Elsa Freitas: “Tudo se consegue com trabalho e dedicação”

A Escola de Dança da Lev’Arte está sediada em Caparide, na freguesia de São Domingos de Rana, concelho de Cascais. Criada em Setembro de 2018 por duas mulheres apaixonadas pela Dança, disponibiliza aulas para alunos de todas as idades, desde os três anos até aos 65 anos. Os limites para testar as capacidades de quem tem vontade de aprender são apenas impostos pela determinação de chegar mais longe, de pôr à prova o desejo de explorar novos horizontes.

A aposta lançada por este projecto fortemente dedicado ao Ballet Clássico, mas não só, tem valido vários prémios conquistados aquém e além-fronteiras, nomeadamente no Campeonato Mundial All Dance World 2021, com a escola cascalense a arrecadar 11 prémios em 11 coreografias apresentadas. Um feito meritório que veio trazer uma responsabilidade acrescida a Elsa Paes de Freitas e Patrícia Vieira, protagonistas de uma aventura que não tem parado de crescer.

Além do Ballet Clássico, a escola promove também o ensino da Dança Contemporânea, Dança Irlandesa e Danças Tradicionais. Paralelamente, o Teatro e o Yoga complementam o leque de ofertas da Lev’Arte. Entre aulas, ensaios e muito trabalho, planeado para alcançar níveis de excelência, o jornal ‘O Correio da Linha’ foi saber mais sobre este projecto educativo junto das suas duas mentoras, ambas professoras de Dança, apostadas em fazer diferente.

Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – Como e quando surgiu a ideia de criar a Escola de Dança Lev’Arte – Ballet – Associação Cultural e Recreativa?

Elsa Paes de Freitas (EPF) – A vontade de ter um espaço sempre esteve presente. Mesmo trabalhando para outros espaços e professores, o objectivo era sempre o de ter um espaço próprio. Fui criando uma pequena escola dentro de uma colectividade, onde a Patrícia Vieira também dava aulas nos cursos de Verão e Natal. Em 2018, decidimos as duas que estava na hora de apostarmos na nossa própria escola. E assim foi. Em Setembro desse ano, era criada a Lev’Arte.

CL – Quantas pessoas colaboram neste projecto?

EPF – Além de nós as duas, temos mais cinco professores de várias áreas. No Ballet (crianças, adultos e pontas) sou eu e as professoras Daniela Morais e Isabel Galriça. No Ballet Contemporâneo temos o professor Bruno Paredes, na Dança Irlandesa e Danças Tradicionais a professora Patrícia Vieira, no Teatro a professora Maria Mouga Muge e no Yoga a professora Márcia Matos. Todos professores formados nas suas áreas, e com grande experiência pedagógica, o que achamos fundamental.

CL – Com quantos alunos conta a Escola? Dentro de que idades?

EPF – Neste momento, temos cerca de 50 alunos, dos 3 aos 65 anos. Como pode ver-se a dança é para todos.

CL – Onde têm actuado? Em que eventos têm participado?

EPF – Temos actuado um pouco por todo o País. Além do nosso espectáculo de final de ano, onde participam todos os nossos alunos, temos participado também em várias competições nacionais e internacionais. Participamos em todos os All Dance (Portugal e World), Dance World Cup, Algarve Dance Open, Festival de S. Domingos de Rana, Festival Corpo, entre outros. Vamos também dançar a outros eventos, como aconteceu recentemente no Centro de Vacinação do Estoril.

CL – Conquistaram recentemente vários prémios num importante evento internacional? Que prémios foram esses? E o que representaram para a escola?

EPF – É verdade. Estamos muito orgulhosos e felizes com os resultados obtidos. Estivemos presentes no All Dance World, na final mundial da competição All Dance, que decorreu entre 24 e 28 de Novembro, em Orlando, EUA. Foram apurados os três primeiros lugares de cada escalão e estilo da qualificação de cada país.

Este ano, devido a toda a situação que atravessamos, e uma vez que o evento o permitia, participámos via online. Não é a mesma experiência, de longe, mas tanto pais como alunos sabiam, e todos quiseram participar. A nossa escola apresentou 11 coreografias e conseguimos 11 prémios (ver caixa).

“MOTIVAÇÃO PARA CONTINUAR A TRABALHAR CADA VEZ MAIS”

 

CL – Estes prémios trouxeram uma responsabilidade acrescida à escola?

