Templo Budista Kadampa de Sintra: Alcançar a iluminação é possível

O Templo Budista Kadampa de Sintra (Templo pela Paz Mundial da Nova Tradição Kadampa), uma construção com características singulares, foi inaugurado na Várzea de Sintra, em 2013, pelo mestre da meditação budista Geshe Kelsang Gyatso Rinpoche na data da celebração do Dia da Iluminação de Je Tsongkhapa (ver caixa), 25 de Outubro.

Este Templo, que serve de sede ao Centro de Meditação Kadampa Deuachen, é um lugar sagrado privilegiado que exibe características especiais. “Cada aspecto da sua concepção tem um significado espiritual que nos revela o caminho para a libertação e iluminação”, assinala a instituição na sua página na Internet.

Nesse sentido, “a arquitectura do Templo, o seu simbolismo e a sua arte original conferem uma beleza” que “acalma as mentes e tem um profundo significado espiritual”, sendo considerado pelos praticantes kadampas “um objecto sagrado que inspira a alcançar paz interior e exterior”, prossegue o texto de apresentação.

O termo ‘Kadampa’ reporta-se a uma tradição do Budismo Mahayana, cuja fundação é atribuída ao mestre budista indiano Atisha (982-1054). Os seguidores do percursor são denominados ‘kadampas’. ‘Ka’ significa ‘palavra’ e alude aos ensinamentos de Buda e ‘dam’ faz referência às instruções transmitidas por Atisha ao povo do Tibete.

O Centro de Meditação Kadampa Deuachen oferece várias actividades regulares online e presenciais, nomeadamente aulas para ensinar a iniciar e a desenvolver a prática da meditação, de forma a proporcionar aos praticantes relaxamento e bem-estar, bem como, em fases mais avançadas, aumentar a força dos estados mentais positivos.

São também realizados Workshops e Cursos para ajudar os alunos a aprofundar o seu conhecimento e experiência prática nos ensinamentos de Buda para os tempos modernos. Estão ainda disponíveis programas especiais de Formação de Professores e é possível participar em Retiros de Meditação.

O Centro realiza igualmente preces e meditações cantadas “para ajudar a acumular mérito, purificar negatividades e receber bênções”. Outra forma de ficar a conhecer melhor as actividades ali realizadas é através de uma palestra gratuita e visita guiada, durante a qual é explicada a simbologia da arquitectura e imagens do Templo. 

UMA TRADIÇÃO ESPECIAL DO BUDISMO

Para conhecer melhor o Centro de Meditação Kadampa Deuachen, o ‘Correio da Linha’ foi falar com o monge e professor residente do Templo de Sintra Gen Kelsang Rigden, que estuda e pratica o Budismo Kadampa há mais de 20 anos, sob orientação do seu guia espiritual, Geshe Kelsang Gyatso Rinpoche.

Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – Qual o significado das palavras Kadampa Deuachen?

Monge Gen Kelsang Rigden (GKR)– A palavra ‘Kadampa’ indica que este centro pertence a uma tradição especial do Budismo Mahayana, chamada Budismo Kadampa Moderno, que é uma apresentação especial e prática dos ensinamentos de Buda particularmente adequada para os dias de hoje. Foi introduzida na sociedade contemporânea pelo renomado mestre de meditação e erudito Venerável Geshe Kelsang Gyatso Rinpoche. A nossa linhagem veio originalmente de Buda, o fundador do Budismo, e foi transmitida através de uma sucessão ininterrupta de mestres budistas, como Atisha (982-1054), Je Tsongkhapa (1357-1419), até finalmente chegar a Geshe Kelsang Gyatso Rinpoche.

‘Deuachen’ é o nome do nosso centro budista e significa ‘Terra Pura de Êxtase’, indicando que, se purificamos a nossa mente por completo, o nosso mundo transformar-se-á num mundo puro e só experienciaremos felicidade.

CL – Desde quando existe esta tradição do Budismo Kadampa em Portugal?

GKR– Tanto em Portugal como na Espanha, o Budismo Kadampa Moderno chegou nos anos 90 com diversos discípulos e o apoio do Venerável Geshe Kelsang Gyatso.

CL – Quantos centros existem no Mundo e em Portugal? Onde estão instaladas as filiais portuguesas?

GKR– No Mundo existem mais de 200 centros e por volta de 1.000 filiais associadas a esses centros. As principais filiais portuguesas estão no Porto, Lisboa e Castelo Branco.

CL – Porquê a escolha de Sintra para a instalação deste Templo?

GKR– Acho que a beleza de Sintra responde por si só a esta pergunta.

