Rui de Abreu: “Modelo de gestão desportiva da Vela parou no tempo”

Rui Manuel de Abreu viveu grande parte da sua vida próximo do mar, pelo qual nutriu uma paixão especial herdada do avô e do pai. Amante da Vela, dedicou muitas horas a esta modalidade náutica, dominado pelo entusiasmo que cada saída para o mar representava. Chegou a conquistar classificações honrosas em algumas provas nacionais em que participou e enfrentou o desafio de construir o seu próprio barco, segundo ‘métodos científicos’, como gosta de realçar. Agora, prepara-se para disputar os comandos de uma nova ‘embarcação’, a Federação Portuguesa de Vela (FPV), liderada desde 2016 por António Roquette, que foi também responsável pela presidência da instituição entre 1991 e 2001. O lema da candidatura espelha bem o propósito do seu objectivo: ‘Virar de Bordo e Mudar de Rumo’.

Gestor com um vasto currículo acumulado no sector financeiro (Banca e Seguros) e professor universitário com uma Tese de Doutoramento em Sociologia e Gestão do Desporto intitulada “Governance e Sustentabilidade Desportiva Náutica Federada”, Rui Manuel de Abreu apresentou recentemente o seu manifesto de candidatura às eleições para os Órgãos Sociais da FPV para o quadriénio 2020-2024. Inicialmente marcado para Setembro próximo, o acto eleitoral acabou por ser adiado para 2021, tendo sido prorrogado por mais um ano o mandato da actual direcção. O candidato à disputa da presidência, que defende um projecto de mudança e remodelação para a instituição fundada em 1927 com o desígnio de “promover e dirigir técnica e disciplinarmente o desporto da Vela” e de o representar em Portugal e no estrangeiro, não concorda com este adiamento do sufrágio.

Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – Excluindo Setembro, qual seria para si a data ideal para realizar as eleições na FPV?

Rui Manuel de Abreu (RMA) – Aquilo que eu defendo é que as eleições, não sendo em Setembro, que era a altura certa, venham a ser em Abril de 2021, depois da aprovação do Relatório de Contas de 2020. Assim, quem toma posse já tem conhecimento do que é que se passou. Acontece também após a realização do Congresso, que traça linhas orientadoras, mas não traça directrizes determinantes, são linhas orientadoras, contudo essas linhas orientadoras não podem ser ignoradas. O que o Congresso determinar deve servir de base de trabalho e pode resultar do Congresso uma coisa que não seja exatamente aquilo que a gente defenda. Esse Congresso, estatutariamente, vai ter que ser no primeiro trimestre de 2021. Em terceiro lugar, em Fevereiro de 2021, vai ser necessário realizar a nova eleição dos delegados à Assembleia Geral, que são os decisores. Nós, neste momento já temos um problema com a composição deste órgão, há dez lugares que não estão ocupados e, portanto, essa questão já devia ter sido resolvida porque o problema apareceu em 2017.

CL – Estes lugares estão vagos porquê?

RMA– A lei diz que os delegados à Assembleia Geral podem ser designados ou eleitos. A FPV adoptou uma solução mista, que é os representantes dos clubes serem designados e eleitos ao mesmo tempo, que é assim uma coisa um bocado confusa. E são designados num âmbito regional. Há um bloco eleito nacionalmente: 42. E depois há um bloco designado (na prática, é eleito) entre os pares, os clubes. Eu proporia… não está no programa, não foi discutido entre nós, mas eu proporia uma alteração do regime jurídico. Avanço aqui alguns tópicos. Um deles tem a ver com a representação dos associados na Assembleia Geral. A Assembleia Geral de uma federação não é um parlamento, os delegados não são deputados, os delegados devem ser representantes directos dos associados e não representantes indirectos. A FPV tem 84 clubes, 18 associações de classe, ou seja, tem 102 lugares ocupados, que podem ser ocupados com um delegado por associado. Portanto, temos 102 associados. Mais cinco associações regionais dá um total de 107. Num universo possível de 120 delegados.  Eu diria que cada um destes 107 associados devia ter um representante não-eleito, mas designado por cada uma daquelas entidades. E esse representante devia pertencer ao órgão dirigente directivo dessa entidade. 

Há aqui uma questão, que é a eleição dos delegados ser feita quadrienalmente de acordo com o ciclo olímpico, portanto, o seu mandato é quadrienal. A eleição dos órgãos sociais dos clubes é tendencialmente trienal, o que significa que num quadriénio os clubes mudaram pelo menos uma vez de direcção. E sabe-se que muitas vezes os clubes também são espaços de grande conflitualidade interna. Portanto, muitas vezes, a direcção que entra é opositora da que saiu. Nestes casos, o delegado que se mantém muitas vezes não está a representar aquela entidade que supostamente devia representar, mas está-se a representar a si próprio, está a desvirtuar o princípio da representatividade. Quer isto dizer que a representatividade devia ser directa e não indirecta. 

