“Temos quase todas as nossas verbas alocadas à Acção Social”

A presidente da União das Freguesias de Queluz e Belas (UFQB), Paula Alves, ocupa o cargo desde 2013, encontrando-se actualmente a cumprir o seu segundo mandato. A acção social e a requalificação das ruas e espaços da freguesia têm sido algumas das suas prioridades. Com o intuito de perceber de que forma é que a Junta tem conduzido um ano especialmente desafiante, bem como conhecer as acções em curso na freguesia, o jornal ‘O Correio da Linha’ esteve à conversa com a autarca.

O Correio da Linha (CL) – Dada a actual situação de pandemia, quais as medidas adoptadas pela UFQB para assegurar a segurança dos seus trabalhadores? 

Paula Alves (PA) – Este tem sido um ano completamente atípico. Desde o aparecimento dos primeiros casos de COVID-19 que começámos a tomar medidas e elaborámos o nosso plano de contingência. Mantivemos sempre os nossos serviços a funcionar assegurando a protecção e segurança dos nossos funcionários. Nesse sentido, recorremos ao uso obrigatório de máscara e ao distanciamento social. Procurámos criar condições para que, na eventualidade de termos um funcionário infectado, tudo se desenrolasse com tranquilidade. Felizmente, até hoje não registámos nenhum caso de contágio.

CL – Têm recebido mais pedidos de apoio no vosso serviço de Acção Social?

PA – Antes da pandemia tínhamos cerca de 700 pedidos de apoio. Neste momento apoiamos cerca de 2000 pessoas. Isto obrigou-nos a reorganizar o nosso gabinete de Acção Social e muitos funcionários da Junta estão, inclusive, com funções reajustadas devido às necessidades que temos tido. Houve uma enorme procura de apoio alimentar, tanto que, a partir de Março, tivemos de começar a recorrer a uma superfície comercial para conseguir responder ao aumento de pedidos. Estamos também a receber muitos pedidos reencaminhados pelo Banco Alimentar. Quando estes pedidos nos chegam temos de entrar em contacto com as pessoas, pedir-lhes documentos, perceber quais as suas condições e se reúnem os critérios para serem apoiados. Isto leva o seu tempo, mas se constatamos que há famílias em situação de emergência fornecemos desde logo um dos nossos cabazes alimentares. Além disso, aquilo que chega do Banco Alimentar, na maioria das vezes, não é suficiente para apoiar as famílias, pelo que ainda temos de adquirir mais alimentos.

Na sequência da desocupação do espaço que virá a ser a nova Unidade de Saúde de Belas encontrámos um local onde coabitam agora dois equipamentos sociais de suporte à população: a Boutique Social e o Gabinete de Inserção Profissional (GIP). A Boutique Social visa criar, na freguesia, uma resposta aos agregados familiares cuja situação financeira não lhes permita colmatar necessidades de vestuário e calçado. Com a situação que se vive actualmente, registámos um aumento da procura de emprego pelo que o GIP tem tido uma actividade de extrema importância. Neste Gabinete é feito o acompanhamento personalizado, no âmbito do emprego e formação. Pretendemos, assim, chegar a um maior número de cidadãos e responder de forma cada vez mais próxima e ade- quada às necessidades sentidas na nossa envolvente, promovendo melhores condições no acesso a bens essenciais que dignificam a vida em comunidade. 

CL – O regresso às aulas representou um momento de grande preocupação dado o contexto actual. De que forma é que a Autarquia preparou as escolas da freguesia para este momento?

PA – Estivemos sempre em contacto com os agrupamentos e sabemos que fizeram todos os possíveis para que o regresso às aulas fosse feito com o máximo de condições e em segurança. Em conjunto com a Câmara Municipal de Sintra (CMS), procedemos a pequenas reparações nas escolas e fizemos a manutenção de equipamentos. Foi levada a cabo a colocação de sinalética e feita a repavimentação dos espaços. Na escola EB2, por exemplo, ajudámos com a colocação de um novo toldo. Aliás, toda essa escola está a ser alvo de uma remodelação e vai ser a primeira escola no País a ter uma ciclovia. A Câmara foi também decisiva na aquisição de equipamento de protecção individual para professores e auxiliares das escolas e alunos.

Foto: UFQB

CL – A nível cultural, uma vez que não se podem realizar eventos presenciais, têm tentado realizá-los de forma alternativa?

PA – Tentamos realizar alguns eventos através do nosso Facebook e do site e vamos realizando pequenas acções. A título de exemplo, no mês passado, recebemos os jovens pelos quais, no Dia da Criança, havíamos distribuído sementes no âmbito da iniciativa ‘Retratos à Porta’. Desde então, eles cuidaram dessas sementes e em Setembro vieram até às nossas instalações e fomos cultivar essas plantas, respeitando sempre as normas de segurança.

CL – Que medidas têm levado a cabo ao nível do Ambiente?

PA – Uma medida muito importante foi a criação de uma linha directa para a recolha de monos (sofás, colchões, etc.). A população não deve deixar os seus monos na rua. Basta ligar para o número 210 503 401 – que, inclusive, está afixado nos contentores da freguesia – e é feito o agendamento do dia e da hora a que a pessoa deve deixar o mono junto do contentor de resíduos urbanos mais próximo da sua residência para procedermos à sua recolha. Isto é essencial para termos uma freguesia mais limpa, melhor cuidada e sobretudo protegida. Neste aspecto é também de salientar que procedemos à entrega gratuita de sacos para a recolha de dejectos caninos. Para tal, basta dirigirem-se às nossas instalações. De forma a facilitar a comunicação com os nossos fregueses, criámos o QBon, uma aplicação onde os cidadãos podem apresentar uma reclamação ou sugestão e ir acompanhado o estado das mesmas.

