Joaquim Catarrinho: “A Petanca é um jogo de perícia e estratégia”

A Petanca é um jogo praticado com bolas metálicas ocas que teve origem no Sul de França, mais concretamente na região da Provença, criado na sua versão actual no início do século XX. O nome desta modalidade deriva da expressão ‘Pieds Tanqués’, que significa ‘Pés Juntos’. Actualmente, é jogado sobretudo no Sul da Europa, tendo chegado a Portugal na década de 1980, pela mão dos emigrantes portugueses deslocados em França. 

De um jogo recreativo praticado nos tempos livres, a Petanca acabou por ascender à categoria de um desporto, contando já com Federações Nacionais e Internacionais, como a Fédération Internationale de Pétanque et Jeu Provençal, o órgão regulador deste desporto a nível internacional que tem a sua sede em França. Em Portugal, também já existe uma Federação Portuguesa de Petanca, fundada em 26 de Março de 1992.

O jogo em si é uma actividade de grupo que pode ser realizada com vários tipos de formações, nomeadamente equipas triplas (3×3, com duas bolas cada jogador), duplas (2×2, com três bolas cada), ou também individualmente (1×1, com três bolas cada). O desafio colocado aos praticantes é lançar uma série de bolas metálicas ocas com o objectivo de ficarem o mais perto possível de uma pequena bola de madeira (cochonette), atirada por um dos jogadores.

Não sendo uma actividade dispendiosa, já que não exige materiais caros para a sua prática, a Petanca pode ser jogada em qualquer terreno, preferencialmente arenoso, por qualquer pessoa, homem ou mulher, jovem ou sénior, com mais ou menos habilidade física, sem quaisquer restrições, permitindo desenvolver várias capacidades, como a concentração, habilidade, paciência, estratégia e resistência muscular, entre outras.

Na zona geográfica abrangida pela cobertura noticiosa do jornal ‘O Correio da Linha’, este jogo/desporto tem um fiel representante no Clube de Petanca de São Pedro do Estoril, uma associação sem fins lucrativos fundada em 19 de Novembro de 1997 e com sede instalada na Rua do Parque da Petanca, naquela localidade cascalense. Recentemente, organizou o Torneio de Verão da Costa do Estoril, segundo normas determinadas pela Direcção-Geral da Saúde (DGS).

Fomos falar com o presidente do clube, Joaquim Catarrinho, de 48 anos, que tem vindo a desenvolver a sua actividade profissional na produção de Ficção Televisiva de Telenovelas e Séries de TV, assim como no Cinema e Publicidade, bem como na área da Decoração e Cenografia em vários canais de televisão nacionais e estrangeiros. O que o atraiu na Petanca e o futuro deste jogo/desporto que já foi proposto para integrar os Jogos Olímpicos foram alguns dos temas abordados.

Foto: Paulo Rodrigues

“CUMPRIMOS AS NORMAS DA DGS”

Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – O Clube de Petanca de São Pedro do Estoril organizou recentemente, em Agosto, o Torneio de Verão da Costa do Estoril. Como decorreu este evento? Quantos praticantes participaram em representação de quantas equipas?  

Joaquim Catarrinho (JC)– O evento decorreu de forma tranquila com todos os envolvidos cientes do momento que atravessamos. Tendo as nossas instalações capacidade para se jogar em 42 campos, apenas utilizámos 16 campos, de maneira a manter o distanciamento suficiente entre os atletas e os jogos. Participaram neste evento 32 equipas em representação de clubes do Algarve, Zona Centro e Norte e ainda equipas provenientes de Espanha e França.

CL – Quem foram os vencedores desta competição?

JC – Os vencedores para a Taça do Torneio Principal foram Jordam/Romam e José de Almeida, tendo sido vencedores na Taça do Torneio de Consolação Joaquim Catarrinho/Ricardo Sousa e Humberto Coelho.

CL – Atendendo às limitações impostas pela pandemia COVID-19, que medidas de segurança foram tomadas para poder realizar este Torneio?

