Associação aposta na interacção entre jovens e seniores

‘Encontros De Braço Dado’ é o nome de uma associação sociocultural sem fins lucrativos, constituída em 2016 e sediada em Massamá, no concelho de Sintra, que desenvolve a sua actividade propondo iniciativas diferenciadoras, com o propósito de promover uma interacção, saudável e desejável, entre os mais jovens e os seniores, fazendo renascer um convívio que tem vindo a perder-se numa sociedade marcada por ritmos de vida tantas vezes inconciliáveis.

Entre as iniciativas lançadas por esta associação, destacam-se, por exemplo, um Clube de Artes e Manualidades, aulas de Ginástica Mental, sessões de Confiança e Autoestima, Pilates Clínico, Yoga, Atelier de Neurónios, Conversas à Solta, Costura Criativa para Crianças e um Clube de Tricot e Crochet. Um conjunto de actividades socioculturais que tem por objectivo dinamizar a comunidade e promover o desenvolvimento pessoal entre elementos de todas as faixas etárias.

Ao contrário do que habitualmente acontece, em que as actividades realizadas por este tipo de associações estão mais vocacionadas para um tipo de utente específico, neste caso pretende-se promover, como opção diferenciadora, a interacção entre as diferentes faixas etárias com os mais variados problemas, com enfoque nos casos de maior isolamento e fragilidade social, com vista à melhoria da qualidade de vida da população em geral.

“Uma comunidade mais activa e participativa é uma comunidade mais feliz!”, defende a direcção da associação sintrense, que incentiva os utentes a participarem nas múltiplas iniciativas propostas. Uma das que mais têm dado que falar foi criada e desenvolvida por uma jovem de 18 anos, Beatriz Martins (ver caixa), que tinha apenas 15 anos quando fez nascer o projecto ‘Broadway Kids-Teatro Musical’, destinado a crianças entre os 6 e os 12 anos.

O jornal ‘O Correio da Linha’ foi procurar saber mais sobre a associação ‘Encontros de Braço Dado’ com duas das suas principais impulsionadoras, Ana Martins e Salomé Carvalho, responsáveis pela direcção da instituição. A elas se tem ficado a dever grande parte do empenho e resiliência necessários para levar em frente este inovador projecto, que nos dois últimos anos enfrentou, como muitos outros, as dificuldades acrescidas trazidas pela pandemia COVID-19.

Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – O projeto ‘Broadway Kids’ é actualmente a maior aposta da Associação? Como explica o seu sucesso?

Encontros de Braço Dado (EBD) – Na Associação não temos maiores apostas, apostamos em todas as actividades que desenvolvemos da mesma maneira. Mas temos um particular prazer em servir de rampa de lançamento a projectos que nascem connosco, mas têm voo próprio e asas de ‘longo curso’, como é o caso dos ‘Broadway Kids’. O empreendedorismo jovem é um tema e um foco que nos tocam muito e este projecto é uma prova de que a idade não é impedimento quando outros valores se sobrepõem. O nosso mérito é ter acreditado, a razão do sucesso é sem dúvida de quem sonhou e concretizou.

“FOI PRECISO ENCONTRAR FORMAS ALTERNATIVAS PARA CONTINUAR A CHEGAR À COMUNIDADE”

CL – Como é que a Associação tem enfrentado esta fase de crise sanitária? Que dificuldades tem encontrado para desenvolver as suas actividades? E que soluções tem desenvolvido para as ultrapassar?

EBD – A ‘Encontros de Braço Dado’ encontrava-se numa excelente fase quando surgiu a pandemia e foi preciso encontrar formas alternativas de continuar a chegar à comunidade, agora mais necessitada do que nunca do nosso apoio. Todas as actividades com caraterísticas que o permitiam passaram a ser realizadas on-line e foram criadas outras completamente gratuitas, especificamente para essa altura, e com base nesse tipo de recurso. Nunca a nossa página no Facebook foi tão activa e visitada, acabámos por crescer em dinâmica. Isso só mostra que existe mesmo sempre um reverso da medalha. Obviamente que a nível de recursos financeiros, que nos permitam fazer face às despesas, saímos fragilizados. Contudo, acreditamos que o futuro será de retoma de toda a dinâmica anterior, ao nível presencial.

