Estudantes de Oeiras com a cabeça no Espaço

Uma equipa de seis alunos do 12.º ano da Escola Secundária Sebastião e Silva, de Oeiras, vai poder colocar uma experiência científica a bordo da Estação Espacial Internacional. Fique a saber tudo na edição de Maio do jornal ‘O Correio da Linha’.

Um ensino de excelência que consiga estabelecer uma ponte entre a vertente teórica e o uso prático do que se leccionou deixa os alunos mais perto de uma futura vida profissional dentro das áreas das suas preferências. Apesar da lógica comprovada desta ideia nem sempre se verifica uma aproximação a esta necessidade, que tantos benefícios podia trazer ao País. 

Neste domínio, a Escola Secundária Sebastião e Silva (ESSS), de Oeiras, tem contrariado as tendências de um Ensino tantas vezes de costas voltadas para a realidade do mercado de trabalho com uma aposta decidida em fazer diferente. Ao longo dos últimos anos, vários estudantes deste estabelecimento de ensino público têm atingido resultados muito positivos em concursos internacionais de Ciência.

Em 2016, três alunos do 11.º ano, Carlota Fernandes, Diogo Repas e Nelson Rebelo, conquistaram o primeiro lugar na categoria pioneiros do concurso internacional ODYSSEUS II, realizado em Bruxelas, com um robot a pensar na exploração de Marte. Este ano, uma equipa de seis alunos do 12.º ano viu o seu projecto seleccionado para colocar uma experiência científica a bordo da Estação Espacial Internacional (EEI) para mostrar a relatividade do movimento desta em relação à Terra. 

Em ambos os casos, há um denominador comum por detrás do êxito alcançado: a orientação da professora Cristina Pinho, que lecciona na ESSS desde 2015. Esta docente de Física e Química A e Física do 12.º ano não esconde o orgulho de ver os seus alunos brilharem em concursos internacionais exigentes onde só os melhores vêem os sonhos concretizados.

“HÁ ALUNOS MUITO INTERESSADOS NESTAS ACTIVIDADES”

Correio da Linha (CL) – Tanto em 2016 como agora, os alunos que participaram nos dois concursos internacionais foram orientados por si. O que sente ao ver estes jovens atingirem patamares de excelência?

Cristina Pinho (CP)– É uma satisfação muito grande ver os alunos bem-sucedidos na vida e em termos académicos. Durante o ano do concurso foi uma luta e ao mesmo tempo um prazer vê-los crescer cada vez mais. Recentemente, Carlota Fernandes, Diogo Repas e Nelson Rebelo ganharam outro prémio, agora como alunos do Ensino Superior.

CL – O que leva a Escola Secundária Sebastião e Silva a apostar neste tipo de iniciativas?

CP – Está relacionado com o encontro de pessoas, alunos e professores no momento certo. No caso do Odysseus II, li o email sobre o concurso na turma e logo ali houve alunos interessados em participar.

CL – Tem sido fácil estimular os alunos a participarem neste tipo de concursos? O que é preciso para os sensibilizar? Quais os temas por que mostram mais interesse?

CP – Há alunos que sabem destes concursos, estão atentos e procuram depois o professor mentor. Em outros casos, os alunos são alertados para isso e acabam por aderir. Na população da ESSS há alunos muito interessados nestas actividades. E vai haver sempre. 

CL – O Espaço tem sido um tema recorrente nas iniciativas em que os seus alunos têm participado? Porquê?

CP – As Ciências Espaciais conseguem ter um efeito muito especial em todos os alunos de todas as áreas. As videoconferências com astronautas têm tido muita adesão e mostram bem o interesse dos alunos nesta área.

“ESTAMOS A CAMINHAR PARA UMA MUDANÇA”

CL – O nosso Ensino é excessivamente teórico?

CP – Já foi mais. Estamos a caminhar para uma mudança, em que se pretende envolver cada vez mais os alunos em projectos que resultem do desenvolvimento de várias competências.

CL – Como vê a vertente prática no Ensino? A possibilidade de os alunos poderem pôr à prova o que aprenderam?

CP – Creio que esse é um dos principais objectivos do Ensino, a aplicação do que se aprende em situações novas. E é nessa vertente que gosto de trabalhar.

