Vila de Sintra dá a conhecer fontes com História

No âmbito das comemorações dos 25 anos da elevação de Sintra a Património Mundial, a Câmara Municipal de Sintra (CMS) organiza ao longo deste ano vários roteiros culturais gratuitos destinados ao público em geral. Um desses roteiros incide sobre as Fontes Históricas de Sintra. Desde há vários séculos que a vila é conhecida pelas águas milagrosas que saem das suas inúmeras fontes. Em tempos idos, chegaram mesmo a fazer-se filas para beber a água destas fontes em busca de cura para as mais diversas maleitas. O historiador e técnico da divisão de cultura da CMS, João Rocha, foi o guia da visita que versou, não só sobre as fontes sintrenses, mas também sobre a História da vila e dos seus monumentos.

Foto: Paulo Rodrigues

FONTE DOS PAÇOS DO CONCELHO

Partindo do Palácio Valenças e descendo o Parque Liberdade em direcção à conhecida Volta do Duche, o primeiro ponto de paragem é a Fonte dos Paços do Concelho. Criado em 1914, este chafariz foi projectado pelo arquitecto Tertuliano Lacerda Marques tendo a execução ficado a cargo de José da Fonseca, membro da conhecida escola de pedreiros e canteiros de Coimbra e que, juntamente com Luigi Manini, edificou também o Palácio da Quinta da Regaleira. De traça neomanuelina, esta fonte de estrutura quadrangular assenta num plinto que suporta uma taça lavrada de onde parte um fuste com rendilhado vegetalista e uma bica em forma de peixe. No topo encontra-se a esfera armilar rodeada por quatro escudos que alternam entre a pedra de armas de Sintra e um pelicano com a inscrição ‘Pola Lei e Pola Grei’. À semelhança de outras fontes sintrenses, a Fonte dos Paços do Concelho está dotada de um tanque de pedra ao nível do chão para os animais beberem água.

Foto: Paulo Rodrigues

FONTE MOURISCA

Em plena Volta do Duche – assim denominada por antigamente se realizarem ali banhos públicos – encontra-se a Fonte Mourisca, também ela uma obra de José da Fonseca. Este não é, porém, o local original da fonte. A Fonte Mourisca foi construída em 1922 no local onde se encontra actualmente o Chafariz da Câmara. Em 1960, fruto das obras para alargamento da estrada, a Fonte Mourisca foi desmontada e só 20 anos depois a CMS decidiu reerguê-la colocando-a 20 metros mais adiante, sensivelmente a meio da Volta do Duche. De aspecto revivalista, característico da segunda metade do século XX, a Fonte Mourisca é inspirada no mundo árabe. 

A fachada deste fontanário apresenta um arco de ferradura dentado do qual partem outros três arcos de idêntico formato encontrando-se no centro a pedra de armas do concelho. No interior, a estrutura oval apresenta no topo uma abóboda de tijolo vermelho gomada. Ao centro, ladeado por bancos corridos de pedra, encontra-se o fontanário com uma bica de bronze que deixa a água cair num tanque oval com bordo concheado. Toda a estrutura está revestida por azulejos neo-mudéjares – cujo Palácio Nacional de Sintra tem a maior colecção do mundo – de diferentes padrões e cores.

Foto: Paulo Rodrigues

CHAFARIZ DA CÂMARA

No final da Volta do Duche, encontra-se o Chafariz da Câmara da autoria do arquitecto Vasco Regaleira. Fugindo ao característico estilo revivalista sintrense, o seu traçado contemporâneo levou a que fosse bastante criticado por não se enquadrar no romantismo do centro histórico. Esta obra simples conta com uma bica dupla cuja água verte para uma grande taça circular revestida por mosaicos azuis. Despojada de decoração, a sua simplicidade opõe-se ao rude espaldar de pedra em forma de U que a envolve, evidenciando um contraste entre o moderno e o antigo. O Chafariz da Câmara é assim denominado, pois no edifício onde se encontra actualmente o News Museum funcionou, outrora, a Câmara Municipal de Sintra.

Foto: Paulo Rodrigues

FONTE DO PALÁCIO

No topo da escadaria do Palácio Nacional de Sintra encontra-se a Fonte do Palácio. No centro deste fontanário renascentista ergue-se um pilar profusamente decorado cujo topo apresenta um castelo com cinco torres, estando a central mais elevada. Sustendo-o encontram-se quatro cabeças de golfinho que vertem água para uma taça gomada. A água transborda desta taça para um estanco circular de bordos salientes.

PALÁCIO NACIONAL DE SINTRA 

Incontornável paragem deste circuito é o imponente Palácio de Sintra. Este monumento renascentista foi mandando construir por D. João I sob uma antiga alcáçova árabe onde se erguiam os palácios dos chefes mouros. É notória a existência de duas fases na edificação do Palácio: uma primeira fase sobretudo joanina e uma segunda fase manuelina. Foi no Palácio de Sintra que nasceu e morreu o único rei sintrense, D. Afonso V, e foi também ali que foi aclamado rei D. João II, o Príncipe Perfeito. É legitimo dizer-se que na Sala dos Infantes foi dado o primeiro passo para a epopeia portuguesa dos Descobrimentos. Sob pretexto de irem até Sicília assinarem um tratado com o rei daquela ilha, D. João I enviou dois espiões para analisarem a cidade de Ceuta. Quando chegaram a Portugal, os espiões reuniram-se com D. João I na Sala dos Infantes e, recor- rendo ao uso de favas e areia ilustraram a planta de Ceuta. Numa escudela de barro deitaram areia para fazer a topografia da cidade correspondendo as favas às casas e ruas da cidade.