JC– Respeitámos as normas determinadas pela DGS. O acesso ao interior das instalações do clube só serviu para o uso das casas-de-banho. Reduzimos o número de campos e de equipas, pois tendo nós capacidade para 42 campos com 6 jogadores em cada um, apenas utilizámos 16, permitindo assim um maior distanciamento entre atletas e público. Num torneio normal geralmente participam cerca de 300 jogadores. Os almoços foram servidos em mesas distanciadas com seis lugares por mesa. Instalámos álcool gel em todos os campos.

CL – Em que medida esta pandemia afectou o regular funcionamento do Clube? Quando interromperam a actividade? Quando retomaram a prática da Petanca nas instalações do Clube?

JC – Esta pandemia afectou o normal funcionamento de todos os clubes e este não fugiu à regra. Fechámos no dia 15 de Março e só voltámos a abrir no dia 4 de Julho. Todos os apoios previstos para a época desportiva foram cancelados, assim como todas as provas oficiais da Federação Portuguesa de Petanca. Os clubes de Petanca vivem das receitas das inscrições dos torneios e das receitas do bar da sede quando recebemos, por exemplo, cerca de cinco torneios no nosso clube por ano.

CL – O que está a ser planeado para o futuro?

JC – Este ano, aproveitando a paragem desportiva, procedemos à realização de obras no interior da sede do Clube. Temos ainda previsto para este mandato a construção de um campo de treinos com obstáculos para pontos e pistas de tiro. Na Petanca usamos os termos ‘pontuar’ ou ‘atirar’.

CL – Com quantos sócios conta o Clube actualmente?

JC – O clube conta actualmente com 360 sócios.

CL – Quem pode utilizar os campos de jogos do Parque da Petanca? Só os sócios do Clube ou qualquer pessoa?

JC – Os campos do Clube de Petanca de São Pedro do Estoril podem ser utilizados por qualquer pessoa, desde que cumpra as regras de segurança, e só servem exclusivamente para a prática da Petanca.

CL – O Clube dá formação para ensinar a jogar? Promove acções de divulgação, por exemplo, junto das escolas do concelho? Colabora com outro tipo de instituições para ajudar a divulgar a Petanca?

JC– O clube, sempre que requisitado, promove acções de formação e divulgação da modalidade. Antes da pandemia fomos convidados a participar nas Olisipíadas de Lisboa. Recebemos um colégio da Linha de Cascais com cerca de 70 crianças, com oferta de um pequeno lanche e formação e divulgação da modalidade. Vamos também a escolas para divulgar a modalidade, mas sempre num âmbito de formação a nível particular. Infelizmente esta modalidade ainda não pertence a uma actividade escolar, ao contrário do que acontece em outros países com forte expressão na Petanca.

Foto: Paulo Rodrigues

JOGADO DOS 8 AOS 80 ANOS

CL – O que é que um interessado deve fazer para se tornar sócio do Clube?

JC – Pedir junto da secretaria uma ficha de inscrição e pagar inicialmente seis meses de quotas. O valor mensal das quotas é de apenas 3 euros.

CL – Com que apoios conta o Clube para desenvolver a sua actividade?

JC – Contamos com apoios da Câmara Municipal de Cascais junto da Divisão do Desporto.

CL – Porquê a Petanca? Que benefícios traz a quem pratica este jogo/desporto?

JC– Ao nível do esforço físico não requer muito, daí poder ser jogado dos 8 anos aos 80 anos, mas trata-se de um jogo que requer muita perícia e estratégia. Todos os dias se joga Petanca no Clube e muitas vezes trata-se de uma segunda casa para a maioria dos sócios e atletas. Muitos reformados encontram na modalidade e no Clube uma rotina diária que os consegue tirar de casa para conviverem com outros sócios.

CL– Na vertente competitiva, quais os principais feitos dos atletas do Clube?

JC– Temos vários atletas já chamados à Selecção Nacional. Já tivemos vários campeões nacionais nas diferentes competições de Petanca. Vencemos várias vezes com equipas do Estoril o Torneio Internacional da Costa do Sol.

CL – Quais os próximos torneios/competições nacionais e internacionais em que vão estar envolvidos sócios do Clube?

JC– O Clube costuma participa em todas as competições que são realizadas em Portugal tendo geralmente obtido resultados muito satisfatórios.

CL – Quais as principais provas nacionais e internacionais de Petanca?

