Expedição Lusitânia celebra centenário da I Travessia Aérea do Atlântico Sul

A Associação David Melgueiro (ADM), em parceria com a Associação Nacional de Cruzeiros (ANC) e com o patrocínio da Estoril Sol Casinos (ESC) Online, está a organizar a Expedição Lusitânia, que vai ligar por mar as cidades de Lisboa e do Rio de Janeiro, com o objectivo de celebrar o centenário da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, entre a Europa e a América do Sul, um feito extraordinário protagonizado há 100 anos pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

A expedição, que partiu de Lisboa no passado dia 3 de Abril, é subordinada ao lema ‘Salve os Oceanos – Salve a Humanidade’ e pretende alertar também para os problemas ambientais causados pela poluição que tem assolado, sobretudo nas últimas décadas, os Oceanos em todo o Mundo. O ‘tiro de partida’ para o evento foi dado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, junto à Torre de Belém e ao Monumento do Hidroavião ‘Lusitânia’, a aeronave que iniciou a mesma travessia entre Portugal e o Brasil, em 30 de Março de 1922.

A cerimónia que assinalou o Centenário da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul foi presidida pelo Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, e contou com as presenças da Ministra da Defesa Nacional, Helena Carreiras, do chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, almirante António Silva Ribeiro, do chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Henrique Gouveia e Melo, e do chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general João Cartaxo Alves.

Marcaram ainda presença na celebração ocorrida em Belém, que culminou com a partida de uma flotilha de dez veleiros participantes na Expedição Lusitânia, Luís Vieira-Baptista, Presidente da Associação David Melgueiro, António Bessa de Carvalho, Presidente da Associação Nacional de Cruzeiros, e António Vieira Coelho, Administrador Executivo da Estoril Sol, entre outras individualidades. A cerimónia foi acompanhada por milhares de pessoas, que se deslocaram a Belém para assistir em directo à celebração.

Foto: Paulo Rodrigues

“RETIRAR LIÇÕES PARA O FUTURO”

Durante a sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de referir que, 100 anos depois do feito alcançado por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, “vale a pena celebrar” esse passado, salientando, contudo, que isso “só vale a pena se retirarmos lições para o futuro”. Realçou ainda o Presidente da República que só vale a pena celebrar esse passado se, para além dos milhares de portugueses e dos “bravos jovens militares”, que acompanharam a cerimónia militar em Belém, “Portugal entender o que foi feito, como foi feito, o que significou, o que quis dizer, se isso passar de geração em geração”, porque, sublinhou, “é com a memória do passado que construímos a glória do futuro.”

Nesse sentido, Marcelo Rebelo de Sousa reforçou a importância de “apostarmos mais na Ciência, na Tecnologia e nas Forças Armadas”, destacando que assim “estaremos a honrar o passado que hoje celebramos.” Para o Presidente da República, a celebração também só vale a pena se levarmos mais longe “a fraternidade que nos une a países tão próximos por onde passaram os dois heróis” portugueses, como a Espanha e Cabo Verde, mas sobretudo “se neste ano, do Bicentenário da Independência do Brasil, reafirmamos esses laços de fraternidade. Se o Brasil sentir este feito como sentiu há 100 anos, se nós sentirmos a fraternidade entre portugueses e brasileiros como sentimos há 100 anos”, aquando da chegada dos aeronautas portugueses ao Rio de Janeiro.

“Precisamos de sair daqui hoje, e por isso é tão importante a Expedição Lusitânia que irá partir para terras do Brasil, com a certeza que valeu a pena aquilo que fizeram Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Valeu a pena e vale a pena termos as Forças Armadas que temos. Valeu a pena e vale a pena apostarmos na Educação, na Formação, na Qualificação, na Ciência, na Tecnologia. Valeu a pena e vale a pena olharmos para o passado para construirmos o futuro”, defendeu o Presidente da República, terminando o seu discurso com uma sucessão de votos: “Glória hoje e sempre a Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Glória hoje e sempre às nossas bravas Forças Armadas. Glória hoje e sempre à fraternidade entre Portugal e o Brasil. Glória hoje e sempre ao nosso Portugal”.

A cerimónia comemorativa presidida por Marcelo Rebelo de Sousa incluiu um desfile militar dos três ramos das Forças Armadas e um desfile aeronaval que registou a participação de 16 aeronaves, entre as quais caças F16 e helicópteros militares, cerca de 60 embarcações e seis navios. Foi ainda descerrada uma placa alusiva ao centenário da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul no monumento alusivo à proeza realizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral em 1922, sendo que o ‘tiro de partida’ para a Expedição Lusitânia foi dado ao som de uma buzina accionada pelo Presidente da República.

Foto: Paulo Rodrigues

ASPECTOS DA VIAGEM NO ATLÂNTICO SUL

Integrados no Festival Aeronaval, os dez veleiros participantes na travessia atlântica, entre os 10 e os 12 metros de comprimento, cujos proprietários são membros da ADM e da ANC, iniciaram a viagem Lisboa – Rio de Janeiro acompanhados por navios da Marinha e aviões da Força Aérea, bem como de embarcações do Tejo e outros veleiros. Os Navios da República Portuguesa (NRP) ‘Zarco’ e ‘Polar’, dois veleiros da Escola Naval, acompanharam a etapa inaugural da travessia transatlântica, entre Lisboa e o Funchal, na Madeira.

A flotilha de veleiros que participam na Expedição Lusitânia deverá chegar, no final do próximo mês de Junho, à cidade brasileira do Rio de Janeiro. Próximo do final do ano, mais concretamente em Novembro, após a época de ciclones no Atlântico, inicia-se o regresso das embarcações até Portugal, estando previsto que a chegada a Lisboa possa ocorrer entre os meses de Julho e Setembro de 2023.