Local pouco visitado, as traseiras do Palácio albergam o Terreiro de Meca onde se encontra a Igreja de Espírito Santo e onde é possível observar de perto as colossais chaminés cónicas mandadas construir por D. Filipa de Lencastre no século XIV. É também ali que se encontra uma imagem da referida princesa colocada como forma de homenagem ao príncipe Carlos e à princesa Diana que por ali passaram após o seu casamento. O Palácio Nacional de Sintra é o maior palácio renascentista de Portugal.

Foto: Paulo Rodrigues

FONTE DA PIPA

Subindo a Rua das Padarias e passando a famosa pastelaria sintrense Piriquita, chega-se à Fonte da Pipa, nas traseiras do Palácio dos Ribafria. Embora a data inscrita na fonte seja 1787, a primeira referência a esta fonte encontra-se num documento datado de 1369. O ano de 1787 remonta à altura em que D. Maria I, após descobrir que a sua água estava a ser desviada para o Palácio dos Ribafria pelo seu proprietário, Marquês de Pombal, mandou refazer a fonte devolvendo a sua água à população. A obra de reedificação ficou a cargo do Dr. Francisco José de Miranda Duarte. No seu espaldar evidenciam-se quatro painéis de azulejos azuis e brancos. Nos das extremidades encontra-se, à esquerda, a Deusa Diana, representando a água e a caça, e à direita, a Justiça com a balança. Os painéis centrais representam frondosos pinheirais. O nome da fonte fica a dever-se à bica em forma de pipa de onde a água sai para cair num tanque de pedra. Reza a história que a Fonte da Pipa era uma das fontes que mais água dava à população de Sintra.

HOTEL LAWRENCE

A caminho da Fonte dos Pisões, encontra-se o Hotel Lawrence – outrora também designado por Estalagem dos Cavaleiros – construído em 1764. Desde então, passou por muitas pessoas, chegando mesmo a estar abandonado. Só na década de 90 um casal holandês pegou no edifício e, após um longo processo de restauro, fez renascer o Hotel Lawrence. Pelo Hotel passaram várias pessoas ilustres, como Lord Byron, Camilo Castelo Branco e Eça de Queiroz. O Hotel Lawrence é o mais antigo hotel da Península Ibérica e é apontado por alguns como o segundo mais antigo da Europa.

FONTE DOS PISÕES

Assim denominada por se encontrar junto da Quinta dos Pisões, esta fonte foi edificada em 1931 pela Comissão de Iniciativa do Turismo de Sintra, a partir de um projecto de José da Fonseca. Este fontanário desenvolve-se a partir de uma estrutura semicircular no qual se encontram bancos corridos de pedra decorados com motivos geométricos. No centro destaca-se um grande círculo de azulejos coloridos – provenientes da desaparecida fábrica de cerâmica Constância – com dois anjos, um dos quais carrega uma bilha de água em homenagem à água de Sintra. A bica liberta a água para uma taça rectangular gomada que, por sua vez, a deixa verter para um tanque mais abaixo destinado aos animais. Da fonte avista-se o Chalet Mont-fleuri adquirido recentemente pela CMS.

Foto: Paulo Rodrigues

FONTE DA SABUGA

A meio caminho entre a Fonte dos Pisões e a Fonte da Sabuga encontra-se o largo Ferreira de Castro, assim denominado por ser o local onde o escritor gostava de passar tempo sentado de frente para o antigo Hotel Vítor, propriedade de Vítor Carlos Sassetti. Este hotel é referido em várias obras literárias, das quais se destacam ‘A Queda de um Anjo’, de Camilo Castelo Branco, e ‘Os Maias’, de Eça de Queiroz. Nesta última, são referidas as corridas de burros que se faziam entre o Hotel e o Palácio de Seteais.

Considerada uma das mais emblemáticas fontes de Sintra, a Fonte da Sabuga foi alvo de várias modificações ao longo do tempo. A primeira foi ordenada pela rainha D. Luísa de Gusmão, que acreditava no poder de cura da água daquela fonte. Após o terramoto de 1755 – que destruiu quase dois terços de Sintra – a Fonte da Sabuga foi alvo de uma reestruturação que durou cerca de dois anos. Desde então, a estrutura arquitectónica da fonte manteve-se praticamente inalterada até aos dias de hoje. É composta por três paredes – cuja pintura contrasta entre o azul e o amarelo – e duas bicas que vertem água para um grande tanque de pedra. Na década de 20, a água da Sabuga chegou a ser co- mercializada e, não há muito tempo, faziam-se filas para recolher esta água.

Autor: Raquel Luís

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