CL – Qual a razão da escolha da solução que vigora actualmente? 

RMA– Essa solução, que existe no regime jurídico, foi uma solução de unicidade. Porquê? Porque foi formatada para resolver o problema do Futebol. A lei de bases da actividade física do desporto, que é de 2005, já diz que só é possível nas assembleias gerais um representante por associado. No limite, um por associado. Só que o regime jurídico só apareceu em 2009, até lá esteve tudo ilegal, e a forma como o poder político encontrou uma solução foi ter um parlamento, porque a Federação de Futebol deve ter mais de mil clubes. Como só há um máximo de 120 lugares a solução tinha que ser por representação indirecta. Ora uma modalidade com a Vela, a Canoagem, o Remo, o Surf, o Montanhismo, a Orientação e outras não têm 120 clubes, têm menos. Portanto, as soluções deviam ser ajustadas às características das modalidades. 

CL – É, portanto, um forte crítico ao adiamento das eleições na FPV?

RMA– O facto de o mandato ser prorrogado mais um ano à boleia de completar o programa olímpico, na minha perspetiva é uma falácia. Primeiro, o programa olímpico não tem uma dimensão que justifique. É um programa que já está em velocidade cruzeiro, tem um contrato-programa com o Comité Olímpico, tem um plano de treinos, tem um plano de provas, tem treinadores, tem os equipamentos adquiridos. Portanto é um programa em velocidade cruzeiro, e infelizmente com pouca expressão na nossa modalidade. 

CL – Esta é a principal justificação para a FPV prolongar o mandato até 2021…

RMA– O governo japonês e o Comité Olímpico Internacional já disseram que os Jogos Olímpicos ou se fazem em Julho/Agosto do próximo ano ou já não vai haver Jogos, portanto o ciclo seguinte, que termina em 2024 em Paris, vai começar em 2021. As próximas eleições vão ser para um mandato de 2021/2024, pelo que este terá só três anos. Como vai haver aqui uma extensão deste ciclo até 2021, a tendência vai ser para só começar a pensar no ciclo de Paris 2024 em 2022, o que é curto. Além disso, aquilo que nós nos propomos fazer neste programa de mudança não se concretiza em 12 meses, tem de ter um plano de implementação gradual que, obviamente, será prejudicado com esta redução.

Foto: Paulo Pimenta

RAZÕES PARA UMA CANDIDATURA COM NOVAS IDEIAS

CL – O que determinou a sua candidatura?

RMA– Eu fiz um diagnóstico onde conclui que o modelo de gestão desportiva que nós temos implementado em Portugal não reúne condições para alavancar o desenvolvimento da modalidade. Nós temos um histórico de baixo número de praticantes. As modalidades náuticas em Portugal valem cerca de 2% das modalidades no seu todo. O modelo de gestão desportiva da vela digamos que parou no tempo, é um modelo que parou nos anos 90 e o Mundo mudou e a vida das pessoas também mudou. Hoje, as famílias não têm disponibilidade para ter os filhos dias inteiros, sábados e domingos, a praticar Vela, que tem a característica de ser uma modalidade de fim-de-semana. E durante a semana é muito difícil, dado a carga horária escolar não permitir que os alunos tenham tempo disponível por ser uma modalidade praticada ao ar livre no horário diurno. Por outro lado, a modalidade também não evoluiu, apesar de nos últimos anos ter tido a possibilidade de ter mais recursos financeiros por contratos celebrados com o Estado, contratos-programa. Mesmo assim não arrancou. Foi isso que determinou a minha candidatura, considerar que temos que ‘Virar de Bordo e Mudar de Rumo’, que é o lema da candidatura.

CL – Em caso de ser eleito, quais serão os principais objectivos da sua Presidência à frente da FPV?

RMA– Nós queremos aumentar o número de praticantes. É um dos nossos objectivos. Nós pensamos que há condições para aumentar pelo menos em 50 por cento o número de praticantes de base na Vela, portanto os que estão nos clubes. O rácio de praticantes/clube de Vela é metade do rácio de praticantes de outras modalidades, o que causa problemas aos clubes, que não têm receitas para depois poderem suportar a sua actividade corrente. Têm as instalações, têm os meios, ou seja, as embarcações, mas registam uma taxa de ocupação baixa por não terem praticantes. 

O modelo que predomina, embora a orientação não seja essa, é o jovem passar o dia inteiro, no sábado, por exemplo, dentro de uma instalação de um clube de Vela. Temos um problema a montante, que é o facto de não termos instalações que permitam ter os barcos apetrechados, aparelhados, o que obriga a gastar-se de início uma hora, às vezes duas, no aparelhamento dos barcos e depois, ao fim do dia, a gastar-se mais uma hora, ou meia hora, no mínimo, para fazer o inverso. Temos de adoptar um modelo mais eficaz e adequado às necessidades e características da Vela.