JC – As principais provas oficiais organizadas pela Federação Portuguesa de Petanca são o Campeonato Nacional de Mão a Mão, o Campeonato Nacional de Doublete e o Campeonato Nacional de Triplete. Temos ainda as taças de Lisboa, Algarve e Porto, e ainda a prova rainha, que é a Taça de Portugal. 

Foto: Paulo Rodrigues

AINDA NÃO FOI ACEITE COMO MODALIDADE OLÍMPICA

CL – A Petanca foi proposta como Desporto integrante dos Jogos Olímpicos. Sabe como está esse processo? 

JC – Seria para fazer parte dos jogos Olímpicos, mas não foi aceite como modalidade ainda…

CL – Há quanto tempo é Presidente do Clube de Petanca de São Pedro do Estoril? Quando termina o seu mandato?

JC– Sou presidente desde Fevereiro de 2020 com uma duração de mandato de dois anos.

CL – Se fossem colocados à disposição do Clube meios suficientes, o que gostaria de concretizar durante a sua Presidência?

JC – Gostaria de poder construir um pavilhão para a prática da modalidade indoor. 

CL – Como surgiu a Petanca na sua vida? O que o levou a optar por este jogo/desporto? 

JC– Vim uma vez de Angola e fui ao Clube beber um café a convite de um casal amigo e acabei por experimentar jogar um pouco. Voltei para Angola e quando regressei a Portugal decidi federar-me. O engraçado é que esse amigo desempenha hoje o cargo de vice-presidente do Clube.

Foto: Paulo Rodrigues

HISTÓRIA E RESULTADOS DO CLUBE

O Clube de Petanca de São Pedro do Estoril foi fundado em Novembro de 1997. “Desde então, e na Zona Centro onde estamos inseridos, somos considerados o melhor clube da região, pelo menos com mais títulos alcançados”, destaca Joaquim Catarrinho.

“Somos um clube formador e temos nas nossas fileiras atletas que integram a Selecção Nacional. Um deles, o Sr. Sérgio Reis, até já chegou a desempenhar o cargo de Seleccionador Nacional”, acrescenta o presidente do clube.

Em 2003, o clube passou a contar com um Parque de Petanca, especialmente construído para a prática deste jogo/desporto, inaugurado a 5 de Outubro, pelo então presidente da Câmara Municipal de Cascais, António Capucho.

Construído no âmbito do programa CEVAR (Conservação de Espaços Verdes em Áreas Reduzidas), este parque está integrado num espaço com cerca de meio hectare, onde está também instalado o edifício-sede do Clube e um bar.

Antes da Pandemia, nos apuramentos do Campeonato Nacional de Mão a Mão, em quatro vagas possíveis para as finais nacionais da modalidade na Zona Centro, o Clube de Petanca de São Pedro do Estoril apurou quatro atletas. 

Foto: Paulo Rodrigues

PEQUENO CURRÍCULO DO PRESIDENTE

Nascido na maternidade do Monte do Estoril em 9 de Abril de 1972, numa família de sete irmãos, Joaquim Catarrinho sempre optou por tudo o que tinha a ver com o mundo das Artes. Como adorava desenhar, acabou por ir para Londres e tirar um curso de Desenho e Pintura.

Ao regressar ao País, o actual presidente do Clube de Petanca de São Pedro do Estoril ingressou no seu primeiro emprego como aprendiz de pintor de azulejos numa famosa fábrica de azulejos portuguesa.

Mais tarde, em 1994 entrou para o mundo da produção de Ficção Nacional de Telenovelas e Séries de Televisão e também experimentou Cinema e Publicidade na área da Decoração e Cenografia em canais como a RTP1, SIC e TVI e ainda para a TV Globo Brasil.

Em 2013, Joaquim Catarrinho foi convidado para trabalhar em Angola também na área da Ficção Televisiva em nome da televisão pública de Angola e como formador de novos técnicos para a área audiovisual.

Joaquim Catarrinho assumiu o cargo de Presidente do Clube de Petanca de São Pedro do Estoril em Fevereiro de 2020, cumprindo um mandato com a duração de dois anos, que terminará em 2022.

Autor: Luís Curado

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.