CL – De que maneira a meditação pode ajudar as pessoas a enfrentarem esta crise pandémica e as dificuldades dos tempos modernos?

GKR– A meditação funciona protegendo a nossa mente da negatividade e mantendo paz interior, que é algo muito importante para ter uma vida feliz. A paz interior sempre foi importante, mas quanto mais difíceis são os tempos, mais importante se torna cultivá-la. Desafortunadamente, o contrário à paz interior é bem conhecido hoje em dia: ansiedade, depressão, irritação e falta de sentido na vida.

CL – Como é que o Centro adaptou a sua oferta a este período de pandemia que estamos a atravessar?

GKR– Todos os nossos cursos passaram a oferecer a possibilidade de participação online. Mantemos as aulas presenciais sempre que as condições permitam e seguindo as recomendações das autoridades para a abertura.

CL – Planos para o futuro? Que eventos/iniciativas estão previstos para este ano de 2021?

GKR– Sentimos que agora o nosso trabalho é ainda mais necessário. De facto, temos recebido mais solicitações de meditações, cursos e também de preces para doentes e falecidos. Portanto, temos uma programação muito dinâmica que está continuamente atualizada no nosso site: www.kadampa.pt

Para destacar um evento especial que estamos a preparar, eu escolheria o curso ‘A Solução está no Amor’, que teremos no final de Fevereiro. Serão transmitidas as bênçãos especiais do Buda do Amor, chamado Maitreya, com ensinamentos práticos para nos mantermos unidos e nos apoiarmos uns aos outros. A solução dos problemas nunca pode ser através da raiva e do egoísmo, mas pelo respeito e amor combinados com sabedoria. Fazer isto nem sempre é fácil, por isso pensamos neste evento especial.

CL – O que devem fazer os interessados que pretendam ficar a conhecer melhor o Centro de Meditação Kadampa Deuachen?

GKR– Eu acho que podem romper um pouco a timidez e telefonar, escrever, perguntar qualquer dúvida que tenham. Há uma equipa de voluntários que estão sempre dispostos a atender as pessoas. Devido a esta situação provocada pela pandemia, sempre que as autoridades permitam a abertura e a circulação, temos aos domingos uma tarde de portas abertas, das 15h00 às 18h00. Além disso, podem começar por participar numa actividade online, como ‘Introdução à Meditação’ ou ‘Preces pela Paz Mundial’.

CL – Quantos seguidores tem o centro actualmente?

GKR– É difícil saber, pois não temos um registo pormenorizado de todos os participantes. Temos ao redor de 140 pessoas que aprofundam a sua compreensão e prática budistas através dos programas de estudo e apoiam o Templo com os seus cartões mensais de colaboração. Além delas, centenas de pessoas participam, periódica ou esporadicamente, em diferentes actividades.

CL – Onde são realizados os Retiros de Meditação?

GKR– Os retiros são realizados no próprio Templo, com a possibilidade de reservar acomodação ou apenas as refeições e dormir em casa. Actualmente também disponibilizamos retiros guiados online para que as pessoas possam fazer as sessões nas suas próprias casas.

EDIFÍCIO SAGRADO DE GRANDE BELEZA

CL – Quais são os principais símbolos integrados na arquitectura e imagens existentes no Templo?

GKR– Para nós, o Templo é um edifício sagrado de grande beleza e profundo significado. Está baseado no mandala de Heruka, o Buda da Compaixão. Pode-se encontrar, por exemplo, os Oito Símbolos Auspiciosos, que foram ensinados pelo próprio Buda, e que mostram como alcançar o pleno despertar da nossa consciência e a libertação completa do sofrimento, que são os objectivos principais das práticas budistas. 

Também contém uma grande roda, chamada a Roda do Dharma, simbolizando que os ensinamentos de Buda viajam de um lugar para outro e, quando chegam a uma determinada região, as pessoas desse lugar aprendem a libertar-se dos seus problemas

através de controlar os seus pensamentos negativos e gerar hábitos mentais benéficos.

CL – Uma mensagem/pensamento que seja adequado para o ano que agora começa?

GKR– Assim como eu quero ser feliz, os outros também querem ser felizes. 

CL – É difícil transmitir a Filosofia Kadampa nos tempos que correm?

GKR– Pelo contrário, os ensinamentos kadampas surgiram precisamente como uma apresentação prática para os tempos modernos. Em certo sentido, quanto mais difíceis os tempos, mais poderosos se tornam esses ensinamentos, porque tanto as contradições que eles apontam como as soluções que oferecem ficam muito mais evidentes e lógicas.

