Segredos de um super-pai num dia muito especial

O Dia do Pai assinala-se, em Portugal, a 19 de Março. Nem todos os países homenageiam a figura paterna no mesmo dia, o que não está de todo errado. Saber que os pais têm um dia a eles dedicado é uma ideia simpática, mas não altera em nada a certeza que vivem nos seus quotidianos. Ou seja, para eles todos os dias são Dia do Pai.

Ser pai é uma tarefa a tempo inteiro. Sem folgas. Sem férias. Sem distracções. Com empenho. Com preocupação. Com amor. Quando se é pai uma vez tudo isto é verdade. Quando se é pai muitas vezes o esforço e dedicação multiplicam-se. Tantas vezes quanto o número de filhos. E o tempo livre, para recarregar baterias, costuma esfumar-se rapidamente.

Quando se é pai de vários filhos a organização é a alma do ‘negócio’, desenvolvem-se truques para enfrentar e superar contratempos. É esse o principal segredo das famílias numerosas: a organização. Neste domínio, João Miranda Santos tem a mestria da experiência vivida. O jornal O Correio da Linha foi até S. Domingos de Rana (Cascais) saber quais os truques de um Super-Pai.

A família Santos é composta pelo pai João, de 35 anos, pela mãe Sónia, de 34, e pelos quatro filhos do casal: Gaspar (8), António (4), Matias (3) e Inácio (2). Entretanto, vem já a caminho mais um filhote, que deverá nascer no final de Julho/princípio de Agosto e cujo nome ainda está no segredo dos deuses. Esta família está já a preparar a chegada do novo elemento.

PROJECTO DE VIDA FAMILIAR

Correio da Linha (CL) – Como é assinalado o Dia do Pai numa família numerosa? Costuma receber muitas prendas?

João Miranda Santos (JMS) – Tipicamente a manhã é concorrida por actividades nas diferentes escolas/salas e recebo tantas lembranças como filhos, sim. O fim do dia da família é marcado pela celebração de S. José, que é o pai modelo.

CL – O que esteve na base de decidirem constituir uma família numerosa?

JMS – Nos primeiros anos de casamento e com a observação e testemunho de outras famílias numerosas foi crescendo o sentimento de que o nosso projecto de vida familiar fazia sentido com uma forte abertura e disponibilidade para gerar vida e fazer crescer pessoas, e a família numerosa é uma consequência disso.

CL – Como é que uma família numerosa organiza o seu dia-a-dia? Existe um plano, horários, quadros de tarefas?

JMS – Existe uma rotina e horários definidos. O dia-a-dia tem de garantir tempo em família, depois do trabalho e da escola, sendo o jantar um ponto de encontro essencial, e a oração familiar ao final do dia um ponto de união com o mais importante. O compromisso mais importante é a família e por isso é impensável o pai ou a mãe saírem atrasados do trabalho porque os filhos estão à espera na escola ou o resto da família aguarda com expectativa em casa.

CL – Quais as tarefas mais complicadas de executar no seio de uma família numerosa?

JMS – As tarefas mais complicadas são sempre aquelas que já se começam a fazer sem paciência! E numa família numerosa é preciso ter a paciência multiplicada mais vezes. E esse é um exercício diário! Em termos de tarefas concretas, talvez pôr os cintos nas cadeirinhas!

ESTRATÉGIA PRINCIPAL É A FRUGALIDADE

CL – Existem algumas técnicas/estratégias especiais no momento de fazer as compras para o mês? Quantos carrinhos de supermercado costumam encher?

JMS – A estratégia principal é a frugalidade. Nada de marcas, nem de produtos da moda, nem de produtos individualizados. Não fazemos compras de mês nem enchemos carrinhos porque dividimos as compras por diversas fontes, consoante os produtos. Tipicamente os frescos vêm do mercado, ao sábado. A carne é comprada para vários meses em origens de confiança. E os restantes produtos vêm de dois ou três supermercados em função da qualidade e do preço. Mas por norma as idas ao supermercado são sem crianças, à noite, pouco antes de fechar para ser mais rápido.

CL – Existem pedidos especiais para cada um dos elementos da família no momento de fazer compras?

JMS – Tudo é comprado em função das preferências de cada um, dentro dos nossos critérios. De vez em quando, os filhos também vão ao supermercado e aí têm direito a meter no carrinho algumas coisas que cativem os seus olhos.

