Sinfónica de Cascais encerra Festas do Mar com espectáculo original

Após dois anos de intervalo forçado devido à pandemia Covid-19, as tradicionais Festas do Mar, promovidas pela Câmara Municipal de Cascais e pelo Turismo local, estão de regresso à Baía de Cascais. A edição deste ano, dividida em dois períodos de quatro dias cada, de 25 a 28 de Agosto e de 1 a 4 de Setembro, vai encerrar com um espectáculo original, protagonizado pela Orquestra Sinfónica de Cascais. O colectivo de músicos, dirigido pelo maestro Nikolay Lalov, vai actuar no último domingo das festas e prepara-se para lançar um desafio especial ao público: vão ser tocadas músicas do Top RFM que vão poder ser cantadas por quem o desejar. Para isso, vão ser disponibilizados microfones em vários pontos da Baía de Cascais e, com a ajuda de teleponto, todos poderão dar largas ao seu talento vocal. Os espectáculos das Festas do Mar têm entrada livre.

Nikolay Lalov, natural da Bulgária, tem desenvolvido uma extensa actividade artística como maestro, violinista e pedagogo. A sua capacidade de organização e o seu entusiasmo impeliram-no à formação de orquestras e conjuntos na Bulgária e em Portugal, onde reside desde 1989. Tinha, então, 29 anos. A Orquestra dos Professores de Música (Sófia, 1987-1988), o Ensemble Concertino (1992), a Orquestra Juvenil da Cidade de Évora (1992) e, finalmente, a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras (1996) são exemplos da sua capacidade de iniciativa e vontade de concretização em prol de uma produção musical inovadora e de qualidade. Actualmente, é o Director Artístico e Maestro Titular da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras (OCCO), dirigindo também a Orquestra Sinfónica de Cascais, um projecto desenvolvido com o objectivo de complementar a oferta musical no concelho cascalense.

Em parceria com a sua esposa, Stela Lalova, Nikolay Lalov escreveu a primeira ópera infantil composta em Portugal, intitulada ‘Um Sonho Mágico’. É ainda o principal responsável pela criação, em 2008, do Conservatório de Música de Cascais, uma escola de Ensino Artístico Especializado da Música com financiamento do Ministério da Educação para leccionar Cursos Oficiais de Música, nos graus de ensino Básico e Secundário. Em 2014, o Conservatório, que faz parte da Associação Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, expandiu a sua oferta com a abertura de um Departamento de Dança, cujo curso foi oficializado em 2017. O jornal ‘O Correio da Linha’ foi saber junto do maestro Nikolay Lalov mais pormenores sobre a participação da Orquestra Sinfónica de Cascais nas Festas do Mar 2022, aproveitando a oportunidade para ficar a conhecer melhor os seus projectos artísticos.

Foto: Paulo Rodrigues

“MOMENTO ÚNICO E ESTIMULANTE”

Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – O que significa para si a participação da Orquestra Sinfónica de Cascais (OSC) nas Festas do Mar 2022?

Maestro Nikolay Lalov (NL) – Todos os músicos da Orquestra participam com muito gosto, alegria e uma certa curiosidade. Participar num festival diferente e com repertório diferente é sempre um desafio. Toda a população é convidada a cantar e a divertir-se.

CL – Como surgiu a ideia de encerrar as Festas do Mar 2022 com a OSC a tocar músicas do Top RFM, que vão poder ser cantadas por elementos do público?

NL – A proposta veio da parte do Dr. Bernardo de Barros (Presidente da Associação do Turismo de Cascais) e todos aceitámos com a mesma prontidão e disponibilidade de sempre. Tocar as músicas com o público todo a cantar é um momento único e estimulante.

CL – Quanto tempo vai demorar a actuação da OSC e quantas músicas vão ser interpretadas?

NL – O tempo total do espectáculo é de cerca de 1h30/2h00. Vamos interpretar 25 músicas.

CL – Quantos músicos vão estar em palco no dia 4 de Setembro?

NL – Cerca de 70.

CL – Já existe uma lista das músicas seleccionadas, ou só vão ser conhecidas mais em cima da data do concerto?

NL – Existe, mas é um segredo!

CL – De quanto tempo vai dispor a Orquestra para poder ensaiar as músicas que vai interpretar?

NL – Vai ser uma semana de trabalho intenso.

MAIS CONCERTOS AGENDADOS

CL – Até ao final do ano, quantos mais espectáculos tem a OSC agendados?  

NL – A OSC é um projecto na base da estrutura da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras (OCCO) e é financiado na totalidade pela Câmara Municipal de Cascais. Durante a pandemia e com a limitação do número de músicos em palco, o projecto foi suspenso. Neste momento, estamos a planear mais um concerto em Dezembro e mais cinco concertos em 2023, a começar com o já tradicional espectáculo de Ano Novo, no Casino Estoril.