CL – Recentemente terminaram as obras de uma ciclovia que se prolonga por uma extensão de cinco quilómetros. Quais as mais-valias desta obra?

PA – Este equipamento contribui não só para a qualidade ambiental mas também para a saúde dos seus utilizadores. Dado o actual contexto, em que as pessoas estão mais condicionadas nas suas saídas e na prática de exercício físico em ginásios, esta ciclovia é uma forma de as pessoas não só praticarem desporto, mas também de arejarem, evitando assim problemas de saúde mental. Felizmente na freguesia de Queluz temos muitos equipamentos que fomentam a prática desportiva: o Parque Municipal do Pego Longo, o Jardim da Samaritana, o Parque Urbano da Barota, o Parque Felício Loureiro e a Mata da Matinha. Estes são espaços de lazer que a ciclovia veio ligar.

Foto: Paulo Rodrigues

CL – Quais considera serem actualmente os principais problemas da freguesia?

PA – Neste momento estamos a tentar responder da melhor forma a esta pandemia e garantir que o comércio local retoma o máximo possível a sua actividade. Para tal, temos promovido e divulgado algumas iniciativas como a entrega ao domicílio de alimentos ou refeições, sobretudo a pessoas idosas, por parte dos nossos comerciantes. Estamos também a reforçar e a incentivar o uso do cartão QB+, que permite ao seu portador usufruir de descontos ou promoções nos estabelecimentos comerciais que aderiram a esta iniciativa.

CL –Resta um ano até ao final do seu mandato. Quais os projectos que ainda gostava de realizar enquanto presidente da União das Freguesias? 

PA – Digo desde sempre que enquanto houver pessoas a passar fome, há coisas que não podem avançar. Por muito que tenhamos ideias e que queiramos deixar trabalho feito, temos de ter noção que há prioridades e enquanto elas existirem, tudo o resto é folclore. Eu nunca fiz promessas, assumi compromissos e todos os que eu e a minha equipa assumimos estamos a conseguir concretizar. Desde que assumimos funções demos especial atenção à Acção Social, pois somos uma freguesia com uma população envelhecida e com muitas carências. Claro que ainda há algumas coisas que gostaríamos de ver concretizadas, mas neste momento temos quase todas as nossas verbas alocadas à Acção Social. Mas, de tudo o que já fizemos, o Centro de Saúde de Queluz assume uma enorme importância, assim como o Centro de Saúde de Belas, que está em fase de construção. A CMS foi fundamental para ambos os projectos tendo-nos apoiado financeiramente. Neste momento estamos também a proceder à reconstrução do antigo cinema de Belas. Até agora não dispúnhamos de um espaço próprio para promover a cultura na nossa freguesia, a não ser nos salões das duas corporações de bombeiros (a de Queluz e a de Belas), que são óptimos e só temos a agradecer o facto de ambas as associações terem estado sempre disponíveis para receber as nossas iniciativas. Felizmente, o senhor Presidente da Câmara Municipal e o senhor vice-presidente tiveram a sensibilidade de olhar para o espaço do antigo cinema e perceber que precisava de ser requalificado. Retomar aquele espaço vai ser muito gratificante. 

O parque Feliciano Loureiro também está a ser alvo de uma recuperação, depois de ter sido totalmente vandalizado durante o período de confinamento, em que grupos de pessoas se reuniam ali para fazerem festas. Será um parque intergeracional uma vez que terá equipamentos infantis e um circuito de workout. Terá uma vedação e um vigilante durante o horário de funcionamento do parque. No mês passado, terminaram as obras de requalificação do Parque Infantil da Quinta do Mirante, no Pendão. Esta intervenção veio dar ao espaço melhores condições valorizando-o e qualificando-o. Os trabalhos contemplaram a substituição da superfície de impacto existente por piso em borracha colorida e a colocação de novos equipamentos. 

Foto: Paulo Rodrigues

De referir também a obra feita recentemente, com o apoio da CMS, ao nível da recuperação do pavimento da estrada, junto aos Arcos na Ponte Pedrinha. Aquela é uma zona histórica e a sua traça foi mantida pelo que o investimento acabou por ser maior do que estava previsto. Esta era uma intervenção que já estava pensada há algum tempo, mas que, devido à circulação automóvel na zona se tornava difícil. O confinamento veio permitir que se avançasse com isso. Foi uma obra em tempo recorde, durou um mês. 

Gostava ainda de salientar o facto de termos sido distinguidos pela Ordem dos Psicólogos Portugueses com o selo ‘Comunidade Pró-Envelhecimento’, que reconhece e distingue as comunidades portuguesas, cujas políticas, programas, planos estratégicos e práticas demonstram um compromisso forte e efectivo com a promoção do envelhecimento saudável e bem-sucedido ao longo de todo o ciclo de vida. Isto é muito importante para nós dada a elevada expressão que a população idosa tem no nosso concelho.

CL – Como é a vossa relação com a Câmara Municipal de Sintra?

PA – É excelente. A Câmara tem assumido uma postura de rigor, honestidade, seriedade e reconhecimento pelas necessidades de cada uma das freguesias do concelho. Além disso, o senhor presidente da Câmara é uma pessoa que tem visão de futuro, mas que também sabe identificar as necessidades e as prioridades das suas freguesias. A Câmara tem-nos apoiado sempre no essencial.

Autor: Raquel Luís

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