CL – E como é que se pode alterar essa situação?

RMA– No imediato, em relação às instalações, pouco se pode fazer, mas podemos implementar um outro modelo de gestão. Posso dar casos concretos para se perceber melhor. Nós temos quatro modelos em Portugal continental, porque nas ilhas é outra conversa. Temos um modelo clássico, que é o clube que tem umas instalações muito precárias, inadaptadas para a prática da vela, o que é a maioria. Depois temos dois ou três clubes no continente, um dos quais aqui na zona da linha do Estoril, bastante bem equipado do ponto de vista do acesso à água, mas é um caso muito especial. Temos também um caso de sucesso em Viana do Castelo, em que o município fez um investimento de raiz, com fundos comunitários, 85 por cento, e tem instalações bastante modernas, das melhores da Europa, adequadas, mas que é um modelo que não está ao alcance da maior parte dos municípios.

Além destes três exemplos, temos um quarto modelo de gestão existente em Setúbal e que é facilmente replicável. Neste caso, o município investiu na requalificação de instalações que têm origem em edifícios da administração do porto. A autarquia fez e suportou os custos da requalificação das instalações e entregou depois a gestão a um clube desportivo. Este é o modelo que me parece mais eficaz para dotar os clubes de maiores condições de oferta. Eles chamam-lhe um Centro Náutico Municipal, que o clube explora. Portanto é um concessionário do centro.

Foto: Arquivo

VISÃO ESTRATÉGICA DIFERENTE POR PARTE DAS AUTARQUIAS

CL – Passou grande parte da sua vida em Oeiras e Cascais. Na sua opinião, o que poderia ser feito nas duas marinas recreativas destes concelhos para facilitar a vida aos praticantes da Vela?

RMA– Eram necessárias duas coisas: os gestores autárquicos terem uma visão estratégica diferente daquela que têm e que houvesse algumas infraestruturas locais com fácil condição de armazenamento de barcos e de acesso à água para a actividade desportiva regular, seja aquela que é praticada durante a semana ou durante o fim-de-semana, pudesse ser feita de forma expedita. 

CL – Falta visão estratégica por parte dos municípios para a Vela poder crescer de forma sustentada e aumentar o número de praticantes?

RMA– Sem querer particularizar, do lado de uma autarquia, é necessário que haja uma visão estratégica, que haja um conhecimento do que é uma actividade desportiva náutica, que é diferente de uma actividade de pavilhão. É necessário que exista esse conhecimento e é necessário que exista aquilo que me parece mais difícil, que é existir uma predisposição para estabelecer uma relação colaborativa com uma entidade associativa. Significa isto que com essa entidade associativa, que é um clube, o centro de decisão tem de ser também partilhado. As políticas públicas desportivas municipais, o desenvolvimento da actividade desportiva regular, do desporto para todos, são os grandes programas dos municípios. Para terem mais sucesso nas náuticas têm que envolver os clubes como parceiro e gestor. Isto implica que a autarquia tenha de saber ceder alguma parte do seu poder legal institucional. Esta é uma dificuldade de um modo geral do lado das autarquias. 

CL – E do lado dos clubes, quais são as principais dificuldades que sentem para apostar num modelo de gestão mais eficaz? 

RMA– Do lado dos clubes existe uma outra dificuldade, que é o clube sair da sua concha. Os clubes funcionam muito em circuito fechado, com as suas próprias regras de funcionamento, pouco ajustáveis à evolução da procura do cidadão anónimo, e também pouco ajustáveis àquilo que são as pretensões dos municípios, porque são ópticas diferentes. Enquanto que um clube desportivo, tendencialmente, está focado no desporto de rendimento, ou seja, no treino metódico visando a competição e o resultado desportivo, o município está focado no desporto para todos, no alargamento, na democratização do acesso à prática desportiva”.

CL – As autarquias investem pouco nos desportos náuticos? Dão menos votos?

RMA– As autarquias interessam-se muito pelas actividades do Atletismo, das meias-maratonas, que mobilizam centenas ou milhares de pessoas, por serem actividades que têm um custo de execução muito baixo, serem necessários poucos meios e tecnicamente fáceis de montar. Qualquer pessoa, desde que tenha uns ténis, mesmo baratos, consegue participar e, se não tiver nenhuma preparação física, o que pode acontecer é que faz metade da prova a andar, ou mesmo a prova toda a andar. Para um município, que faz uma estatística de quantas pessoas participam nos seus programas, isto é um bom investimento. Do ponto de vista do desenvolvimento da actividade desportiva regular, do bem-estar das pessoas, da saúde, do combate à obesidade e ao sedentarismo, é um mau investimento. O que dá mais votos é a visibilidade dos eventos. 

