Manique/Caparide, um curso de água que atravessa várias localidades, entre as quais Manique de Baixo, na freguesia de Alcabideche, no concelho de Cascais. A intervenção para reabilitação do Emissário de Caparide nesta povoação é da responsabilidade da empresa Águas do Tejo Atlântico, do grupo Águas de Portugal. No terreno estas obras resultaram no que se pode chamar um verdadeiro atentado ao Meio Ambiente.
Num concelho que tem apostado, e bem, na reabilitação e requalificação das ribeiras que cruzam o seu território, com a limpeza dos seus leitos e margens, é de lamentar o que aconteceu na ribeira de Manique/Caparide. Em centenas de metros, as margens deste curso de água foram simplesmente arrasadas, num processo que descaracterizou totalmente o local habitualmente visitado por amantes da Natureza que ali usufruíam de um sítio aprazível onde a fauna e a flora reinavam em todo o seu esplendor.
A intervenção no local com máquinas pesadas destruiu completamente uma extensão considerável das margens da ribeira que, em consequência disso, foi contaminada com toneladas de detritos (terras e pedras) junto ao seu leito. Haveria necessidade de uma intervenção tão intrusiva, sem qualquer respeito pela Natureza? Não poderiam ter sido acauteladas e preservadas as características das margens da ribeira? A obra tem sido acompanhada por técnicos do Ambiente?
Sejam quais forem as respostas a estas questões, de uma coisa temos a certeza: a Natureza merece respeito, muito mais respeito. Resta acrescentar que, de acordo com um placard informativo colocado no local, a obra em questão está orçada em 1,516 milhões de euros e tem um prazo de execução de 300 dias. A empreitada está a ser executada pela empresa DST – Domingos da Silva Teixeira, AS, sob fiscalização da empresa Rioboco, AS, sendo que o projecto é da responsabilidade da empresa Engidro, Lda.
MAIS PALAVRAS PARA QUÊ…
Na página disponível na Internet da empresa municipal Cascais Ambiente, a propósito das Ribeiras de Cascais, pode ler-se: “O Concelho de Cascais encontra-se no limite de distribuição de alguns peixes endémicos da Península Ibérica e de Portugal, sendo, consequentemente, importante conhecer a distribuição das diferentes espécies nas ribeiras do Concelho. Neste âmbito, a Cascais Ambiente desenvolveu o projecto ‘Ribeiras de Cascais’, com o intuito de aumentar o conhecimento da biodiversidade e habitats das ribeiras do concelho, desenvolvendo assim ferramentas para uma gestão territorial fundamentada. Este projecto pretende caracterizar e avaliar os ecossistemas fluviais, por forma a desenvolver medidas de gestão adequadas e adaptadas à realidade do concelho, valorizando o património natural aí existente.” Mais palavras para quê?