EPF – A responsabilidade de representar a nossa Escola com a maior qualidade, trabalho e humildade possível sempre foi o que nos motivou. Interessa-nos mais a experiência que proporcionamos aos nossos alunos, o dar-lhes a conhecer o trabalho de outros bailarinos e escolas, promover experiências de autoconhecimento, de trabalho de equipa, de desafio e superação. Mas claro que receber prémios é sempre um bónus e um reconhecimento muito grande que lhes dá motivação para continuar a trabalhar cada vez mais.

CL – Que outros prémios têm conquistado?

EPF – Como escola, no All Dance Portugal em 2021, recebemos o prémio de Escola Trajectória pela nossa constante participação e prémios recebidos ao longo das várias edições nacionais e internacionais deste campeonato. Para além disto, temos ganho prémios nas várias edições do Festival Internacional Jovem de S. Domingos de Rana, no Dance World Cup em 2020, no Algarve Dance Open em 2019, no Festival Internacional IDance em 2021 e no GPRio 2021 (Grand Prix de Dança do Rio de Janeiro).

CL – Como costumam divulgar o trabalho realizado pela Escola?

EPF – Basicamente através das redes sociais e através dos nossos superpais, que são os nossos maiores apoiantes.

CL – É difícil promover o ensino do Ballet entre os mais jovens?

EPF – Pensamos que o que é difícil é mantê-los ao longo do tempo e fazê-los entender que para se ser bailarino, mas que não seja a nível profissional, é preciso ter muita força de vontade, espírito de sacrifício e de trabalho. Mas lá está, quando se gosta, tudo é muito mais fácil.

CL – Qualquer jovem pode ser aluno da Escola? Ou é necessário ter determinadas aptidões?

EPF – Qualquer criança, jovem ou adulto pode ser aluno da nossa Escola. O que interessa é ter vontade e motivação. Tudo o resto se consegue com trabalho e dedicação.

CL – Que tipos de Ballet ensinam na Escola? Tem uma vertente mais clássica ou mais moderna?

EPF – Na nossa Escola temos por base a metodologia de Ballet Clássico da escola francesa, mais clássica. No entanto, vamos buscar muita coisa a outras escolas, como a inglesa ou a cubana. Achamos que ambas têm as suas características próprias e gostamos de ir buscar um pouco de cada uma. Mas a base, é sempre a escola francesa.

CL – Além do Ballet, a Escola ensina outro tipo de danças? Ou tem outros cursos a decorrer?

EPF – Sim, danças e não só. Para além do Ballet Clássico, temos aulas regulares de Dança Contemporânea, Dança Irlandesa, Danças Tradicionais, Teatro e Yoga.

“TRABALHAMOS MUITO EM EQUIPA”

 

CL – Quem é responsável pela escolha dos temas e coreografias que interpretam?

EPF – Cada professor tem a sua ideia e inspiração para as coreografias dentro do seu estilo, mas trabalhamos muito em equipa, trocamos ideias e decidimos as melhores escolhas para cada aluno ou turma.

CL – A Escola conta com algum apoio das instituições locais (Câmara e Junta de Freguesia, por exemplo) para desenvolver a sua actividade?

EPF – Apoio regular não. Temos recebido alguns apoios pontuais na cedência de locais para ensaiar ou realizar espectáculos, em deslocações e algumas competições tanto por parte da Junta de Freguesia de S. Domingos de Rana, União das Freguesias de Carcavelos e Parede e Câmara Municipal de Cascais.

CL – Quais as maiores dificuldades que têm sentido para levar em frente o projecto da Escola?

EPF – As maiores dificuldades são conseguir ter, dentro dos nossos objectivos, uma oferta acessível a todos e não só a uma elite e ainda assim conseguir ter uma escola auto-sustentável financeiramente.

CL – Como ultrapassaram as dificuldades impostas pela crise sanitária que atravessamos? Como foi lidar com essa alteração do quotidiano?

EPF – Nos períodos de confinamento passámos as nossas aulas para online e conseguimos dar continuidade ao trabalho (com limitações, claro) e cumprir com a maioria dos objectivos para cada turma.