CL – Mas sendo Portugal conhecido como um País de Marinheiros, não deveríamos promover mais essa relação com o mar?

RMA– Estamos a falar num País onde a cultura náutica na minha perspectiva é residual, nós somos um País de Marinheiros só na cabeça de algumas pessoas, porque em termos práticos isso não acontece. O cidadão comum contempla o mar, não vive o mar, contempla o mar de terra para o mar, mas nunca foi ao mar, nunca esteve dentro de água. É diferente a perspectiva vista de terra ou vista do mar. E as pessoas até têm alguma aversão a ir para a água, porque não é muito confortável, a pessoa apanha frio, molha-se, apanha calor… portanto não é uma actividade muito confortável, não está sentado num pavilhão com todo o conforto a que isso pode estar associado. É isto que sucede, portanto há aqui também factores de ordem cultural que fazem com que as modalidades náuticas e a Vela em particular tenham dificuldade em se desenvolver.

CL – Também há quem considere que a Vela é um desporto elitista. O que acha disto?

RMA– A Vela é um pouco um desporto elitista, não porque o seu acesso esteja reservado apenas às pessoas de maior rendimento económico. Não é elitista tanto por essa via, é mais elitista pelo facto de ter um modelo fechado sobre si próprio.

Foto: Paulo Pimenta

MAIOR NÚMERO DE PARTICIPANTES NOS JOGOS OLÍMPICOS

CL – As próximas eleições para a FPV serão para o quadriénio que acaba em 2024, nos Jogos Olímpicos de Paris. No caso de vir a ser eleito para comandar os destinos da Federação, quais são os resultados desportivos que gostaria que fossem alcançados sob a sua Presidência?

RMA– Um bom resultado em termos olímpicos é ficar nos oito ou dez primeiros, sendo que participar já é importante. Para já, a minha primeira meta é ter mais participantes nos Jogos, ter mais atletas a participar. Isto se os Jogos de vierem a realizar em Julho/Agosto de 2021 em Tóquio, o que só vai ser anunciado em Novembro próximo, em função do evoluir da situação da pandemia COVID-19. Se isso vier a ocorrer, o que vai provavelmente acontecer é nós podermos ter umas três participações. Temos assegurada uma participação (Jorge Lima e José Luís Costa na classe 49er) e vamos ter eventualmente mais uma ou duas (há atletas a disputar a qualificação em laser standard, laser radial e 470). É esse o nosso ponto de partida no imediato. Teremos que fazer algo no sentido de conseguir ter um maior número de participações, ou seja, três a cinco embarcações a participar. Mas para que isso aconteça, é preciso que as opções sejam feitas de forma certa, no momento certo, daí termos anunciado a candidatura agora por considerarmos que o próximo programa olímpico não pode ter três anos, conforme se está a preparar para que venha acontecer. Os ciclos olímpicos têm a duração de quatro anos. Como vai haver aqui uma extensão deste ciclo até 2021, a tendência vai ser só começar a pensar no ciclo de Paris 2024 em 2022, o que é curto.

O principal objectivo da minha equipa é conseguir ter um maior número de participações nos Jogos. Os resultados dependem de muitos factores, têm alguma aleatoriedade. Acho que é um bocado falacioso dizer-se que nós queremos ter duas medalhas ou uma medalha nos Jogos. Todos querem ter essas medalhas, mas entender isto como um compromisso de obter esse resultado… Eu lembro-me do anterior presidente do Comité Olímpico, a certa altura, por pressão do Estado, se ter comprometido com certo tipo de resultados nos Jogos de 2008 e depois isso não aconteceu. Não foi porque as pessoas não quisessem, foi porque não havia condições para tal. Portanto, acho que o nosso grande propósito tem de ser montar e preparar uma selecção nacional, que demora 8 a 12 anos a construir. Um velejador aos 20 anos teve começar aos 8 anos para chegar a um patamar de nível de excelência internacional. Portanto, não se pode querer no curto prazo de quatro anos dar um salto qualitativo fantástico. 

Nós temos conseguido algumas menções honrosas, velejadores que têm ficado entre os oito primeiros. Medalhas, a última conquistada pela Vela foi em Atlanta (Bronze, Nuno Barreto e Hugo Rocha, Classe 470), em 1996, já lá vão 24 anos. Para trás temos muitas medalhas, mas fruto do investimento dos velejadores. Estamos a falar de uma época em que a prática da vela, em termos nacionais e mundiais, tinha um desenvolvimento muito menor e eram pessoas com mais capacidade económica e social que conseguiam ter participações olímpicas. Portanto, não é comparável, os tempos não são muito comparáveis. Nos anos mais recentes, as nossas participações olímpicas têm vindo em perda. Desde 1996 para cá, vêm em perda, ou seja, o número de participações e resultados têm caído. E não é propriamente consequência de uma menor qualidade dos praticantes. Os praticantes que vão aos Jogos não têm menos qualidade. 

