Pandemia reforça importância das IPSS

A Associação de Assistência a Idosos e Deficientes de Oeiras (AAIDO) foi fundada em Março de 1991 com a identidade de uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) vocacionada para o atendimento a pessoas idosas e/ou dependentes, sendo dotada ainda com uma vertente de Lar para Idosos.

Num País a braços com o elevado grau de envelhecimento da sua população, a preocupação com os seniores adquire uma importância crescente, nomeadamente ao nível dos mais elementares cuidados de saúde, alimentação, higiene e conforto, sem esquecer também o indispensável combate à solidão e isolamento.

Criada com base numa iniciativa lançada por 18 sócios fundadores, tendo como mentora Maria do Carmo Vicente Geraldo, a AAIDO foi reconhecida como uma instituição de utilidade pública sem fins lucrativos, que trabalha nas áreas de apoio à população idosa desfavorecida e carenciada. Simultaneamente, desenvolve ainda acções no domínio do apoio social e da família.

Foto: Paulo Rodrigues

ETAPAS IMPORTANTES NA HISTÓRIA DA AAIDO

Em 1993, a associação inaugurou um Centro de Dia no Bairro da Tapada do Mocho, em Oeiras. Volvidos quatro anos, ocorreu um novo e importante passo no percurso da instituição, com a assinatura do protocolo de cedência das Instalações dos Serviços Sociais da Presidência do Conselho de Ministros em regime de comodato.

Seguiu-se, em 1999, uma nova inauguração de instalações determinante para o desenvolvimento do projecto desta IPSS, no caso a Estrutura Residencial Para Pessoas Idosas (ERPI) na Pedreira Italiana, ali instalada no quadro de um protocolo assinado em 1996 entre a Câmara Municipal de Oeiras e a associação.

De acordo com os estatutos, é missão da AAIDO a “prestação de cuidados individualizados e personalizados no domicílio ou não, a indivíduos e famílias, quando por motivo de doença, deficiência ou outro impedimento, não possam assegurar temporariamente ou permanentemente a satisfação das suas necessidades básicas e ou as actividades da sua vida diária”.

Obedecendo a este propósito, a instituição presta apoio a mais de uma centena de pessoas, contando para isso com as suas três valências: apoio domiciliário disponibilizado a 70 utentes, acompanhamento prestado a 30 utentes no Centro de Dia e internamento de 10 utentes na sua Unidade Residencial (ERPI).

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SERVIÇOS READAPTADOS DEVIDO À PANDEMIA COVID-19

No actual contexto de pandemia COVID-19, e após a declaração dos estados de emergência e de calamidade no País, a AAIDO sentiu necessidade de readaptar os serviços prestados aos utentes. “Foi preciso fazer uma readaptação, nomeadamente no que se refere ao Centro de Dia”, confirma a Directora Técnica da instituição.

A Dra Sibila Geraldo, que é também sócia fundadora da associação, refere que a AAIDO tomou a iniciativa de encerrar o Centro de Dia no dia 13 de Março de 2020, sendo que os utentes passaram a receber no seu domicílio os serviços prestados naquela valência. “Uma solução que não resolve o problema do isolamento, porque o Centro de Dia tem como principal objectivo o combate ao isolamento e prevenção de institucionalização em Estrutura Residencial Para Pessoas Idosas (ERPI)”, assinala.

“Entretanto, por força do teletrabalho, alguns utentes ficaram acompanhados com família de suporte, enquanto outros se mantiveram dependentes do acompanhamento da AAIDO, visto também estarem sem poder receber visitas dos familiares”, explica a Directora Técnica da associação.

Ao nível do apoio prestado no domicílio, que teve de ser ampliado para responder às necessidades e abranger o acompanhamento aos utentes do Centro de Dia, a IPSS instalada em Oeiras decidiu reforçar o equipamento de prevenção disponibilizado às equipas do Serviço de Apoio Domiciliário (SAD).