CL – Quais são os principais projectos desenvolvidos pela Associação? E a quem se dirigem?

EBD – A Associação trabalha para a comunidade local, mas também para a população em geral. Ninguém que queira participar nas nossas actividades é excluído. Como trabalhamos para todos, sem limite de idade ou contexto, as nossas actividades são extremamente diversas e vão mudando ao longo do tempo para conseguir chegar ao gosto e vontade de participação de todos. Os nossos objectivos são a valorização individual de cada participante nas nossas acções ao nível cultural e do bem-estar. Pretendemos a promoção do encontro natural entre gerações, poder proporcionar novas experiências para todos e fomentar o espírito de participação, de partilha e de grupo.

Entre os nossos projectos, temos desde os Clubes de Artes e Manualidades, Costura Criativa, Tricot e Crochet até actividades como Meditação Guiada, Yoga e Meditação Infantil, Escrita Criativa, Neurofitness, Yoga 50+, Pilates Clínico, Teatro, Workshops temáticos, e discussões e debates no Conversas à Solta e Atelier de Neurónios. Participamos também em diversos eventos em sistema de parceria, como é o caso do ‘Real Teen Bands Festival’, um festival de bandas no que está no seu início, neste caso em parceria com o Real Sport Clube. Estamos sempre abertos a propostas de novas actividades.

“NÃO SOMOS PELA POLÍTICA DE ESTAR DEPENDENTES APENAS DE SUBSÍDIOS”

CL – Com que apoios conta a Associação?

EBD – A ‘Encontros de Braço Dado’ conta actualmente com o apoio da União de Freguesias de Massamá e Monte Abraão. Parte das actividades gera recursos básicos para se poderem promover as seguintes e consideramos que o estabelecimento de parcerias é fundamental para a sobrevivência de qualquer associação. Não somos pela política de estar dependentes apenas de subsídios. O apoio financeiro das entidades locais é imprescindível em alguns casos, mas as associações também têm de fazer a sua parte e encontrar as suas próprias formas de sobrevivência.

CL – Todos podem participar nas actividades desenvolvidas pela Associação, ou apenas sócios?

EBD – Como já referimos, trabalhamos para todos. Neste momento, é difícil dizer para quantos. Presencialmente, antes da pandemia, trabalharíamos mensalmente com cerca de 500 pessoas, nem sempre as mesmas, dado que as actividades variam e com elas os participantes. Entretanto, durante a pandemia, as sessões on-line abertas atiraram-nos para números impensáveis a crer no número de visualizações de cada sessão. Só no Festival Internacional e no Projecto Broadway Kids, entre videoclipes, mini curtas-metragens e outras actividades realizadas, as visualizações ultrapassaram a fasquia das 150 mil em todo o Mundo.

CL – ‘Encontros De Braço Dado’ porquê?

EBD – ‘Encontros de Braço Dado’ porque foi lado-a-lado e entrelaçadas, numa vontade única, que um grupo de mulheres muito diferentes iniciou este projecto, acreditando que seria uma mais-valia para a comunidade, e pretendeu continuar a dar o braço a quem viesse por bem e a causas pertinentes e justas.

CL – É difícil criar e manter uma associação solidária, recreativa, cultural, de ocupação de tempos livres, que promova o bem-estar da comunidade?

EBD – Diríamos que não é difícil criar, mas é difícil manter, sendo que este é o desafio e a recompensa da concretização.

CL – O isolamento e a fragilidade social acentuaram-se com a crise sanitária que enfrentamos?

EBD – Para nós, enquanto Associação, foi muito notório. Muitas pessoas que estavam nas nossas actividades ficaram em situações de grande precariedade, sem emprego e sem terem como fazer face às despesas do dia-a-dia.