CL – Qual é, então, a razão dessa quebra de resultados?

RMA– A questão é que o nível de exigência, de preparação e de nível competitivo mundial evoluiu significativamente. Hoje, por exemplo a preparação da nossa tripulação que está qualificada para os Jogos, que a única que está qualificada, os 49er (classe 49er, uma embarcação tripulada por duas pessoas), que é um modelo de barco caro, um modelo tecnologicamente bastante evoluído, aquela preparação vai ficar à Federação e ao País, que é sempre quem suporta o custo, na ordem dos 500 mil euros, que é um número elevado para uma modalidade, para qualquer modalidade, por muito dinheiro que ela possa ter. Portanto, isto é para dar uma noção de grandeza do que custa actualmente um programa olímpico. Um país que não tem assim muitos recursos e uma modalidade que não tem uma selecção nacional com diversidade e dimensão suficientes tem que saber fazer opções. O que me parece é que nos últimos 20 anos têm sido feitas opções erradas. 

CL – Quais seriam, no seu entender, as opções certas?

RMA– As opções têm sido feitas de forma errada porque a Worl Sailing (Federação Internacional de Vela) toma decisões sobre as classes de Vela que participam nos Jogos com seis anos de antecedência. Significa que o País deveria aproveitar esse período, que é relativamente grande, para se preparar convenientemente para participar nos Jogos. Acontece que, em termos nacionais, os programas de preparação olímpico têm um ciclo de vida quadrienal. Portanto, os dois primeiros anos são perdidos, não contam para o programa de preparação. E a prática tem sido no sentido de dar oportunidade a todos os velejadores que têm esse potencial para tentar obter pré-qualificações e depois qualificações nas classes de Vela para as quais se sentem mais habilitados. 

Eu defendo um caminho diferente, penso que deveriam ser feitas opções sobre classes de embarcações, onde devíamos apostar preferencialmente, sem prejuízo de que havendo situações de excepção essas também fossem contempladas. Ou seja, se eu tiver um velejador ou uma velejadora que tem uma aptidão especial para um determinado tipo de barco, faz sentido apostar. Mas do ponto de vista geral, o que faz mais sentido é, face ao nosso orçamento quadrienal, sabermos em que aplicar esse orçamento em opções que nos dêem maior possibilidade de obter resultados nos Jogos.

CL – Já referiu aqui que o programa olímpico tem pouca expressão na modalidade… 

RMA– É preciso notar-se que o programa olímpico evidentemente que é algo fundamental para uma Federação Olímpica, como é a Vela e como é uma modalidade que tem uma tradição muito grande no programa olímpico. A Vela é das modalidades nacionais com um maior historial de participações nos Jogos e de resultados e de medalhas. Portanto, tem sempre que ser um objectivo. Tem que ser prioritário, mas não é o único objectivo. Não pode ser o único objectivo e a expressão o programa olímpico tem actualmente na modalidade, infelizmente, é pequeno. Em termos práticos, vale 10-15% do programa da Federação. Ora o que eu digo é: nós não podemos deixar em ‘stand by’ os programas do desenvolvimento da prática desportiva regular, ou seja, da formação de novos velejadores, do aumento das provas de âmbito regional, da formação dos técnicos de vela, dos treinadores. É preciso ver que nós perdemos 50 por cento de treinadores nos últimos cinco anos, uma quebra significativa.

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TREINADORES COM MAIOR GRAU DE PROFISSIONALISMO 

CL – Como inverter esta situação?

RMA– É fácil. Consegue-se invertendo a estratégia. A formação dos treinadores, tal como está montada, tem um custo elevado. O perfil médio do nosso treinador é um jovem que está naquela transição entre deixar de ser praticante e ingressar no ensino universitário, e tem no treino uma fonte de rendimento para completar as suas necessidades económicas mensais. Esta é a situação da maioria dos nossos treinadores, é um ‘part-time’. Portanto, não é uma actividade que em 90/95% das vezes ele vá fazer para a vida. É algo que ele vai fazer enquanto for estudante universitário e não tiver uma actividade profissional que o ocupe a tempo inteiro.

CL – Defende um maior nível de profissionalização dos treinadores na Vela?

RMA– Esse é o objectivo final, conseguirmos ter um maior nível de profissionalização dos nossos treinadores, porque é preciso assegurar alguma estabilidade no quadro de técnicos. Além de que investir na formação e depois as pessoas estarem permanentemente a rodar é um mau investimento. A profissionalização é uma saída adequada, mas para que isso aconteça é necessário que os clubes tenham um melhor nível de actividade e aumentar o número de praticantes. Uma coisa está relacionada com a outra. Nós precisamos de ter mais praticantes na base, nos clubes, para podermos ter mais treinadores profissionalizados. E para termos mais treinadores, antes de serem profissionalizados, precisamos de ter programas de formação que sejam mais acessíveis a esses mesmos candidatos a treinadores.