CL – O que distingue a Escola Secundária Sebastião e Silva dos demais estabelecimentos de Ensino Público? Há nesta escola uma maior aposta no desenvolvimento do espírito científico dos jovens?

CP – A ESSS é uma escola muito aberta à comunidade, onde as visitas de estudo, o contacto com cientistas, quer presencialmente quer virtualmente, através do Skype, por exemplo, é fortemente apoiado pela Direcção da Escola, que considera que o contacto com quem faz Ciência é muito importante para os alunos.

“ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS ESTÃO MELHOR PREPARADOS”

CL – As escolas públicas são piores do que as privadas no investimento feito para uma adequada formação dos jovens, como alguns defendem?

CP – De maneira nenhuma. Segundo algumas notícias publicadas em vários meios de Comunicação Social, as universidades consideram que os alunos provenientes de escolas públicas estão melhor preparados.

CL – A Física e a Química são matérias com que os alunos nem sempre lidam bem, em que costumam sentir dificuldades? Porquê? Há forma de alterar este tipo de situação?

CP – Continuo a achar que se os alunos conseguirem perceber as aplicações e implicações de determinadas descobertas científicas e tecnológicas querem ir mais longe e, desta forma, muitos deles conseguem atenuar as dificuldades através de algum trabalho autónomo que os faz chegar mais longe. 

CL – Os jovens portugueses têm aptidão para a Ciência?

CP – Sem dúvida que sim, mais do que eles próprios julgam ter. São curiosos e quando motivados vão mais longe nas suas pesquisas.

CL – Projectos futuros que esteja a considerar desenvolver?

CP – O Programa de Voluntários/Monitores para a sala de Robótica do 1.º Ciclo é sem dúvida uma das grandes apostas do Clube de Ciência Viva na Escola, entre outras. E continuar sempre a apoiar os alunos que pretendem apresentar candidaturas a concursos nacionais e internacionais.

EXPERIÊNCIA A BORDO DA ESTAÇÃO ESPACIAL INTERNACIONAL

Uma equipa de seis alunos do 12.º ano da Escola Secundária Sebastião e Silva, de Oeiras, viu realizado o sonho de ver o seu projecto seleccionado para colocar uma experiência científica a bordo da Estação Espacial Internacional (EEI). 

Os jovens estudantes oeirenses conseguiram chamar a atenção para a sua experiência no European Astro Pi Challenge, um concurso internacional de âmbito europeu, que resulta de uma iniciativa da ESA Education – Agência Espacial Europeia em colaboração com a Raspberry Pi Foundation.

David Afonso, David Dantas, David Nabeiro, Henrique Fonseca, Rodrigo Estrela e Tomás Gonçalves, os seis estudantes que frequentam a Escola Secundária Sebastião e Silva, com idades entre os 17 e 18 anos, foram seleccionados entre alunos de 25 países europeus associados da ESA.

A experiência desenvolvida pelos jovens portugueses consiste na obtenção de dados que possam mostrar a relatividade do movimento da EEI em relação à Terra. A partir de um algoritmo em Python a equipa pretende, através de fotografias tiradas na EEI, calcular a velocidade relativa entre a Estação e o nosso planeta para comprovar a relatividade do movimente entre dois corpos. 

A ideia de participarem no concurso Astro Pi surgiu da parte de Henrique Fonseca. Foi ele que descobriu o concurso online quando pesquisava sobre outros concursos e ficou interessado no desafio de planear uma experiência científica e de programar um algoritmo. Decidiu, portanto, falar com alguns colegas sobre esta oportunidade e, juntamente com a Professora Cristina Pinho, acabou por reunir os seis elementos que formam a equipa cos(π) – Coding of Space.

Os astronautas Alexander Gerst (ESA) e David Saint-Jacques (Agência Espacial Canadiana), embaixadores da edição de 2018/2019 do European Astro Pi Challenge, vão acompanhar e supervisionar os programas dos participantes, enquanto estes executam e recolhem dados científicos. Os algoritmos desenvolvidos por cada equipa são executados nos Astro Pi que estão a bordo da EEI durante os meses de Abril e Maio. Os dez vencedores do concurso serão divulgados a meio do mês de Junho.

Autor: Luís Curado

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