Fernando Santos revisita memórias da Marinha de Guerra

Fernando Jorge P. Leite Santos, de 65 anos, um antigo militar que ingressou como voluntário na Marinha com apenas 17 anos, acaba de lançar o seu segundo livro sobre as experiências vivenciadas no tempo passado a bordo de navios de guerra. Depois de ‘O Peixe de Ferro’, escrito durante os primeiros meses de confinamento ditados pela pandemia COVID-19, o autor, residente no concelho de Cascais, dá agora a conhecer ‘Navio de Guerra’, uma obra mais uma vez destinada a resgatar da memória acontecimentos vividos nos anos 70 do século XX, enquanto marinheiro da Armada Portuguesa.

Em ‘O Peixe de Ferro’, Fernando Santos abordou episódios marcantes que viveu enquanto marinheiro que participou em várias missões a bordo do submarino S-37 ‘Pátria’ nos anos que se sucederam à revolução do 25 de Abril de 1974. Foi este navio que inspirou o título do livro, publicado por conta própria online e cedido gratuitamente aos leitores em formato PDF. A opção resultou do facto de ter decidido não aceitar as condições desfavoráveis oferecidas pelas editoras que contactou com vista à publicação da sua primeira obra. Esse motivo não o demoveu de lutar pela realização do seu projecto e o resultado impulsionou-o a seguir em frente.

“Sempre achei que tinha alguma habilidade para a escrita, e sempre achei que um dia talvez viesse a escrever algo sobre os anos que passei na Marinha… Quando escrevi ‘O Peixe de Ferro’, em 2002, contactei umas editoras, mas não gostei das propostas que me fizeram. Percebi, no entanto, que tinham encontrado valor no livro e que o queriam, mas não lhes entreguei o meu trabalho de meses a fio de mão beijada. E a ter de pagar ainda por cima, isso estava fora de questão!”, recorda o autor, que chegou a pensar desistir do projecto, o que acabou por não acontecer. Finalmente, anos depois, a persistência acabou por dar frutos.

“Em 2012, estive à beira de deitar o livro fora. Deu-me, porém, para o rever, corrigir, melhorar, acrescentar coisas. No entanto, ‘O Peixe de Ferro’ continuou na gaveta. Oito anos depois, em 2020, estive para o deitar fora outra vez, mas tive uma ideia maluca: fazer uns cartões de visita, deixá-los em cima das mesas em cafés, esplanadas, comércio, a anunciar o livro e dizer que era enviado grátis, online, a quem mo pedisse por email, sendo que o preço seria depois o leitor, de sua livre vontade, que o decidiria, tendo para isso o meu iban no prefácio / notas do autor”, relata o antigo marinheiro da Armada Portuguesa.

“O que o leitor entendesse dar seria um donativo. E se nada me desse, paciência, que lesse o livro de graça. Para as editoras é que ele não ia, já estava decidido!”, recorda Fernando Santos, que acabou surpreendido com as reacções recebidas por parte de quem leu a sua obra, que superaram as suas expectativas. A boa aceitação do livro de estreia fez todo o esforço e resiliência valer a pena. Acabou por ser contactado por jornalistas interessados na sua história (o jornal ‘O Correio da Linha’ foi um deles) e “os pedidos para disponibilizar o livro começaram a chover na caixa de email. E os donativos também”, assinala.

“Tive muitos leitores a pedirem-me para escrever mais. As pessoas gostaram muito do livro e do meu estilo de escrita. Alguns oficiais da Armada sugeriram até que escrevesse sobre navios de superfície, nomeadamente corvetas. Então, no final de 2022, deu-me a ‘febre’ de novo e comecei a escrever ‘Navio de Guerra’, o meu segundo livro, que ficou pronto no ano seguinte. Ele é fruto dos inúmeros pedidos de leitores de ‘O Peixe de Ferro’. “Você esteve oito anos na Marinha, tem mais coisas para contar…!”, diziam-me”, explica o autor, que nesta obra volta a apostar na mesma forma de divulgação e distribuição do primeiro livro.

Novamente por mote próprio, sem recorrer a qualquer editora, esta segunda obra, tal como a primeira, pode ser também solicitada através do contacto: fernandosantos.mte@hotmail.com, com a indicação “Quero o livro ‘Navio de Guerra’”. “A obra tem 193 páginas, pode ser lida em tablet, computador, smartphone ou impressa num centro de cópias, cortados os espaços em branco das suas margens e aplicada uma ‘encadernação’, dando-lhe dessa forma o formato aproximado de um clássico livro em papel, tamanho A5”, explica Fernando Santos.

PEQUENA INTRODUÇÃO E PREFÁCIO

As histórias e os factos relatados em ‘Navio de Guerra’, abordam, mais uma vez, a passagem de Fernando Santos pela Marinha de Guerra Portuguesa, entre Julho de 1974 e 1982, quando decidiu abandonar a vida militar, a seu pedido, deixando para trás um período importante da sua vida, durante o qual esteve embarcado em cinco navios de guerra: uma fragata, três corvetas e um submarino. Depois das experiências relatadas a bordo do submersível S-37 ‘Pátria’, em ‘O Peixe de Ferro’, é agora a vez de o autor dar destaque às experiências vividas a bordo de navios de superfície, mais concretamente corvetas.

“Cabeceando, cabeceando, cabeceando… resfolgando, torcendo-se, ora da esquerda para a direita, ora da direita para a esquerda… ameaçando tombar de vez, lá vai a corveta, mar afora, mar afora. Levando porrada atrás de porrada, o pequeno navio de guerra de 80 metros armado em fragata grande, indomável e resoluto por ordem e vontade do seu comandante, mergulha de proa em castelos de água e desaparece submerso nas vagas gigantes que gostariam de o aniquilar. A tempestade no mar não demove a guarnição de cumprir a sua missão”, começa o prefácio do segundo livro de Fernando Santos.

Os relatos dos episódios recordados nesta segunda obra de autor são contados na primeira pessoa, como testemunha protagonista de um quotidiano difícil, duro, vivido por marinheiros da Marinha de Guerra, que, “debaixo de sacrifício e esforço sobrenatural, executam as suas tarefas”, enfrentando toda e qualquer vicissitude, “temporais aterradores” ou “ventos ciclónicos”, ou o mais que os “radares possam detectar”. Como refere ainda o autor no prefácio do livro, citando o comandante de uma corveta em que esteve embarcado: “Para navios de guerra não há barras fechadas!”

BIBLIOTECA DE MÉRTOLA INTERESSADA

Aproveitando a apresentação do seu segundo livro, Fernando Santos revela que a Biblioteca de Mértola mostrou interesse na divulgação das obras que publicou por iniciativa própria. “Quiseram falar comigo sobre os livros. Em conjunto com a Câmara Municipal de Mértola, pensam divulgar o meu trabalho num programa denominado ‘Agenda Cultural’. A cada 15 dias, divulgam um novo escritor ou um novo livro. Decidiram também imprimir em papel uma cópia de cada um dos meus livros, para passarem a existir na Biblioteca, junto com os restantes. É muito simpático e uma honra ter livros meus disponíveis em uma biblioteca”, confessa.

Autor: Luís Curado

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