Hoje, um programa de formação de treinador é suportado basicamente pelo próprio. É um investimento que não tem garantia de ser aplicado, de retorno, porque não tem nenhuma relação directa com a entidade contratante. O que nós pretendemos é contratualizar o programa de formação do treinador envolvendo três partes: a federação, que é a entidade formadora, o formando, que é o candidato a treinador, e a entidade contratante, que é o clube. Ou seja, um contrato-programa a três partes, porque a federação deverá conseguir suportar a maior parte dos custos de formação dos jovens. Basicamente, estamos a falar de jovens na faixa etária dos 20/24 anos que queiram investir naquela solução profissional, em que o custo é suportado a 80% pela federação e a 20% pelo próprio, pelo clube, pelo município, por uma solução a três destas três partes, em que o clube se obriga a empregar durante os primeiros dois anos aquele formando.

Não devemos formar pessoas para ter uma estatística engraçada com o número de formados, devemos formar pessoas para desenvolverem a sua actividade nos clubes. Portanto, o clube, ao fazer este compromisso contratualizado com a Câmara, também tem que investir na criação das condições para ter melhores praticantes e um maior número de praticantes no dia-a-dia.

CL – Existe ainda muito amadorismo ao nível dos clubes?

RMA– Basicamente existe amadorismo.

CL – O salto para a competição ainda é difícil de ser dado?

RMA– Nós na Vela não temos histórico em Portugal de competição profissionalizada, não temos nem dimensão em população nem temos um calendário de provas nacionais que permita esse tipo de profissionalização. Temos alguns velejadores, sobretudo aqueles que estão ou estiveram nos programas olímpicos e que andaram lá perto, que participam em tripulações, mas que estão fora do País. Um dos problemas de nós termos um baixo nível competitivo é que os nossos velejadores nacionais têm poucas oportunidades de participação em provas competitivas com nível internacional. Uma coisa é participar numa prova com 20 embarcações. Outra coisa é com 60 embarcações, sobretudo quando são embarcações com tripulações mais proficientes, com maior capacidade de desenvolver a sua actividade. 

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SALVAGUARDAR O PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO

CL – No manifesto da sua candidatura refere a necessidade de alcançar um equilíbrio económico-financeiro que garanta a sustentabilidade da FPV. Como?

RMA– Uma das soluções passa por alterar toda a lógica de financiamento interno da estrutura da federação. Sendo a Vela uma federação antiga, há um histórico das associações regionais terem um peso significativo no desenvolvimento da actividade desportiva federada regular. A federação tem uma prática de contratualizar, porque consta dos programas anuais, o financiamento do suporte à actividade regional, mas este suporte não é a actividade desportiva, é a actividade administrativa. O que nós pensamos é que o investimento deve ser colocado o mais perto possível do praticante e menos nas estruturas intermédias. Portanto, as estruturas intermédias são uma questão para as estruturas locais, ou seja, as associações dos clubes resolverem, não é missão da federação alimentar estruturas intermédias. 

A missão da federação é criar condições para haver mais e melhores praticantes e melhores resultados desportivos. Significa que muitos custos intermédios devem ser reequacionados. Trinta por cento do actual passivo da federação, que é de 800 mil euros, é resultante de dívida da federação às suas estruturas intermédias e é uma dívida que podia nunca ter existido, porque só existe porque foi constituída na forma de obrigações criadas voluntariamente ou acordadas entre as partes para suportar custos de estrutura que nunca foram cumpridos, porque a federação nunca teve nem nunca iria ter recursos financeiros para o fazer. Portanto, estes 30% de custos, 240 mil euros, podiam não existir como dívida. 

CL – Portanto, um equilíbrio financeiro poderá estar à partida mais ligado a controlar melhor as despesas, e não tanto em aumentar as receitas? 

RMA– São as duas vertentes.

CL – Do lado das receitas, onde é que poderia reforçar o orçamento da Federação? 

RMA– Em relação aos financiamentos, eu vou separar entre o que é o proveito da actividade desportiva regular do que é o alto rendimento, porque eu penso que devem ser sempre equacionados separadamente. Embora haja uma continuidade, o que acontece é que o alto rendimento, na minha perspectiva, tem de ser basicamente resultante de um investimento público. Ou seja, nós teremos o nível de alto rendimento que o financiamento público nos permitir obter, sendo que nós temos que ser bons gestores desse investimento. 

CL – Defende um maior investimento público na Vela? Acha que é concedido pouco apoio à modalidade por parte do Estado? 

