Edifício Cruzeiro: Uma nova centralidade cultural em Cascais

A Câmara Municipal de Cascais (CMC) comemorou em ambiente de festa multidisciplinar a inauguração do renovado Edifício Cruzeiro, que iniciou no passado dia 28 de Janeiro uma nova fase da sua existência, agora como Academia de Artes do Estoril, naquilo que é a concretização de um projecto ambicioso no concelho de Cascais, com a criação de um pólo cultural dedicado às artes performativas, como o Teatro, o Cinema, a Música e a Dança.

O icónico edifício desenhado originalmente pelo arquitecto Filipe Nobre de Figueiredo (1913-1989) abriu portas pela primeira vez, em 1951, como o primeiro centro comercial existente em Portugal. A sua construção foi dada como terminada em 1947, dois anos depois do final da II Guerra Mundial, que na Europa terminou após a rendição, em Berlim, da Alemanha Nazi a 7 de Maio de 1945.

Foi preciso esperar mais cerca de quatro meses para que o terrível conflito bélico, que envolveu 26 países e causou de 55 a 80 milhões de mortos (consoante os vários historiadores), entre militares e civis, chegasse finalmente ao fim, após a rendição do Japão a 2 de Setembro de 1945, depois de os EUA terem lançado duas bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasáqui, em 6 e 9 de Agosto.

Perante o final de uma guerra de triste memória para a Humanidade, despontou o desejo de reconstrução e de relançamento da Economia mundial. Foi assim que o Edifício Cruzeiro veio a dar lugar a um templo de consumo que fez história, mantendo-se durante anos como uma referência não só no concelho, mas também em todo o País, tornando-se num ex-libris da arquitectura moderna de Cascais.

Bastante procurado por consumidores ávidos de novidades e visitado por muitas personalidades nacionais e estrangeiras, incluindo monarcas e milionários europeus que permaneceram em Portugal no período do pós-guerra, no seu apogeu o centro comercial chegou a ter 40 estabelecimentos comerciais, um rinque de patinagem, um cinema, uma casa de fados, um salão de jogos e discotecas.

Com o passar dos anos e o aumento da concorrência, o Edifício Cruzeiro foi perdendo o fulgor dos primeiros tempos, acabando por entrar num processo de degradação, que culminou no seu encerramento, depois de quase todas as lojas terem encerrado por falta de visitantes. Já sem utilização e devoluto, chegou a estar prevista a sua demolição para dar lugar a um novo projecto habitacional.

Finalmente, em Novembro de 2016, o icónico edifício do Estoril, que guarda as memórias da juventude de muitos cascalenses, acabou por ser adquirido pela CMC a um Fundo de Pensões do BPI, entidade proprietária do imóvel, pelo valor simbólico de 100 mil euros, sendo que a autarquia recebeu luz verde do Tribunal de Contas para a realização das tão desejadas obras de requalificação em 2019.

“CUMPRIDO OBJECTIVO IMPORTANTE”

“Estamos aqui hoje para celebrar a Arte e a Cultura. Estou muito feliz e orgulhoso por ter cumprido mais um objectivo importante, em que vamos ter a possibilidade de ter aqui a Escola Profissional de Teatro de Cascais, o Teatro Experimental de Cascais, o Conservatório de Música e Dança de Cascais e a Companhia de Dança de Paulo Ribeiro. Estou feliz por ver aqui muita Juventude, muita Cultura e Formação, quer dos jovens que vão estar envolvidos nas escolas de Teatro, Música e Dança, quer a formação de novos públicos”, referiu o presidente da CMC, Carlos Carreiras, durante a cerimónia de inauguração.

“Hoje, verificou-se aqui uma enchente daqueles que queriam renovado o Edifício Cruzeiro. Todos eles se cruzaram comigo com uma cara muito alegre, muitos a darem-me os parabéns e a sentirem-se orgulhosos, também eles, pela obra que está aqui feita. Este dia é um marco na Cultura não só de Cascais, mas também a nível nacional, pois serão pucos aqueles que têm o privilégio de ter um equipamento como este”, acrescentou o autarca, realçando que “ainda há muito por fazer”.

