A Revolução dos Cravos 45 anos depois

Assinala-se este ano o quadragésimo-quinto aniversário do 25 de Abril, a revolução tranquila que veio oficializar o fim de uma ditadura em fim de ciclo e instaurar um novo regime que haveria de ser democrático após alguns sobressaltos que chegaram a causar sérias inquietações quanto ao futuro do País. Para a História, ficou o nome simbolizado por um gesto que perdurou na memória colectiva de um povo ávido de liberdade. Um cravo vermelho enfiado no cano de uma espingarda acabou por baptizar a transformação política ocorrida em Portugal como a Revolução dos Cravos.

Hoje, volvidas gerações desde que Salgueiro Maia e os capitães de Abril avançaram para as ruas depois de passar na Rádio Renascença “Grândola, Vila Morena”, cantiga proibida de Zeca Afonso feita senha para os militares golpistas, a Revolução dos Cravos continua a ser encarada como uma ideia romântica de mudança de regime. Podemos dizer que, apesar de todas as dificuldades que o País enfrentou e continua a enfrentar, Portugal ganhou dimensão além-fronteiras, passou a estar de peito voltado para a Europa e deixou de lado a velha arrogância do “orgulhosamente sós” que mantinha a Pátria amarrada ao passado de costas voltadas para o desenvolvimento.

Volvidos 45 anos depois do 25 de Abril, continuamos a festejar a data que veio marcar presença na toponímia nacional. Poucas são as localidades de pequena, média e grande dimensão que não possuam uma praça ou avenida 25 de Abril e até temos uma ponte sobre o rio Tejo que foi rebaptizada com a memória dessa data, substituindo o nome do antigo ditador António Oliveira Salazar, que caiu de uma cadeira no forte de Santo António da Barra, no Estoril, a 3 de Agosto de 1968, precipitando a decadência do regime ditatorial do Estado Novo, com Marcello Caetano a assumir as rédeas do poder, cujo fulgor perdia gás.

MILITARES E POPULAÇÃO UNIDOS NAS RUAS

Ainda com Marcello Caetano à frente dos destinos de um País cansado de guerras coloniais indesejadas e inconsequentes, o regime ditatorial do Estado Novo acabou por sucumbir, incapaz de reagir à sede de mudança exigida por um movimento político e social liderado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA). Rapidamente, a população reagiu e saiu à rua para acompanhar de perto os passos dados pelo movimento golpista. Foi a força da multidão e a tenacidade dos capitães de Abril, que não recuaram nos seus propósitos, que acabaram por empurrar o País para uma transição há muito desejada. 

Um dos episódios decisivos da revolução acabou por ocorrer no Largo do Carmo, bem no coração de Lisboa. Após trocas de tiros com elementos da DGS (Direcção-Geral de Segurança, que substituiu a PIDE-Polícia Internacional e de Defesa do Estado), o chefe do governo Marcello Caetano rendeu-se aos militares revoltosos abandonando as instalações do Quartel da GNR dentro de um blindado Chaimite. A revolução atingia os seus propósitos com o povo a festejar nas ruas essa conquista. Portugal dava os primeiros passos numa nova etapa da história do País, que haveria ainda de enfrentar alguns perigos antes de conquistar uma democracia por inteiro.

Apesar de se ter rendido, Marcello Caetano não quis entregar o poder directamente aos elementos do MFA, pelo que resolveu fazê-lo ao General António de Spínola, que não fazia parte daquele movimento militar. Segundo argumentou o último dirigente do Estado Novo, para que “o poder não caísse na rua”. Depois disso, Marcello Caetano seguiu para a Madeira e daqui para o exílio no Brasil, onde veio a morrer a 26 de Outubro de 1980. Quanto a Spínola, acabou por ser nomeado Presidente da República, a 15 de Maio de 1974, enquanto o MFA confiava os desígnios do País a uma Junta de Salvação Nacional.

Neste período, Portugal mergulhou numa fase de grande instabilidade política e de agitação social e militar, que ficou conhecida como PREC (Processo Revolucionário em Curso). Um período que dividiu a sociedade e o País, marcado por constantes manifestações, ocupações, nacionalizações, governos provisórios e confrontos militares. Ultrapassada esta fase conturbada pós-revolução com o 25 de Novembro de 1975, uma tentativa de golpe militar protagonizada pelas forças políticas mais radicais que acabou por fracassar e acabar com a influência que estas exerciam sobre o País, Portugal pôde finalmente avançar para uma democracia pluralista baseada na nova Constituição de 25 de Abril de 1976. Cumpria-se assim a tão desejada Liberdade.

Autor: Luís Curado

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