RMA– Face àquilo que é a nossa dimensão, o apoio que existe neste momento do Estado para o alto rendimento é bastante aceitável. Penso que será necessário que cresça quando a nossa capacidade também aumentar. Não vale a pena termos muito dinheiro se não o soubermos gastar bem. Eu acho que os dinheiros públicos são finitos, meter só dinheiro num programa, não garante que o programa tenha sucesso. E no alto rendimento é isto. 

No caso de desenvolvimento da prática desportiva regular, eu penso que o nível de financiamento público, da administração central, que nós temos é suficiente. Na minha perspectiva é suficiente, porque nós temos de ser razoáveis e se nós avaliarmos o nível de financiamento que a vela tem e o compararmos com outras modalidades que são comparáveis com a vela, temos um financiamento superior. Eu não posso defender um aumento de financiamento quando ao lado eu tenho outras modalidades que têm um nível de financiamento inferior. 

O que nós precisamos é de diversificar as fontes de financiamento para o desenvolvimento da prática desportiva regular. E a diversificação passa, basicamente, por dois tipos de medidas. Um, que terá maior significado, tem a ver com o estabelecimento de relações colaborativas e de parceria com os municípios. Nós temos no Continente cerca de 50 municípios que têm potencial para o desenvolvimento da prática da Vela de forma regular, que são seis municípios marítimos, quer seja com frente marítima, quer sejam municípios com frente interior ribeirinha ou lacustre, e muitos municípios têm interesse em que os seus jovens, os seus não jovens e os mais velhos possam ter acesso à actividade náutica. 

O que acontece é que o parceiro local dos municípios, que é o clube, precisa de ser apoiado para conseguir desenvolver programas desportivos que respondam aos interesses locais. E o financiamento do clube, em vez de ser dado, como aconteceu sempre, através de pequenos subsídios da Federação, que não resolvem problema nenhum, porque não são 1.000 euros por ano que resolvem qualquer problema a um clube, podia basear-se em outro tipo de modelo.  Se um clube tiver uma relação colaborativa com o município e tiver um volume de actividade que suporte a infraestrutura, que suporte o custo do treinador, e sobre depois tempo de trabalho ao treinador, já com o custo suportado pelo município na actividade municipal, para desenvolver a sua actividade própria do desporto federado, então é uma maneira indireta de nós aumentarmos as fontes de proveitos para o desporto federado. Portanto, uma das fontes importantes de financiamento é, tenho a certeza, ou pelo menos tenho a convicção, a autarquia, ou o poder local. 

Uma segunda fonte de financiamento, mas que percentualmente será sempre bastante menor, são as fontes privadas. Contudo, é muito difícil no nosso tecido económico, constituído sobretudo de empresas de pequena, muito pequena dimensão, de poucas empresas com dimensão significativa, investirem. Além disso, as nossas provas não têm um retorno para o patrocinador apelativo, porque a visibilidade da prova é baixa e, portanto, um patrocinador não investe a fundo perdido, só investe se tiver retorno. O que interessa é termos algumas soluções locais. Eu penso que é mais por aí. Se eu tiver um programa de provas, locais e provas regionais, com que eu interesse os agentes económicos locais, onde a visibilidade local pode existir, o retorno para o financiador também será maior.

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CLUBES DEVEM SER GERIDOS COMO EMPRESAS

CL – Qual o modelo ideal de gestão para os clubes?

RMA– Um clube desportivo deve ser encarado como uma unidade de negócio. Se o clube desportivo for encarado como um negócio tem que salvaguardar o princípio do equilíbrio financeiro, ou seja, os proveitos ordinários têm de cobrir as despesas correntes. Este é o princípio base. Eu não posso estar anualmente a gerar défices, num clube ou numa federação. O facto de ser uma actividade de raiz associativa e voluntária não pode justificar que seja menos rigorosa do que uma actividade que tem fins lucrativos. Tem de ter o mesmo nível de rigor. Não digo o mesmo nível de profissionalismo, porque é desenvolvido por pessoas que podem não ter esse tipo de preparação, mas tem que ter o mesmo critério, ou o mesmo nível de exigência de rigor, portanto promover uma actividade desportiva que garanta o equilíbrio financeiro. Eu não posso atirar-me para fora de pé, a desenvolver actividades que depois geram um buraco impossível de ultrapassar. Ora muitos clubes lidam com esse tipo de problemas. 

Em segundo lugar, é necessário compreender que as soluções só podem ser implementadas e vingar de forma colaborativa. A Vela é uma modalidade que tem exigências elevadas em termos de custos de infraestrutura, de equipamentos, manutenção das embarcações…  Portanto, nós temos que promover uma prática suportada naquilo que designo como ‘Modelo de Serviços Partilhados’. Ou seja, se eu tiver uma embarcação de que o clube é o proprietário ou é o utilizador, mas que é a embarcação de formação que é utilizada na formação da escola de vela do clube, na formação do jovem que está no desporto escolar, na formação do jovem ou do adulto que está no programa do município, eu estou a utilizar os meus recursos, ou os recursos que eu tenha ao meu dispor numa óptica de gestão partilhada. 

