Tchoukbol uma nova modalidade desportiva

Não é futebol, não é andebol e muito menos râguebi. Joga-se colectivamente com duas equipas de sete jogadores em campo, entre os quais não há qualquer tipo de contacto físico. Utiliza-se bola, mas não há balizas. São usadas, em vez disso, quadras com rede (tipo trampolins invertidos), onde se faz a bola ressaltar para tentar marcar pontos. Esta nova modalidade, que combina elementos do voleibol, andebol e pelota basca, procura conquistar um espaço próprio entre os amantes do Desporto. 

Em fase de crescimento, o Tchoukbol começa a dar os primeiros passos em Portugal. E conta já com várias iniciativas realizadas com vista ao seu desenvolvimento. O Correio da Linha foi tentar saber mais sobre esta nova modalidade, que promove a não violência, criada no início da década de 1970 por um médico suíço, o Dr. Hermann Brandt, especialista em tratar desportistas lesionados.  

“O Tchoukbol Difusão Portugal (TDP) é um movimento lançado em Portugal, reconhecido pela Federação Internacional, para a divulgação da modalidade no nosso País. Conheci este desporto em Macau. A Federação Internacional sabendo do meu regresso a Portugal, onde a modalidade não existia, incumbiu-me de a divulgar entre nós. Neste momento somos três pessoas ligadas à Educação Física e Desporto e promovemos acções de divulgação por todo o País. Estamos sedeados na Parede, em Santarém e no Porto”, começa por nos dizer Cândido do Carmo Azevedo, responsável pela promoção doTchoukbolentre nós.

O TDP, uma entidade ainda sem estatutos, foi criado em Dezembro de 2015 com a colaboração da Escola Superior de Desporto de Rio Maior do Instituto Politécnico de Santarém, com o objectivo de divulgar a nova modalidade. “Ainda não temos apoios de espécie alguma em Portugal. Apenas a Federação Internacional e técnicos estrangeiros têm ajudado, quer dando formação gratuita, quer oferecendo material”, adianta este Professor Doutor em Ciências do Desporto (área de História e Antropologia do Corpo), natural de Damão, ex-Índia Portuguesa, recordando que a modalidade começou a dar os primeiros passos entre nós na altura em que o TDP foi criado.

“A Federação Internacional enviou três técnicos, respectivamente de Taiwan, Macau e China, que fizeram a primeira acção de sensibilização teórico-prática de Tchoukbol em Portugal. Entretanto, porque eu regressara de rompante a Macau para assumir outras funções, esteve a modalidade sem liderança, apenas funcionando um núcleo de treino em Almeirim. Com o meu regresso definitivo a Portugal, em Dezembro de 2017, a modalidade acabou por ser reanimada e têm vindo a ser realizados vários eventos com vista à promoção deste desporto entre nós”, assinala Cândido Azevedo.

VANTAGENS EM RELAÇÃO A OUTROS DESPORTOS

Anunciando-se como uma modalidade que promove a não violência, o Tchoukbol faz disso um argumento de peso para estimular a sua prática, diferenciando-se assim dos restantes desportos. “Esta modalidade foi desenvolvida pelo médico fisioterapeuta suíço Dr. Hermann Brandt, ex-jogador profissional de andebol, na procura de um desporto dinâmico e empolgante onde não houvesse lesões por contacto. Trata-se de uma modalidade com alguma semelhança ao andebol, jogado por equipas de sete jogadores. Não é possível bater com a bola no chão ou manter a posse da bola mais de três segundos e é obrigatório o remate após três passes entre jogadores da mesma equipa. A particularidade mais flagrante consiste em não haver contacto entre jogadores, na não existência de baliza nem de guarda-redes, mas sim de um dispositivo em rede (quadra) que faz ressaltar a bola. Ambas as equipas podem arremeter a bola para qualquer lado do campo. Com estas variantes o jogo ganha grande dinâmica, velocidade e inovação. O facto de não haver contacto físico permite a formação de equipas mistas”, explica Cândido Azevedo.