A Expedição Lusitânia vai procurar realizar o mesmo percurso cumprido por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, repetindo as datas de partida de Lisboa e chegada ao Rio de Janeiro. A travessia inclui paragens nos portos de Las Palmas (Ilhas Canárias, Espanha), Mindelo (Cabo Verde), Fernando de Noronha, Recife, Salvador da Baia, Porto Seguro, Vitoria e Rio de Janeiro (Brasil). Na viagem de regresso será percorrida a região das Caraíbas, com passagem por Cuba, Bermudas e pelo arquipélago dos Açores, antes da chegada a Lisboa.

Foto: Paulo Rodrigues

PROGRAMA CULTURAL NOS PONTOS DE PARAGEM

Estão previstas várias iniciativas culturais a realizar nos vários pontos de paragem da Expedição Lusitânia, sendo que foi também cumprido um vasto programa de índole lúdica e cultural antes da partida da flotilha para o Brasil. Os veleiros que participam no evento puderam ser visitados no Cais de Espera da Marina de Oeiras e foram organizados apontamentos de animação musical no dia da bênção dos veleiros, ocorrida durante uma cerimónia celebrada pelo Capelão da Marinha.

O programa incluiu também, no dia 30 de Março, precisamente no dia em que teve início, há 100 anos, a Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul protagonizada pelo Almirante Gago Coutinho e pelo Comandante Sacadura Cabral a bordo do hidroavião Fairey III (baptizado Lusitânia), uma largada simbólica junto à Torre de Belém e ao Monumento do Hidroavião ‘Lusitânia’. Foi também realizado, nesse mesmo dia, um concerto pela Banda de Música da Força Aérea no Centro Cultural de Belém.

Ainda no dia 30 de Março, os CTT – Correios de Portugal lançaram uma emissão filatélica especial para assinalar o centenário da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, composta por três selos correspondentes ao valor facial de 1,05 euros, com uma tiragem de 75 mil exemplares cada. Foi ainda lançado um livro institucional sobre o feito protagonizado por Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

No dia seguinte, 31 de Março, decorreu no Museu do Ar, em Pêro Pinheiro (Sintra), uma cerimónia especial durante a qual foi entregue aos capitães dos veleiros participantes na Expedição Lusitânia uma moeda comemorativa, cunhada pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda, uma das instituições que apoia o projecto, juntamente com o Estado Maior da Armada, Ministério dos Negócios Estrangeiros e Movimento Internacional Lusófono, entre outras.

A Expedição Lusitânia distingue-se ainda pela sua importante componente ambientalista, lançando um importante alerta para a protecção dos Oceanos, que convida a sociedade a reflectir sobre o impacto do desenvolvimento não sustentável, que tanto tem afectado os Oceanos em todo o Mundo, impondo a urgência de tomar medidas que possam salvar o Planeta dos excessos cometidos. Todos os veleiros que participam no evento transportam um dístico com a frase ‘Salve os Oceanos – Salve a Humanidade’.

TRÊS SELOS, TRÊS HIDROAVIÕES

Os três selos comemorativos lançados pelos CTT no passado dia 30 de Março representam os três hidroaviões monomotor utilizados porGago Coutinho e Sacadura Cabral na extraordinária aventura que foi a Primeira TravessiaAérea do Atlântico Sul. O primeiro aparelho, que partiu de Lisboa a 30 de Março de 1922, foi o Fairey IIID versão Mark II F 400, equipado com um motor Rolls-Royce, identificado pelo construtor como Transatlantic Load Carrier e baptizado com o nome de ‘Lusitânia’ por decreto governamental. Devido a avarias e danos sofridos, a viagem acabou por ser bastante atribulada, tendo sido usadas três aeronaves para cumprir o percurso entre Portugal e o Brasil.

Os problemas técnicos registados na escala efectuada em Fernando Noronha, Brasil, obrigaram a utilizar um segundo hidroavião, o Fairey IIID F 401, matrícula 16, baptizado com o nome ‘Pátria’, que ficou à deriva em 11 de Maio de 1922, após ter sofrido uma amaragem de emergência na sequência de uma avaria no motor. Finalmente, a Travessia foi finalizada no Rio de Janeiro, após escalas em Salvador, Porto Seguro e Vitória, por um terceiro aparelho, o Fairey IIID F 402, matrícula 17, a 17 de Junho de 1922. Este hidroavião, que amarou na baía de Guanabara, foi baptizado como ‘Santa Cruz’ aquando da sua chegada ao Brasil.

Depois de terem percorrido 4.527 milhas náuticas com um total acumulado de voo de 62 horas e 26 minutos sobre o Oceano Atlântico, Gago Coutinho e Sacadura Cabral foram recebidos em festa pela população do Rio de Janeiro, cumprindo uma heroica façanha nunca antes alcançada. A aventura permitiu também a Gago Coutinho provar que era possível efectuar voos de grande distância sobre o Oceano com precisão recorrendo a um novo tipo de sextante que o próprio desenvolveu.

A TAP associou-se também às comemorações do centenário da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, tendo baptizado um dos seus aviões, um Airbus A330-900, com o nome ‘Santa Cruz’, em homenagem ao terceiro hidroavião usado por Gago Coutinho e Sacadura Cabral para cumprirem a última etapa da sua aventura, correspondente à chegada ao Brasil. Este Airbus vai ser usado numa viagem comemorativa da TAP, a realizar em Julho, entre Lisboa e o Rio de Janeiro.

Autor: Redacção

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