A minha experiência profissional e formação académica e técnica levam-me a defender esta perspectiva, que não é a abordagem que os clubes têm. Os clubes têm uma abordagem que é: eu tenho que ser dono da totalidade dos meus meios e sou eu que dito as regras da utilização destes meios. É este modelo, ou este paradigma, que precisa de mudar. Penso que isto não requer mais dinheiro. Isto não implica ter mais dinheiro, implica ter outra maneira de gerir, um modelo de serviços partilhados.

CL – No seu entender, a que se deve o facto de a Vela em Portugal ser tão fechada em si mesmo? 

RMA– Talvez um dos factores se deva ao facto de ser um desporto mais antigo, nós temos uma dificuldade que é o rejuvenescimento dos dirigentes nos clubes. Hoje, as pessoas que estão na faixa etária dos 30 e tais aos 40 e tais têm pouca disponibilidade para dedicarem tempo aos clubes. Essas pessoas têm a sua vida profissional, têm família constituída… Estou a falar basicamente nos centros urbanos com maior dimensão. O dirigente do clube é quase sempre um indivíduo na casa dos 60 anos, que está naquela fase de pré-reforma ou de reforma, e, naturalmente, que é normal que as pessoas nesta faixa etária terem, digamos, concepções um bocadinho paradas no tempo, estão menos disponíveis para incorporar novas formas de organização das empresas ou dos clubes, novos modelos de treino… quer dizer são pessoas que estabilizaram numa certa forma de entender a realidade. Nós precisaríamos que as faixas etárias mais jovens, que são as faixas dos 30 aos 50 anos se quisessem dedicar mais tempo aos clubes. Mas isto não é um problema da Vela, é um problema do País. Aliás, em termos internacionais, há um estudo recente, que é de 2017, que demonstra que a disponibilidade dos portugueses para dedicarem tempo à gestão dos clubes é metade da média europeia. E este é um constrangimento grande.

CL – Seria desejável uma maior profissionalização nos cargos dirigentes dos clubes?

RMA– Eu pessoalmente defendo isso, um maior nível de profissionalização dos clubes e personalização significa ter alguém com competências e dedicado à sua realização, que seja profissionalizado, que esteja lá a tempo inteiro. Nós temos alguns casos em Portugal de clubes que têm esta solução, mas é uma minoria. Nós temos em Portugal várias licenciaturas de Gestão em Desporto. Até temos talvez demais, demasiadas escolas a oferecer este tipo de formação. Supostamente, o gestor desportivo é um licenciado com uma qualificação específica para gerir um clube. Mas se for aos clubes, encontra poucos com essa qualificação. 

Os clubes também não procuram este tipo de pessoas. É um círculo vicioso em que nós nos encontramos. Os clubes precisam, para se desenvolver, de ter um profissional com competências específicas naquele ramo, mas para o conseguir fazer têm que ter fontes de proveitos regulares que lhes permita contratar essa pessoa. Para isso, têm que ter uma visão estratégica de desenvolvimento da modalidade, têm que saber estabelecer programas desportivos de atractivos para a procura existente. E têm que saber estabelecer relações colaborativas, nomeadamente com o município onde estão instalados. Isto está tudo relacionado entre si.

CL – Esta é a sua primeira tentativa para chegar à Presidência da FPV?

RMA– É a minha primeira tentativa. 

CM – Porquê agora? 

RMA– A idade também dá maturidade, não é? E dá outra coisa, também dá alguma disponibilidade. Eu já não tenho filhos miúdos, já sou avô, tenho agora uma neta com ano e meio. E tenho actualmente esta disponibilidade, porque um cargo destes exige muita disponibilidade. E eu acho que ganhei a credibilidade dentro dos circuitos restritos onde eu me relaciono para ter conseguido convencer 27 pessoas, que constituem a minha equipa, para esse projecto. Acredito sinceramente que nós conseguimos fazer a diferença. Eu, sozinho, não consigo fazer a diferença, mas nós juntos tenho quase a certeza, tenho a convicção fortíssima, que conseguiremos fazer a diferença de maneira a ter muito mais praticantes na Vela em Portugal. Actualmente, a modalidade tem cerca de 2.000 praticantes. Nós propomos crescer 50 por cento. Eu gosto de ser razoável nas propostas, mas acredito que podemos duplicar o número de praticantes federados e não é fazer nada de transcendente. Se o nosso ponto de partida é tão baixo… E tudo isto se consegue com conhecimento, experiência e maturidade, que a vida das pessoas vai trazendo. 

Foto: Arquivo

Autor: Luís Curado

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