O responsável pelo TDP faz questão de realçar que “o Tchoukbol é uma modalidade reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Desporto da Paz, atendendo a que, não havendo contacto nem obstrução, não há qualquer violência, dando assim oportunidade ao jogador de demonstrar o seu melhor em ambiente de respeito e harmonia. Também segundo a UNESCO, o Tchoukbol é um desporto de inclusão, de grande valor educativo, pois a sua estrutura de regras e princípios prevê um jogo para todos, independentemente da habilidade, género, idade, etc..”

“No Brasil e em Taiwan foi reconhecida como a melhor modalidade para o desporto escolar”, sublinha ainda o Professor Doutor em Ciências do Desporto, salientando que “equipas de países africanos subdesenvolvidos, que jogam em campos de terra batida, têm levado de vencidas equipas europeias que treinam em moderníssimos pavilhões desportivos”.

PROMOVER MODALIDADE EM PORTUGAL 

Em prol da promoção da modalidade em Portugal, após a primeira acção de lançamento já referida, desenvolveram-se já este ano várias actividades, nomeadamente: uma acção de sensibilização em Santarém, realizada pelo técnico brasileiro Júlio Calegari; duas acções de sensibilização na Faculdade de Motricidade Humana e na Praia de Carcavelos, conduzidas pelo técnico argentino Maurício Irbauch, e uma nova acção, novamente na praia de Carcavelos, em Julho último, com a participação de dois jogadores internacionais, o brasileiro Neto Lourenz e um português residente na Suíça, Jérémie Esteves. “No período de férias tivemos também ocasião de divulgar esta modalidade junto de um grupo de Professores de Educação Física e Desporto, em Palmela, e o nosso representante no Porto também tem dinamizado o Tchoukbol na praia de Matosinhos”.

Apesar de ainda não existirem campeonatos de Tchoukbol no nosso País, já foi realizado um primeiro torneio com oito equipas mistas envolvendo cerca de uma centena de jogadores. “Foi em Junho, em Santarém, na Escola Genestal Machado. Qual final de actividades do ano lectivo, foi proposto às equipas escolares praticantes o primeiro torneio em Portugal. Um evento inolvidável liderado pelo Prof. Luís Arrais”, revela Cândido Azevedo, adiantando que o “TDP tem dado os seus primeiros passos com cuidado”. 

“O ano de 2018 foi de ampla divulgação, fosse em recinto pavilhão ou na praia. Movimentámos cerca de cinco centenas de jovens. No ano de 2019 continuaremos com acções de sensibilização nos locais onde nos chamarem, mas vamos dar um enfoque especial na constituição de equipas, sejam elas escolares, de clubes ou de instituições juvenis. Entretanto, voltaremos a realizar jogos nas praias e torneios. A vizinha Espanha, que tem cerca de 25 mil praticantes desta modalidade, convida-nos constantemente. Estamos a pensar, qual prémio, proporcionar aos melhores jogadores uma ida até Espanha. Em 2020, já com clubes praticantes da modalidade, avançaremos então para a criação de uma Associação Desportiva, com estatutos, que enquadre e legalize clubes e praticantes.”

O responsável pelo TDP diz que ainda não existem clubes organizados, apenas equipas escolares. “Esta modalidade, de custos muito baixos, apenas necessita de um espaço aberto, independentemente do seu piso, da dimensão de um campo de basquetebol (medidas mínimas). O equipamento (quadras de arremesso e bolas) custa no total cerca de 200 euros. Portanto, qualquer pequeno clube de aldeia pode criar uma boa equipa e jogar ao lado de clubes com grandes instalações desportivas”, garante Cândido Azevedo, que aposta forte na divulgação e promoção para aumentar a visibilidade da modalidade. “É importante ter o apoio da Comunicação Social, por exemplo ir a um programa de um qualquer canal de TV ou de Rádio. É igualmente importante conseguir junto da Câmara Municipal de Cascais a reserva de um pequeno espaço (40x20m) junto ao campo de futebol na Praia de Carcavelos, ser reconhecido pelas entidades oficiais e, por último, arranjar um patrocinador”, destaca.