“Foi um objectivo que concretizámos e não escondo, por falsa modéstia, que o fizemos com muito orgulho. Estamos a completar algo que não foi pensado minimamente para as funções que irá agora desenvolver, mas que para mim tem algum significado, porque na verdade passamos de um centro comercial, ou seja, um centro de consumo, para um centro de arte e para celebrarmos a Arte e a Cultura”, comentou Carlos Carreiras.

Igualmente presente na cerimónia de inauguração do renovado Edifício Cruzeiro, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, assinalou que são precisos mais espaços públicos para a Cultura. “Isso é fundamental para criarmos comunidades, para nos encontrarmos uns com os outros, para criarmos laços de pertença”, realçou o governante, acrescentando que “os espaços públicos, que têm uma dimensão também formativa, são fundamentais para criar dinamismo na Cultura.”

Também Salvato Telles de Menezes, Director Municipal do Departamento de Conhecimento, Património e Promoção Cultural, manifestou satisfação com a obra realizada. “A Academia de Artes e a Vila das Artes, que hoje aqui começam, são o exemplo de uma intervenção na Cultura de forma coerente e bem pensada sobre o que era necessário para completar os equipamentos que Cascais já oferece, nomeadamente o Bairro dos Museus, dedicado às Artes Plásticas. Esta é a concretização de uma visão estratégica que Cascais tem desde há bastante tempo para a Cultura”, disse o também presidente da Fundação D. Luís I.

FESTA RIJA E DIVERSIFICADA

A festa em torno da cerimónia de inauguração do novo espaço cultural cascalense contou, como não podia deixar de ser, com muita Música, Dança, Teatro e não só. Do jazz ao fado, passando pela música clássica, cante alentejano, mornas e batuques africanos, houve de tudo um pouco. O programa contou ainda com samba e outras danças mais clássicas e não faltaram também actuações de teatro e exibições de cinema e vídeo. Uma celebração da Cultura num edifício que marcou a juventude de muitos cascalenses.

Além das escolas de teatro, música e dança, nesta nova fase da sua vida, o Edifício Cruzeiro acolhe também uma extensa biblioteca enriquecida com a colecção doada por José de Matos-Cruz, escritor, jornalista, editor, professor do ensino superior, investigador e enciclopedista que foi também funcionário da Cinemateca Portuguesa, tendo-se destacado como historiador do Cinema Português com vasta obra publicada em vários domínios.

Em termos de equipamento, a nova Academia de Artes do Estoril dispõe de um moderno auditório, dotado com as técnicas mais recentes, com capacidade para mais de 300 pessoas, um palco com 150 metros quadrados, três camarins e uma sala de projecção. Cerca de duas dezenas de salas equipadas especialmente para o efeito irão ser utilizadas para a vertente formativa e educativa. A nova infraestrutura conta ainda com espaço para um café-concerto.

No que diz respeito ao edifício em si, o projecto de requalificação, a cargo do atelier do arquitecto Miguel Arruda, manteve a icónica fachada com a torre, onde está instalada a biblioteca, e as populares arcadas incluídas do projecto original de Filipe Nobre de Figueiredo, sendo que o interior foi alvo de uma intervenção profunda, tendo sido totalmente renovado com a criação de novos espaços destinados à nova finalidade que vai ter.

A profunda intervenção de requalificação realizada no imóvel, assumida pela autarquia cascalense, representou um investimento de 8 milhões de euros. “A Cultura é um dos fortes investimentos que Cascais tem feito e está a fazer porque as Artes e a Cultura são um factor de coesão e união da comunidade que gera uma cadeia de valor para quem cá vive e para quem nos visita”, justifica Carlos Carreiras.

De acordo com a CMC, a Academia de Artes do Estoril funcionará como “uma nova centralidade cultural para ser usufruída por todos” e será o ponto de partida da Vila das Artes, que inclui um conjunto de equipamentos municipais no perímetro envolvente, como o Museu da Música Portuguesa, o Auditório Fernando Lopes-Graça, no Parque Palmela, o Conservatório de Música e Dança de Cascais, o Teatro Municipal Mirita Casimiro e o Auditório Sra. da Boa Nova, entre outros.

Autor: Redacção

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