CL – É complicado atingir o objectivo de promover uma comunidade mais activa? As pessoas precisam de ser convencidas a manter essa actividade, ou fazem falta mais oportunidades para a incentivar?

EBD – Do que temos percebido, há muitas e diversas oportunidades que muitas vezes não são conhecidas ou aproveitadas, por isso o enfoque na nossa opinião é trabalhar o hábito de participação.

CL – A Associação assinalou recentemente o seu quinto aniversário. O que destaca com maior prazer ao longo deste percurso de cinco anos?

EBD – Pensamos que talvez o mais marcante foi ter conseguido ganhar o nosso lugar na comunidade. Acreditamos que hoje somos uma Associação reconhecida pelo trabalho e, mais importante, percebida nos objectivos.

CL – Como perspectiva o futuro da Associação?

EBD – Uma associação que trabalha para todos trabalha com planos, mas planos flexíveis, porque está inerentemente ligada ao que se passa com cada um dos seus utentes. Pretendemos, contudo, continuar a ser úteis à comunidade e encontrar sempre uma forma inovadora de o fazer… daí vem o crescimento individual e de grupo.

 

UMA JOVEM SUPERMOTIVADA COM PROJECTOS VENCEDORES

Beatriz Martins é uma jovem supermotivada na concretização dos seus objectivos. Desde muito nova demonstrou interesse por tudo o que estivesse relacionado com Arte. Com apenas 15 anos, assumiu os papéis de criadora e directora do projecto ‘Broadway-Kids’, um grupo de Teatro Musical Infantil inclusivo, que trabalha com crianças dos 6 aos 12 anos. Com 16 anos, foi também a criadora e directora do Festival Internacional de Teatro Musical Infantil On-line (Kids Snhine On-World International Musical Theater Festival), que envolveu apresentações de mais de mil crianças de todo o Mundo e a participação de actores convidados da Broadway (Nova Iorque, EUA) e do Westend (Londres, Inglaterra).

Actualmente com 18 anos, Beatriz Martins tem o curso de Artes do Espectáculo e Interpretação da Escola Profissional do Teatro Experimental de Cascais e o sexto grau (correspondente ao terceiro nível) do Trinity College of London em Teatro Musical. O seu currículo inclui ainda formação em canto, canto lírico e dança, formação em ‘Writting, Acting, Shootting’ para Televisão e Cinema e formação em locução e dobragens, sendo que trabalha profissionalmente em todas estas áreas, bem como em Publicidade. Aqui fica uma pequena conversa com esta talentosa jovem sobre os seus principais projectos.

Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – Criou o projecto ‘Broadway Kids’ ainda muito jovem. A que atribui o sucesso obtido e até onde pode chegar este projecto?

Beatriz Martins (BM) – Tinha 15 anos quando apresentei o projecto à associação ‘Encontros de Braço Dado’, onde já era voluntária. Agradeço do coração que tenham acreditado em mim e na mais-valia do que estava a propor. Tentei explicar tudo o melhor possível, mas, claro, nada era garantido por ser muito nova e estar a pedir à associação que embarcasse numa enorme aventura. Acho que o sucesso obtido tem a ver com o poder que o Teatro pode ter na vida das pessoas.

O ‘Broadway Kids – Teatro Musical’ é uma actividade inclusiva, vive do amor, trabalha com crianças de todos os contextos e com diversos tipos de necessidades. É uma actividade muito completa, que junta a representação, o canto e a dança. É divertido e aliciante, porque ao longo do ano preparam duas peças baseadas nos musicais da Broadway, que depois apresentam com grande rigor e profissionalismo em palco, para além de participarem em imensas outras aventuras.

Mas o mais importante nesta actividade é que as crianças trabalham sobre si próprias, a autoestima, a empatia, a confiança, o desenvolvimento cognitivo e motor, o trabalho em grupo, o respeito pelo outro e a generosidade, que fazem o verdadeiro ‘actor’.