CL – Existe espaço para egoísmos no seio de uma família numerosa? Como se resolvem as tensões? 

JMS – As crianças de uma família numerosa são iguais a todas as outras e isso inclui ter de aprender que não são o centro do mundo. Talvez beneficiem por ter mais oportunidades de o aprender dentro de casa, com a ajuda dos mais próximos. As tensões resolvem-se com firmeza e com compreensão, normalmente promovendo a auto-resolução.

CL – Quando têm de sair todos juntos, para um passeio ou para férias, como o fazem?

JMS – Com muita alegria, porque adoramos estar juntos! Escolhemos sempre destinos e actividades que possam ser proveitosas de alguma forma para as crianças, respeitando sempre o descanso de que necessitam para estarem bem. Preferimos o ar livre e a Natureza. Temos forma de andar todos de bicicleta porque gostamos muito e as férias são habitualmente em campismo, porque é o formato que mais gostamos.

FÉRIAS TODOS JUNTOS SEMPRE

CL – Que tipo de férias costumam fazer?

JMS – O que mais queremos é ter tempo de família e as férias são um tempo de excelência para isso. Temos feito férias sempre com bastante praia, porque gostamos e é bom para todos, mas também com alguns passeios para conhecer novos sítios e novas realidades. Mas por enquanto, com idades tão pequenas, não vale a pena abusar muito disso. No último ano aproveitámos bastante das visitas aos Centros de Ciência Viva que permitem fazer um bom misto de passeios intelecto/cultura/naturais.

CL – No momento de se arranjarem para saírem de casa de manhã, quais as prioridades nos banhos?

JMS – Os pais tomam sempre banho primeiro e de preferência estão prontos antes dos filhos acordarem. Os filhos tomam banho pela ordem em que saem da cama.

CL – As roupas, calçado, brinquedos, livros escolares passam dos filhos mais velhos para os mais novos? Ou todos têm direito a estrear artigos novos?

JMS – Tudo o que está em condições passa dos mais velhos para os mais novos, e muitas coisas já foram usadas pelos quatro! Mas há sempre ofertas de coisas novas e algumas coisas também é preciso comprar por já não estarem em condições.

CL – É fácil constituir uma família numerosa em Portugal?

JMS – Eu não diria que é difícil, quando se quer muito uma coisa as dificuldades relativizam-se e tornam-se mais pequenas.

CL – Os apoios existentes para as famílias numerosas são suficientes? O que falta fazer? Que medidas deviam ser criadas?

JMS – Penso que os apoios nos primeiros anos dos filhos são bastante bons, talvez falte prolongá-los um pouco mais enquanto são dependentes dos pais. Falta resolver algumas injustiças das coisas que se paga mais só porque somos mais, como o IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) em função da área simples e não per capita.

CL – Qual a situação mais difícil que já enfrentaram?

JMS – Não me lembro de nenhuma, talvez eu seja muito positivo!

CL – Conte-nos uma situação divertida por que tenham passado no contexto de serem uma família numerosa.

JMS – É sempre giro quando se vai pagar a creche e nos perguntam se são todos nossos! 

ALEGRIA DE PODER MULTIPLICAR O AMOR

CL – Qual o principal benefício de ter uma família numerosa?

JMS – É a alegria de podermos multiplicar o nosso amor, e perceber que nunca se divide! Enquanto pais vivemos muito mais entregues à família, que é a nossa missão, e somos constantemente obrigados a limar as nossas fragilidades em função disso.

CL – Qual a principal dificuldade que enfrentam enquanto família numerosa?

JMS – O tempo! Que parece sempre pouco para conciliar o trabalho com tudo o que gostaríamos de fazer com os filhos.

CL – Do ponto de vista dos filhos, quais as vantagens mais marcantes de crescer no seio de uma família numerosa?

JMS – Recebe-se muito amor de irmão, exercita-se muito o amor de irmão. Aprende-se muito mais a conhecer e amar o próximo, mas diferente.

CL – As características pessoais sobrepõem-se ao colectivo, ou sucede precisamente o contrário?

JMS – As características pessoais crescem com o colectivo, e quanto mais rico é o colectivo mais enriquecem as características pessoais.

CL – Se pudessem gostariam de ter mais filhos?

JMS – Para já, estamos à espera de um e gostaríamos de ter um de cada vez!

Autor: Luís Curado

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