TODOS PODEM PRATICAR 

Os interessados em obter informação e/ou praticar a nova modalidade podem visitar a página Tchoukbol Difusão Portugal no Facebook (https://www.facebook.com/tchoukbolportugal), na qual estão registados todos os eventos promovidos no nosso País. Pode também ser mobilizada uma instituição local para uma ida do TDP a uma escola, clube ou autarquia com a finalidade de realizar uma acção de divulgação. Entretanto, está prevista a criação de uma federação para daqui a uns anos. “Sem pressas, fazendo as coisas bem feitas, e após a existência de clubes e associações regionais”, comenta Cândido Azevedo. 

“De momento ainda não existem patrocinadores. Se houver um patrocinador interessado terá um bom campo de divulgação da sua empresa pelo alcance que esta modalidade virá a ter em breve. O ideal era ter um patrocinador que valorize os aspectos da cidadania e da modalidade, como o da inclusão, da não violência, da paz e do mérito e inovação pessoais. Até ao momento, os custos da promoção (cartazes, T-Shirts, acessórios, transportes, banners, etc.) são custeados pelos representantes do TDP. Sentimos uma grande urgência em conseguir um patrocinador”, admite.

Para já, o promotor mais representativo da modalidade em Portugal é a Escola Secundária Genestal Machado, em Santarém, “onde os seus professores de Educação Física e Desporto viram de imediato o alcance educativo, pedagógico e de inclusão do Tchoukbol”, reconhece Cândido Azevedo. 

CAMPEONATO MUNDIAL JÁ ARRANCOU

A primeira apresentação oficial mundial da modalidade ocorreu em 1972 num Congresso de Educação Física e Desporto realizado precisamente em Portugal. De imediato ganhou adeptos nos cinco continentes. Dois anos depois surgiu o primeiro campeonato europeu. Actualmente organizam-se campeonatos nacionais e continentais em diversas regiões, nomeadamente África, América, Europa e Ásia-Pacífico. O Campeonato do Mundo é realizado de quatro em quatro anos com a República da China (Taiwan) a deter o título de campeão. 

No ano em que Taiwan foi campeão mundial, a novidade do Tchoukbol chegou rapidamente a Macau. “Na altura, os professores chineses pediram-me a introdução desta cadeira no currículo, o que foi consentido superiormente. Atraiu-me também o nome Tchoukbol. Vim a saber que é uma designação internacional, apenas variando de língua para língua a sílaba ‘bol’ (bola). Então o ‘tchouk’ é o som da bola ao ser repelida pela rede”, explica Cândido Azevedo, que acredita fortemente na expansão da modalidade no nosso País.

PERFIL

Natural de Damão, ex-Índia Portuguesa, Cândido do Carmo Azevedo tem 70 anos e é Professor Doutor em Ciências do Desporto, na área de História e Antropologia do Corpo. Enquanto Professor de Educação Física (EF), foi durante muitos anos o Coordenador do Curso Superior para Professores de EF em Macau. 

DADOS SOBRE O TCHOUKBOL

O Tchoukbol joga-se em recintos com medidas que podem variar bastante. As dimensões mais comuns são 27 metros de comprimento por 17 metros de largura. Contudo, existem variações, como na modalidade de praia, que usa medidas de 21 metros por 12 metros.

Em cada extremidade do campo é instalado uma quadra, tipo trampolim invertido, com uma inclinação de 55 graus. Em frente desta quadra existe uma área em semicírculo com um raio de três metros, que assinala o limite onde os jogadores podem estar posicionados, a atacar e/ou a defender.

Cada jogo de Tchoukbol é constituído por três partes de 15 minutos com intervalos, sendo usada uma bola cujas dimensões e peso variam consoante o género e a idade dos jogadores, podendo oscilar entre 54 e 60 cm de circunferência e com um peso entre as 325 e as 475 gramas.

O objectivo do jogo é somar mais pontos que o adversário, obtidos quando é feito um arremesso para a quadra fazendo com que a bola caía depois no chão sem ser interceptada pelos elementos da equipa adversária, sendo que cada equipa deve ter 12 jogadores (sete em campo e cinco suplentes).

As equipas que estão a atacar podem fazer três passes seguidos até decidirem finalizar a jogada. Enquanto decorre o ataque, a equipa que defende não pode interceptar a bola ou envolver-se na jogada. Pode apenas posicionar-se para receber a bola que ressalta no quadro e impedir que bata no chão e marque ponto.

Autor: Luís Curado

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