CL – Com quantos elementos conta actualmente a OSC? Quantos professores do Conservatório de Música de Cascais participam neste projecto?

NL – A OSC utiliza a base dos músicos da OCCO, acrescentando mais músicos convidados, até 75/80 elementos, conforme o repertório e o local do espectáculo. Grande parte deles, cerca de 25 elementos, são músicos e professores do Conservatório.

CL – Quantos alunos estudam actualmente no Conservatório de Música de Cascais?

NL – Apesar dos efeitos da pandemia, neste momento no Conservatório estão matriculados entre 350 e 400 alunos. Este número só pode ser confirmado no início de Setembro quando acabam as matrículas, que estão neste momento ainda abertas. O Conservatório tem dois pólos, com as parcerias com a Escola Frey Gonçalo de Azevedo, em São Domingos de Rana, e a EB 2/3 de Santo. António, na Parede, com cerca de 100 alunos de ensino articulado.

CL – Como foi ter de lidar com as dificuldades impostas pela pandemia COVID-19? Como decorreram as aulas no Conservatório e os ensaios da OCCO e da OSC?

NL – A pandemia afectou todos. A grande dificuldade foi na realização das aulas ‘online’, que no caso da Música são muito difíceis de realizar. A Orquestra cumpriu todas as regras da Direcção-Geral da Saúde e durante um período realizou espectáculos transmitidos em ‘streaming’ ou gravações, com todas as precauções em termos de distanciamento e desinfecção. Sofremos bastante com as condições, no entanto não tivemos concertos cancelados, o que foi uma sorte. Registámos poucos casos de Covid entre os músicos e os professores.

CL – Enquanto Director Artístico da OCCO e da OSC e Director do Conservatório de Música de Cascais, quais os momentos que recorda com maior prazer?

NL – Sem dúvida, o primeiro concerto da OCCO, em 2000, e também o Grande Concerto dos 20 anos da OCCO, com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Foram momentos muito especiais. No entanto, todos os concertos da OSC e da OCCO são partes importantes da minha memória profissional, com especial carinho para os Concertos de Ano Novo, com uma maior participação minha (como apresentador), e obviamente os grandes concertos na Baía de Cascais, com 90 mil ou mais pessoas a mostrar a sua alegria e entusiasmo. São momentos que ficam para sempre.

Foto: Paulo Rodrigues

“PANDEMIA EXPÔS FRAGILIDADES”

CL – O Ensino da Música é devidamente apoiado em Portugal? 

NL – Verificou-se um grande salto no Ensino da Música em Portugal desde 1995, com a abertura das escolas profissionais de Música e, mais tarde, com os apoios ao ensino articulado de Música nos Conservatórios. Como músico e pessoa que dedicou muito tempo da sua vida ao Ensino, considero que o Estado deve continuar a dar o seu apoio de uma forma mais sustentada e sem sobressaltos ou alterações das regras, e pensar também na criação de estruturas que possam absorver os músicos profissionais de forma segura e duradoura. A pandemia mostrou a fragilidade da forma como o Estado apoiava as entidades ligadas à Música em geral, não estimulando a criação de estruturas sólidas, dando prioridade à criação de postos de trabalho. Neste sentido, o exemplo dado pela OCCO e o apoio dado pelas duas autarquias, Oeiras e Cascais, é um excelente exemplo a seguir.

CL – Como está a decorrer o projecto da Orquestra Juvenil de Cascais?

NL – A Orquestra Juvenil de Cascais foi criada com o objectivo de possibilitar a continuação da aprendizagem de um instrumento aos alunos que transitam de ensino no Conservatório para as Universidades ou para as Escolas Superiores de Música, mantendo a sua ligação com Cascais e com a Música. A grande dificuldade encontra-se na conciliação dos horários e na ocupação diária dos seus elementos. No entanto, é gratificante sentir o entusiasmo e a dedicação de todos e o crescimento profissional de muitos elementos da orquestra, muitos dos quais já conquistaram prémios, encontrando-se na fase final da sua licenciatura e no início de uma carreira profissional.

Estou convencido que em breve alguns dos convidados da OCCO serão antigos membros da Orquestra Juvenil de Cascais.

CL – Outros projectos para o futuro?

NL – Aguardo com especial expectativa a entrada em funcionamento da Academia das Artes do Estoril (Antigo Cruzeiro). Já tenho preparado um projecto muito ambicioso e interessante, não só para os músicos em Portugal, como para trazer para o Estoril jovens de todo o Mundo para conviverem com a Música e aprenderem num ambiente fantástico e acolhedor.

Os primeiros passos foram dados com a realização da Academia de Direcção de Orquestra, cuja terceira edição foi realizada em Julho. No entanto, o projecto é muito mais ambicioso e interessante. No devido momento, será anunciado.

Autor: Luís Curado

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