CL – A Humanidade está preparada para viver o Presente em toda a plenitude, ou a constante preocupação com o Futuro retira-lhe discernimento para se encontrar consigo mesma e descobrir o seu caminho espiritual?

GKR– Eu acho que sim, mas é uma questão de atitude. Para viver o Presente em toda a sua plenitude, temos de nos lembrar que este mundo realmente não é a nossa casa. Somos viajantes, estamos de passagem. Se perdermos a perspectiva disto, a nossa vida ficará repleta de preocupações e apegos absurdos e teremos a tendência de descuidar o cultivo do nosso interior, que é o que nos permite viver o Presente com plenitude e desenvolver uma fortaleza mental para os desafios futuros.

CL – A ditadura da Tecnologia limita a Espiritualidade do Homem?

GKR– Acho que não necessariamente, mas temos de ser honestos para identificar e diminuir a dependência e efeitos secundários nocivos que possamos experienciar. Se não fizermos um uso ético da tecnologia, com certa autodisciplina e uma boa intenção, o preço poderá ser altíssimo. Mas se a usamos bem, pode ser muito benéfica.

CL – Na sua opinião, quais as principais limitações e potencialidades do homem moderno?

GKR– Eu acho que o cepticismo do homem moderno é, ao mesmo tempo, o seu maior potencial e a sua maior limitação. É um potencial na medida em que não aceita dogmas ou ideias impostas e, por isso, necessita comprovar as coisas. Buda aconselhou esta aproximação não-dogmática à espiritualidade. E é a sua limitação porque o cepticismo, se levado ao extremo, cria uma rejeição, subtilmente dogmática, de tudo o que cheira à fé. Às vezes assume-se, sem uma visão crítica, um paradigma muito difundido actualmente de que a espiritualidade é algo para ingénuos, e que ser agnóstico é em si mesmo ‘cool’. Realmente, acho que é uma grande simplificação da realidade. Na minha

opinião, a desconexão com a fé leva-nos a um extremo materialista e niilista que produz uma perda do sentido da existência humana, com todo o desassossego que isto provoca.

CL – O Homem vive em conflito com o que o rodeia? O que pode procurar fazer para se reconciliar com o Mundo que o acolhe?

GKR– Buda, de forma muito habilidosa, apontou que o ser humano vive em conflito consigo mesmo. E este conflito interior expressa-se e projecta-se como um conflito com os outros seres e com o próprio Mundo. A raiz deste conflito é não compreender correctamente quem somos. É um tema profundo, difícil de abordar numa entrevista, mas posso dar um exemplo prático: enquanto eu acreditar, consciente ou inconscientemente, que a minha felicidade é mais importante que a dos outros, estarei em conflito com a realidade. Desta crença, surge a maioria dos conflitos exteriores.

Se abandonarmos esta crença ignorante através da compreensão de que a felicidade dos outros é tão importante quanto a minha própria felicidade, os conflitos desaparecem. Esta é a experiência de milhares de pessoas, tanto actuais como de gerações anteriores.

CL – A Iluminação é uma aprendizagem para nos sentirmos melhor connosco próprios ou a descoberta de um caminho para nos relacionarmos melhor com os nossos semelhantes?

GKR– Ambas as coisas. A Iluminação é um estado que alcançamos ao melhorar as nossas qualidades humanas por meio do desenvolvimento da capacidade da nossa mente. Embora signifique a libertação pessoal de todo o sofrimento, a motivação real para atingir este estado é a compaixão, o desejo de beneficiar todos os seres e de guiá-los a este mesmo estado de plenitude e libertação.

CAIXA

EXEMPLO SEGUIDO EM TODO O MUNDO

Je Tsongkhapa (1357-1419) foi um grande mestre budista tibetano que fomentou o budismo Kadampa, que o mestre indiano Atisha (982-1054) havia introduzido no Tibete. A sua aparição foi prevista por Buda.

Je Tsongkhapa ensinou aos tibetanos o que eles precisavam de saber para alcançarem o desenvolvimento espiritual, desde os passos iniciais para a meditação até à realização final desse percurso.

Durante a época de ouro do Tibete, milhares de tibetanos foram inspirados pelo exemplo difundido por Je Tsongkhapa, baseado “em pura disciplina moral, grande compaixão e profunda sabedoria libertadora”.

Os seguidores de Je Tsongkhapa ficaram conhecidos como os ‘novos Kadampas’. Actualmente, budistas Kadampas em todo o Mundo estudam os seus ensinamentos e tentam imitar o seu exemplo.

Autor: Luís Curado

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