Criámos outras actividades para estimular os nossos alunos a não perderem a motivação, tais como trabalhos (teóricos e práticos) para preparar e entregar, aulas online por professores estrangeiros recomendadas por nós, entre outras. Não foi fácil para ninguém ter que adaptar as suas casas e ritmo de trabalho, mas podemos orgulhar-nos de ter perdido poucos alunos neste processo.

CL – Onde costumam ensaiar/preparar as actuações? Têm algum espaço próprio?

EPF – Fazemos sempre os ensaios e todos os preparativos nos estúdios da nossa Escola. Por vezes, quando temos muitos bailarinos a participar num determinado espectáculo tentamos fazer alguns ensaios num espaço de maiores dimensões que mais se assemelhe às dimensões reais do palco onde vamos actuar.

CL – Quais os principais eventos, nacionais e internacionais, em que contam actuar este ano?

EPF – Está confirmada a nossa presença no All Dance Portugal nos dias 1, 2 e 3 de Abril, que qualifica para o Europeu e Mundial de 2022. Temos ainda outros eventos ‘na manga’, mas que ainda estão sujeitos a confirmação.

CL – Além do Ballet, costumam promover outros eventos/actividades? O que está previsto?

EPF – Sim. Todos os anos temos os nossos cursos de Natal e de Verão, nos quais os alunos têm várias aulas diferentes ao longo do dia. Temos também várias Masterclasses com professores convidados. No final do ano, apresentamos o nosso espectáculo de final de ano, com todos os nossos alunos. Antes da pandemia, tínhamos ainda workshops de Danças do Mundo e chegámos a ter um baile. Esperamos poder retomar rapidamente essas actividades.

CL – Projectos para o futuro?

EPF – Acima de tudo, esperamos continuar a crescer e a dançar um pouco por todo o Mundo

BREVE CURRÍCULO NA PRIMEIRA PESSOA

Comecei as minhas aulas de Ballet aos quatro anos de idade, como outras meninas. Acabou por ser uma paixão que me seguiu sempre. Aos 18 anos, decidi que a Dança seria a minha vida e entrei na Escola Superior de Dança (ESD), onde terminei o curso de Educação da Dança, em 2004. Nesta escola trabalhei com grandes nomes, como Benvindo Fonseca, Graça Barroso, Mark de Graef, Patrick Hurd e Pedro Carneiro entre muito outros.

Enquanto estudava na ESD iniciei também o meu percurso como professora. Desde então, dou aulas em várias escolas públicas e particulares e em escolas de Dança. Trabalhei com grandes mestres da Ecole Française de Maitres de Danse Classique, tendo concluído o curso de Metodologia desta prestigiada escola em 2007.

Continuo ainda a minha formação. Fiz, entre outros, o curso de Progressing Ballet Technique (PBT), o curso de Metodologia Cubana com a professora Annarella e o curso de dança Criativa com Flavia Burlini.

 

11 PRÉMIOS EM 11 POSSÍVEIS

A Escola Lev’Arte participou na final mundial da competição All Dance World com 20 jovens bailarinos das suas fileiras que apresentaram 11 coreografias, todas elas premiadas, seis das quais com primeiros prémios. A saber: ‘Libertatem’ (Dueto Neoclássico, Nível Jovens), ‘Solidão’ (Solo Contemporâneo, Nível Jovens), ‘Tecnologic’ (Trio Contemporâneo, Nível Jovens), ‘Lake View’ (Grupo Pequeno Dança Irlandesa, Nível Pré-jovens), ‘Dance Above the Rainbow’ (Dueto Dança Irlandesa, Nível Pré-jovens) e ‘Remixed’ (Trio Dança Irlandesa, Nível Jovens).

A Escola de Elsa Paes de Freitas e Patrícia Vieira conquistou ainda três segundos prémios, com as coreografias ‘Tea’ (Trio Repertório Ballet Clássico, Nível Pré-jovens), ‘Valsa Chopin’ (Grupo Pequeno Neoclássico, Nível Pré-jovens) e ‘Snowflakes’ (Grupo Grande Repertório Clássico, Nível Open Pré-jovens e Jovens). A estes prémios somou mais dois terceiros lugares, conseguidos com as coreografias ‘Floating’ (Dueto Contemporâneo, Nível Pré-jovens) e ‘Speechless’ (Grupo Pequeno Contemporâneo, Nível Pré-jovens).

 

Autor: Luís Curado

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