“As funcionárias do SAD passaram a ser também agentes de acompanhamento na vigilância de sintomas que possam indiciar doença. No futuro, temos que pensar em rever o modelo de apoio domiciliário, atendendo a ser um serviço cada vez mais solicitado”, argumenta a responsável técnica, defendendo que “será preciso alargar os serviços e apostar no desenvolvimento das novas tecnologias no acompanhamento à distância”.

Foto: Paulo Rodrigues

ISOLAMENTO E RESTRIÇÕES MOTIVARAM QUEIXAS DOS UTENTES

A necessidade de confinamento social devido à pandemia de COVID-19 motivou queixas por parte dos utentes. “O mais difícil foi aceitar o isolamento e as restrições, conseguir reter os utentes nos domicílios e na ERPI reforçando a ideia de que existia perigo na exposição ao exterior. ‘Por que não posso sair?’, ‘Qual é o problema?’ e ‘Já vivo há tantos anos e já passei por tanta coisa que isto não me vai deitar abaixo’, foram algumas das questões que nos colocaram”, relata a Dra Sibila Geraldo.

“Não poderem ver a família foi complicado. Os utentes ainda nas suas capacidades mentais conseguiam compreender a situação, mas os mais debilitados não entendiam e sentiam a ausência dos familiares. Por outro lado, os familiares não poderem ver os seus entes queridos foi uma barreira que lhes trouxe muita ansiedade”, destaca a Directora Técnica da Associação.

Para a responsável técnica da AAIDO, a pandemia COVID-19 veio relembrar “a importância das Instituições Particulares de Solidariedade Social” e mostrar as fragilidades registadas em Portugal no domínio do apoio aos mais idosos. “Não temos uma boa política de acompanhamento do envelhecimento. Mais uma vez, o reforço do Centro de Dia foi esquecido. A legislação e orientações eram para as ERPIs e SADs, não se fazia referência aos Centros de Dia e Centros de Convívio”, atesta.

“Apesar das dificuldades económicas que já estavam a passar, as IPSS tiveram de fazer face a despesas extra trazidas pela pandemia. Não existem em Portugal equipamentos e serviços adequados às reais necessidades da população. Os equipamentos não estavam preparados para conseguir dar respostas às exigências que esta pandemia nos veio colocar. Por exemplo, não existia equipamento de protecção individual suficiente, o que é muito grave. E o que existia era vendido a valores muito elevados. As instituições viram-se a braços com mais despesas e com orçamentos curtíssimos”, comenta a Dra Sibila Geraldo.

Foto: Paulo Rodrigues

APOIOS IMPORTANTES PARA ENFRENTAR A CRISE

A AAIDO tem acordos de cooperação com a Segurança Social. Para desenvolver a sua actividade, a instituição conta também com vários apoios de vital importância, nomeadamente por parte da Câmara Municipal de Oeiras, “que tem tido um papel importantíssimo com um grande acompanhamento de proximidade fornecendo material de protecção uma a duas vezes por semana e mantendo contactos regulares para recolher informação sobre as necessidades da instituição”, destaca a Directora Técnica da Associação, que também recebe apoios do Banco Alimentar Contra a Fome e donativos de uma conhecida cadeia de hipermercados.

Apesar destas importantes contribuições, face ao aumento das solicitações, as ajudas disponíveis não chegam para tudo. Há medidas que ainda não puderam ser implementadas por falta de meios e verbas para as pôr em prática. “Gostaríamos de alargar o apoio domiciliário aos fins-de-semana e ao final do dia para jantares”, destaca a Dra Sibila Geraldo, que elenca uma série de carências verificadas em Portugal que impedem um apoio mais eficaz a uma população cada vez mais envelhecida.

“Fazem falta serviços adaptados às reais necessidades dos idosos. São precisas mais Unidades de Cuidados Continuados, pois com o aumento da esperança de vida os utentes têm cada vez mais debilidades e patologias. Também deveriam abrir mais Unidades Residenciais para Idosos, pois quando estão esgotadas todas as outras alternativas é necessário recorrer a uma vigilância durante 24 horas e só uma ERPI pode dar esse apoio”, destaca a responsável técnica da instituição, acrescentando que “é também importante criar estruturas de descanso para os cuidadores.”

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Autor: Luís Curado

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