Onde poderemos chegar com este projecto? Vou responder com o lema do nosso Festival Internacional: “Não tem língua, não tem cor, não tem limites”. Iremos onde o caminho nos levar… Para já, o objectivo é aumentar a inclusividade, proporcionando a um maior número de crianças fragilizadas a possibilidade de participar neste mundo maravilhoso.

CL – Quantas crianças estão envolvidas actualmente no projecto ‘Broadway Kids’?

BM – Os ‘Broadway Kids’ começaram por ser 17. Actualmente são 100, oriundos da comunidade local, Massamá e Monte Abraão, mas também, e por mais incrível que pareça, de Odivelas, Sacavém, Amadora, Cascais, Mafra, Ericeira e Sesimbra, o que me emociona pelo esforço desenvolvido por estas crianças e pelos pais que as trazem para a actividade. Os meus meninos são fantásticos e especiais e os pais não lhes ficam atrás.

CL – Como tem sido o desenvolvimento deste projecto nestes dois anos marcados por tantas limitações decorrentes da pandemia COVID-19?

BM – Foram dois anos em que foi preciso respirar fundo e reinventar tudo. O importante era não desiludir e não deixar cair aquelas crianças, que já estavam a perder tanta coisa, numa fase tão importante das suas vidas. Passámos a ter aulas on-line, dei mais de 400 aulas nessa altura, individuais e em grupo. Começámos depois a realizar outro tipo de actividades, como videoclipes. Foi quando me apercebi que, como os ‘meus meninos’, tristes e desiludidos com a pandemia, havia muitos outros pelo Mundo fora que estariam iguais. Sem palco, surgiu a ideia de fazer um Festival Internacional on-line. Foi assim que surgiu o projecto ‘Kids Shine On-World International Musical Theater Festival’, que abrangeu mais de mil crianças e verdadeiros actores da Broadway e do Westend. Ter conseguido isso foi qualquer coisa que nem consigo ainda hoje processar. Foi maravilhoso assistir a dois dias de festival, com mais de quatro horas em directo, com apresentações de escolas e grupos de teatro musical de todo o Mundo que acreditaram numa miúda de 16 anos e aderiram. Estou sem palavras até hoje… só um enorme sentimento de gratidão.

Aproveito aqui a oportunidade para agradecer à União de Freguesias de Massamá e Monte Abraão o apoio que tem dado quer ao projecto ‘Broadway Kids’, inclusive com a cedência do espaço para os ensaios durante a pandemia, quer ao Festival, que sem esse apoio teria sido muito difícil realizar.

CL – Como imagina o seu futuro artístico?

BM – Sem dúvida, a fazer o que mais gosto. Felizmente, neste momento já tenho oportunidade de trabalhar profissionalmente nos diversos campos da representação, Teatro, Cinema, dobragens, locução, Publicidade… Acredito que o Teatro é poderoso a trabalhar por causas e a dar voz a quem precisa, e eu quero fazer isso. Os ‘Broadway Kids’ são também um projecto para continuar e quem sabe a próxima aventura já esteja mesmo, mesmo quase a ser revelada.

 

BREVE HISTÓRIA DA ASSOCIAÇÃO

A associação ‘Encontros de Braço Dado’ nasceu em Junho de 2016 da vontade de seis mulheres muito diferentes em personalidade e formação, mas unidas na vontade de fazer algo mais pela comunidade e colocar-se ao serviço da mesma. Nesse mesmo ano, ganhou o Orçamento Participativo da União de Freguesias de Massamá e Monte Abraão com o projecto ‘Mais Saber Melhor Viver’, que proporcionava a todos, gratuitamente, um leque variadíssimo de actividades de todo o género. Este projecto permitiu à associação criar os primeiros laços com a comunidade e estabelecer o caminho que tem vindo a percorrer no âmbito do desenvolvimento pessoal dos seus utentes com vista à melhoria da qualidade de vida da população em geral.

Os leitores interessados em conhecer melhor as iniciativas e actividades desta Associação podem visitar a sua página no Facebook, em https://www.facebook.com/DeBracoDado

Autor: Luís Curado

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